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Fintechs de crédito imobiliário avançam com juros baixos, demanda alta e oferta de novos produtos

Maria Teresa Fornea Caron, da Creditas
Maria Teresa Fornea Caron, da Creditas

Denise Ramiro

Taxa básica de juros nos menores patamares da história, custo do crédito imobiliário abaixo de 7% ao ano e demanda aquecida. Esse cenário é transformador para os negócios do setor e está no foco dos investidores. A Hiperdados, startup do ramo imobiliário, acaba de realizar a primeira captação, no valor de R$ 1,9 milhão, em rodada realizada pela plataforma de investimentos CapTable. A oferta despertou o interesse de 449 investidores que se tornaram sócios da startup, com investimentos a partir de R$ 1 mil. O CEO da Hiperdados, Wagner Dias, explica que investirá 56% do aporte captado em marketing e vendas, 42% em tecnologia e 2% em ativos fixos, como a aquisição de equipamentos.

A Inco, fintech de soluções financeiras e de captação do setor imobiliário, bateu novo recorde em uma de suas operações, conseguindo atingir R$ 2 milhões em 15 minutos de crowdfunding com a participação de 183 investidores, totalizando R$ 45 milhões em investimentos e mais de 1.500 investidores ativos desde sua criação, no final de 2018. A Bloxs, plataforma de investimentos alternativos, lançou em abril a Bloxs Capital, área voltada para investidores de maior fôlego como single family offices, multi family offices e gestores de patrimônio; espera realizar R$ 1 bilhão em operações captadas nos segmentos de real estate, energia renovável, agronegócios e saúde até 2023. 

A CrediHome, plataforma online de soluções de crédito com garantia do imóvel, registrou volume de financiamentos de R$ 612,3 milhões no primeiro trimestre, três vezes superior ao apurado no mesmo período de 2020. O montante já corresponde a 50% do volume apurado no ano passado, que chegou R$ 1,2 bilhão.

Depois de apresentar o melhor resultado em concessões de financiamento habitacional em 2020, o setor imobiliário deve ofertar R$ 160 bilhões este ano, avançando mais 27%, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Com o aquecimento do setor, novas modalidades de crédito chegam ao mercado. Uma das mais promissoras é o Crédito com Garantia de Imóvel (CGI), operação na qual o tomador pode levantar até 60% do valor do imóvel, com juros menores e prazos alongados. 

O crescimento da demanda por crédito com garantia do imóvel vem da necessidade de as pessoas se adaptarem à nova realidade imposta pela pandemia, como o home office – que parece ter vindo para ficar -, ou ainda de pequenos e médios empresários que precisam de capital de giro, trocando uma dívida cara por uma mais barata. 

“Brasileiro é patrimonialista, além disso tem a cultura de deixar todo o dinheiro em um único banco. Com o Open Banking e as fintechs, as pessoas agora estão se interessando mais por finanças e novas proposta”, diz Maria Teresa Fornea Caron, VP de Home Equity da Creditas, plataforma líder de crédito e soluções financeiras 100% online na América Latina. Segundo ela os empréstimos na Creditas com garantia em imóvel devem dobrar até o final do ano. A vantagem para o tomador, segundo ela, é a redução do custo da parcela da dívida em cerca de 80% e o alongamento dos prazos de pagamento de até 36 meses (capital de giro) para 20 anos. “A escassez do crédito no Brasil é porque ele é caro e curto. Crédito saudável é barato e longo”, avalia. Desde o início das operações, a fintech já recebeu aportes de fundos de capital de risco internacionais de mais de US$ 570 milhões.

Com a expertise de quem montou o Shoptime, IBest e Brandsclub, Paulo Humberg hoje comanda a Keycash, fintech que usa inteligência artificial para oferecer crédito com garantia de imóvel. Depois de dois anos estudando o mercado imobiliário, em 2020 encontrou um mercado com potencial enorme, mas com pouca mobilidade e burocratizado – ao mesmo tempo que inicia processos modernizantes, como é o caso da digitalização dos cartórios no Brasil. “No início da pandemia fizemos uma venda totalmente pela internet”, comemora Humberg. No primeiro ano de operação, a Keycash movimentou R$ 150 milhões em operações de crédito em 2020 e pretende dobrar o volume neste ano. Até aqui, a fintech opera com capital próprio, mas admite que parceiros são bem-vindos. 

Outra plataforma de crédito imobiliário que opera com capital próprio é a mineira CrediHabitar. Ela entrou no mercado em novembro de 2018 e ainda não viu crise pela frente: encerrou o ano passado com mais de R$ 700 milhões em créditos contratados. A CrediHabitar trabalha com 1.000 parceiros, que são assessorias imobiliárias e imobiliárias, e três bancos (Santander, Itaú e  Bradesco). “Oferecemos agilidade ao comprador, remuneração mais justa aos parceiros, que podem dobrar sobre a dos bancos tradicionais; a nossa receita é a comissão das instituições financeiras “, diz Jaime Chiganças, COO do grupo, que comandou por mais de duas décadas a área de crédito imobiliário nos bancos Nacional, HSBC e Bradesco.

Outro produto da família CrediHabitar é o crédito com garantia do imóvel, que Chiganças vê como um produto de grande potencial. Segundo ele, o brasileiro não tem ainda a cultura de usar o imóvel como opção de reduzir o custo do crédito e aumentar o prazo. “É um crédito que ainda tem procura quando a pessoa está quebrada, mas queremos mostrar que ele pode usar a modalidade para saldar dívidas ou expandir negócios com juros na casa do 1% ao mês.”  A legislação brasileira, explica Chiganças, torna o produto mais amigável para o consumidor. “A pessoa que dá o imóvel como garantia, se não pagar a dívida, não perde todo o imóvel, mas no máximo 60% do valor dele, que é o teto permitido pelo Banco Central nesse tipo de operação. 

Crédito com garantia em imóvel em 2019

Fonte: Abecip; elaboração: KeyCash

Crédito com garantia em imóvel em 2020

Fonte: Abecip; elaboração: KeyCash

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