Fintechs ampliam fatia na base de inadimplentes, mostra Serasa

Serasa aponta que cresceu 129% a contribuição das fintechs nas movimentações de inclusão e exclusão de dívidas na base de inadimplentes

Historicamente, o combo inflação elevada, juros altos e instabilidade econômica formam a ‘tempestade perfeita’ para o aumento da inadimplência no país. Foi assim em 2021 e 2022, quando a quantidade de consumidores inadimplentes chegou a 64 milhões e 69,4 milhões em dezembro de cada ano, respectivamente — no final de 2020, os devedores brasileiros eram 61,4 milhões. Os dados são da Serasa Experian.

Com o crescimento do crédito concedido por fintechs e bancos digitais, naturalmente a participação desses players também tende a aumentar no cadastro de inadimplentes. É como diz aquela velha máxima do mercado de crédito: “Conceder um empréstimo é fácil, difícil mesmo é receber o dinheiro de volta.”

Em estudo divulgado nesta segunda-feira (13), a Serasa Experian mostra que a participação das fintechs e bancos digitais na base de inclusão e exclusão de dívidas apresentou crescimento de 129% entre setembro de 2019 e o mesmo mês do ano passado, passando de 1,6% para 3,6%.

Segundo o diretor de serviços de crédito da companhia, Alex Franco, é possível extrair duas conclusões principais do levantamento. A primeira é que, após o impacto da pandemia afetar a capacidade de pagamento dos usuários, já há em curso uma retomada na recuperação do crédito devido.


A segunda é que, como os bancos digitais e fintechs são considerados pilares importantes para o aumento do nível de inclusão financeira, é natural o crescimento na base de inadimplentes.

“Você começa a observar que as empresas, focadas na melhor experiência do consumidor, percebem que jogar o jogo do risco de crédito e da cobrança não é tão simples. É uma acomodação natural de ajustes nas políticas para adequar a inadimplência”, diz Alex, em conversa com o Finsiders.

O executivo explica que a primeira fase dos ‘neobanks’ estava focada em encontrar lacunas para disponibilizar melhores experiências e usabilidade aos clientes. Agora, diz ele, não é mais só uma questão de oferta, mas de uma política de crédito personalizada às características de cada pessoa, com modalidades inovadoras que estavam fora do radar dos ‘bancões’.

“Estamos usando a modalidade de crédito rotativo. Mas será que funciona para todo mundo? Ou é melhor trabalhar com o BNPL (‘buy now, pay later’) para uma compra? De repente, vale ter a primeira parcela para reduzir fraudes ou na aplicação de crédito para informais”, diz. “É possível ajustar a modalidade de crédito para a pessoa, em que ela paga a fatura e vai criando um histórico junto à instituição financeira”, prossegue.

Performance apurada

Em outro recorte do estudo da Serasa Experian, fica claro que as fintechs e bancos digitais melhoraram a performance na recuperação de crédito durante o último ano. Em 2019, 68,6% das dívidas negativadas foram recuperadas. Com a pandemia, esse patamar teve uma queda acentuada, chegando a 46,8% e 29,4%, em 2020 e 2021, respectivamente. Em 2022, o desempenho ficou em 49,8%.

Como há quase 70 milhões de negativados na praça, será necessário pensar em estratégias não apenas na recuperação da dívida, mas na recuperação do cliente, o que impacta diretamente na economia brasileira, avalia o diretor da companhia.

Ele coloca alguns exemplos sobre como colocar isso em prática. “Eu não vou aprovar em um produto para pagamento na frente, mas a vida da pessoa continua, ela está trabalhando, tem renda. Posso criar mecanismos para reincluir o histórico dela ao parcelar no longo prazo olhando para o fluxo de caixa. Não vou aplicar um limite de crédito, mas consigo aprovar o parcelamento de uma compra”, diz Alex.

Com esse processo, é possível criar um histórico financeiro do usuário, e disponibilizar uma quantia maior de recursos pouco a pouco, conforme as suas necessidades futuras, por exemplo.

Score de crédito

Um terceiro ponto do levantamento esclarece que as empresas já lançam mão de ferramentas para ter um processo mais acurado — algo importante em meio ao cenário mais restritivo. Entre 2021 e 2022, a utilização do score da Serasa Experian pelas instituições financeiras na oferta de crédito teve crescimento de 92%, seguindo uma tendência nos birôs de crédito espalhados pelo país.

Por outro lado, o uso de plataformas de automação de decisão para o mesmo fim apurou alta de 52% no mesmo período, enquanto as soluções de cobrança subiram 11%. Neste sentido, o executivo aponta que o crescimento do uso do score é seguido de uma evolução qualitativa dos dados.

“A adoção dos scores aumenta e a sofisticação, também. O uso de dados alternativos, como de companhias financeiras, de telecom e utilities, somando aos dados tradicionais (consulta e cadastro positivo ou negativo), trazem informações para gerar um modelo mais assertivo, porque as empresas assumem mais risco para dar crédito”, afirma.

Com o Open Finance, essa evolução pode mudar de patamar com a inclusão de dados da conta corrente dos clientes. “Acaba sendo mais uma fonte importante para somar aos dados tradicionais.”

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