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Aos poucos, o Open Finance começa a mostrar a que veio. Um exemplo disso são as soluções de gestão financeira empresarial (BFM, na sigla em inglês). O Itaú Unibanco — que tem mais de 600 pessoas diretamente envolvidas com o assunto Open Finance — colocou no ar há cerca de uma semana um produto do tipo para seus mais de 2 milhões de clientes pessoa jurídica (PJ).
A informação foi dada por Carlos Carneiro, head de Open Finance, corporate financial management solutions, crypto payments e news business do banco, durante um painel nesta quarta-feira (10) na Arena Fintech, no Febraban Tech, evento de tecnologia bancária organizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
“Temos hoje um produto de BFM. Na linha de MVPs, fizemos muitos testes, com participação de clientes”, contou. Segundo o executivo, a ferramenta hoje permite aos clientes PJ visualizarem saldos e limites em diferentes instituições financeiras, desde que haja, claro, o consentimento para o compartilhamento dos dados. “Com o tempo, a ideia é entregar novas features, como fluxo de caixa projetado, insights para gestão do negócio.”
Para ele, o Open Finance é uma agenda transformacional e funcionará como uma nova forma de fazer negócios. O executivo enxerga, principalmente, três camadas: agregação de dados, insights a partir dessas informações e iniciação de transações de pagamento. “Imagine num ambiente ver todos os dados, ter insights e movimentar quaisquer contas. Essa é nossa ambição. No final das contas, essas soluções têm por vocação liberar o empresário para fazer a gestão do negócio dele”, afirmou.
Na avaliação do especialista, o Brasil vai se tornar — se é que já não está se tornando — uma referência em Open Finance. “E a adoção tem sido rápida por três motivos: escopo mais amplo em relação a outros países; maior predisposição dos brasileiros em compartilhar dados, desde que tenham algum benefício; e o papel do regulador, já que o Banco Central (BC) visitou outras geografias para aprender com as experiências de outros países”, comentou.
Na iniciativa brasileira, da qual participam cerca de 800 instituições financeiras, já foram atingidos 5 milhões de consentimentos de clientes para compartilhamento de dados. “Vamos nos tornar, se é que não somos já, um benchmarking global”, disse Carlos. “Levando em consideração a população economicamente ativa, a adesão ao Open Finance no Brasil já é 4 vezes mais rápida do que no Reino Unido.”
Em fase ‘beta’
Para Albert Morales, diretor-geral da Belvo no Brasil, a implementação do Open Banking por aqui guarda semelhanças com a criação de produtos, que costuma ser gradual.
“Estamos numa situação em que o ‘produto’ já está pronto, mas em fase beta. Mas o Open Banking já é funcional, e vimos um grande progresso nos últimos 12 meses. Precisamos melhorar alguns aspectos técnicos, como jornadas de consentimento dos usuários, dados que ainda não estão padronizados instituição por instituição. Mas esperamos que ocorram melhorias nos próximos 6 a 12 meses.”
O executivo conta que a Belvo vem ajudando diversas instituições a entrar no jogo. Segundo ele, o principal desafio não é o acesso ao dado ‘per si’, mas como essas informações serão usadas para gerar benefícios para os clientes. “Vamos assumir que o Open Banking esteja funcionando bem nos próximos 6 ou 12 meses. Aí o grande desafio é como vou usar os dados dentro de casa”, comentou. “Vai ter uma especialização nos bancos em como usar esses dados, desde crédito, cash management, cartões.”
O mercado está engajado para que o Open Banking, e sua evolução Open Finance, seja bem-sucedido em suas expectativas. “Estamos construindo o maior projeto do mundo. É natural que instituições se voltem para infraestrutura básica e vão testando funcionalidades básicas, para ir experimentando. O que posso dizer é que temos um mercado engajado”, afirmou Márcio Alexandre, superintendente de governança de TI e segurança cibernética do Sicoob — o executivo também é um dos integrantes do Conselho Deliberativo do Open Banking.
As oportunidades são diversas em mercados como crédito, seguros e investimentos, concordam os executivos. Nesse último, por exemplo, há um volume de cerca de R$ 2 trilhões investidos atualmente em poupança e CDBs nos bancos, que se tornarão “visíveis” às instituições aptas ao consumo de dados do Open Finance, conforme estudo recente da consultoria italiana BIP, mencionado por Márcio em sua fala. “Tem muito por vir, então. Em breve, vamos ver um ambiente competitivo muito grande em todas as indústrias.”
Com a padronização dos dados, o ‘game changer’ em investimentos será a portabilidade, um procedimento que hoje é extremamente burocrático e complicado de ser feito. “Hoje, a experiência de portabilidade dos investimentos é horrível. A padronização dos dados para investimentos vai permitir que tenhamos uma melhora significativa na experiência”, disse Guilherme Assis, cofundador e CEO do Gorila, fintech de consolidação de investimentos.
Ele enxerga já um amadurecimento das instituições, apesar dos desafios de sistemas legados para possibilitar a troca de informações. “Hoje, os papos estão melhores com as grandes instituições do que quando começamos. ainda vamos ver novas experiências, mas incipientes, nos próximos 6 a 12 meses. E provavelmente daqui a dois anos, poderemos ver o potencial total do Open Finance no Brasil.”
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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.
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