A F360, plataforma de gestão financeira para pequenos e médios lojistas no modelo software as a service (SaaS), está começando a conectar os dados bancários dos clientes via Open Finance, vai lançar antecipação de recebíveis, prevê expandir em 50% a base de clientes e espera faturar R$ 37 milhões em 2023, o que significaria crescer 48% em relação a 2022, quando a receita bateu R$ 25 milhões.
“Nosso plano é aumentar a base de maneira expressiva, chegando a 15 mil pontos de venda até o fim do ano”, revela Henrique Carbonell, CEO e fundador da F360, em entrevista exclusiva ao Finsiders.
Atualmente, a fintech atende mais de 400 marcas que, juntas, reúnem debaixo do seu guarda-chuva aproximadamente 10,5 mil PDVs. Na relação de clientes estão nomes conhecidos como Arezzo, O Boticário, Chilli Beans, Óticas Carol, entre outros.
A maioria dos players que usam as soluções da F360 atua no setor de franquias que é, inclusive, a origem de Henrique e seu pai, Fernando — franqueados d’O Boticário. Foi ao perceber, em 2013, que não havia uma plataforma de gestão financeira para esse público que a dupla decidiu montar a então Finanças 360º, fundada em 2014. “Todo o processo financeiro era feito em Excel e os pequenos e médios varejistas eram carentes de soluções de back office”, conta o empreendedor.
Atualmente, é grande a representatividade da empresa no franchising. Segundo Henrique, 10% do faturamento do setor passa pela plataforma da F360 — no ano passado, por exemplo, o mercado de franquias faturou mais de R$ 211 bilhões, conforme dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF). “Somos fortes em franquias até por uma estratégia de crescimento. Agora estamos olhando para determinados sub segmentos dentro do varejo.”
Por meio de parcerias com associações, entidades de classe e softwares de PDVs, a fintech vem avançando em outros nichos de atuação, como academias, redes de estacionamento, pet shops e marcas de varejo próprias.
Open Finance e antecipação de recebíveis
Agora, além de controle automatizado do fluxo de caixa, conciliação de cartões e integração com Sefaz para buscar notas emitidas por fornecedores, a F360 está mergulhando no universo do Open Finance – por etapas. O primeiro passo será oferecer a conexão com contas bancárias, automatizando um processo de captura de extrato que hoje é realizado de forma manual pelos clientes. Para fazer isso, a empresa fechou uma parceria com a fintech Pluggy, de soluções de Open Finance.
“Estamos com cerca de 400 contas conectadas, desde o fim do ano passado. Agora aumentamos a oferta para uma base restrita e a tendência é abrir para 100% dos clientes em breve”, conta Henrique. Trata-se de uma ferramenta bastante útil para a gestão financeira de pequenos lojistas que costumam ter, em média, 2 contas e meia, conforme pesquisa interna feita pela própria F360. “O passo seguinte é oferecermos ‘DDA’ para ter a iniciação de pagamentos dentro da nossa plataforma”, diz o empreendedor, sem abrir detalhes sobre essa etapa do projeto.
Outra iniciativa, atualmente em fase de piloto, é a entrada no mercado de antecipação de recebíveis, por meio de um acordo com a CreditCorp. A ideia é ter outros parceiros, numa proposta de marketplace, diz Henrique. “Estamos validando a tese, fazendo as primeiras operações, para depois evoluir e ter essa oferta dentro da plataforma”, afirma ele. Pesa a favor o fato de a F360 ter a visão do fluxo de caixa performado e orçado dos varejistas. Além disso, a solução da fintech tem integração com mais de 250 PDVs e 150 adquirentes.
Questionado sobre agregar produtos e serviços bancários em sua solução de gestão, o fundador avalia que o mercado, principalmente o de pessoas jurídicas (PJ), “não está pronto” para isso. Ele se refere a uma tendência que une os serviços de gestão empresarial (ERPs) com soluções de banking, uma estratégia adotada por players como Totvs (que tem acordo com Itaú), Omie (com a compra do banco digital Linker) e Stone (que adquiriu a Linx). “Isso não significa que nunca teremos conta dentro do F360”, diz o empreendedor.
No curto e médio prazo, a estratégia da fintech está calcada na combinação do potencial do Open Finance com o uso de inteligência artificial (IA), principalmente com foco no contas a pagar. “Nosso foco é automatizar processos para que o cliente foque na tomada de decisão”, destaca Henrique. Outro plano, este para o segundo semestre, é lançar um produto voltado para contadores. A ideia, diz o CEO, é entregar “eficiência operacional” também para o contador dos seus clientes.
Fundada há nove anos, a F360 levantou seu primeiro aporte em 2021, ao receber R$ 50 milhões em uma rodada liderada pelo fundo de Venture Capital especializado em varejo HiPartners e pela gestora HIX Capital. “Sempre tivemos um olhar de eficiência muito grande”, afirma o CEO, citando que a empresa atingiu o ‘breakeven’ cedo e se tornou um negócio gerador de caixa.
Mercado
Não faltam exemplos de startups e fintechs dispostas a melhorar a gestão financeira de pequenas e médias empresas (PMEs). Um caso é a novata Kolek, que também bebendo da fonte do Open Finance. Outro nome, este com mais tempo de estrada, é a catarinense Asaas, que tem o inovaBra Ventures — fundo do Bradesco — entre os investidores.
Porém, há quem esteja desistindo do mercado brasileiro. Em setembro de 2022, a norte-americana Intuit optou por desativar um dos seus principais produtos no Brasil, o QuickBooks, sete anos depois de ter desembarcado no país com a aquisição da ZeroPaper, software de gestão financeira para PMEs.
Na visão de Henrique, da F360, um dos principais diferenciais de seu negócio é ter uma plataforma de gestão financeira com foco apenas em empresas do varejo. “A dor de um varejista é completamente diferente de um prestador de serviços.”
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