A Gyra+, fintech especializada na captura, processamento e análise de dados estruturados para tomada de decisão e oferta de crédito digital, decidiu pivotar o negócio. Agora, a aposta é em Software como Serviço (SaaS) para decisões de crédito, combinando Inteligência Artificial (IA) e Open Finance em uma plataforma “quase self service”.
“Vamos trazer uma nova dinâmica ao crescimento da empresa, utilizando a tecnologia que desenvolvemos, traduzindo conhecimento de crédito em ferramentas”, diz o co-CEO Rodrigo Cabernite. Segundo ele, a Gyra+ é a primeira plataforma de SaaS para o mercado de crédito no Brasil. Segundo ele, “compete um pouco com o Serasa”: no site o cliente (qualquer empresa) pode comprar pacotes/ mensalidade de análises ou fluxos de crédito padronizados.
Direção certa
A subida da Selic de 2% ao ano a 13,75% em fevereiro de 2023 aumentou a inadimplência, impactando fortemente as fintechs. Depois de amargar uma redução dos negócios e a seca dos investidores, a Gyra+ lançou, em julho de 2022, o Tool Box, sua plataforma de CaaS (Credit as a Service).
“Foi um enorme passo na direção certa. Durante 2022 conseguimos estruturar pequenas operações privadas de equity para financiar a transformação da plataforma, e começamos um forte esforço comercial para ganhar novos mandatos. Durante 2023, reduzimos o tamanho da empresa em 50% com o objetivo de estancar a queima de caixa e perseguir o break even“, revela o CEO.
Ao final do terceiro trimestre deste ano, aproximadamente 80% da receita da Gyra+ já vinha da ToolBox. O serviço oferece tecnologia de crédito e cobrança para bancos, financeiras, fundos e empresas. Apesar de vislumbrar uma avenida para a expansão dos negócios via ToolBox, a Gyra+ compreendeu que o negócio de CaaS é altamente consultivo e especializado. Ou seja, requer muito conhecimento para implementação de projetos que muitas vezes demandam longos prazos. Daí a aposta na nova plataforma “self service”.
Terceirização
Com a crise de inadimplência, redução dos volumes, alta dos juros e seca dos fundos de venture capital, a saída para muitas fintechs foi prestar serviços de tecnologia para operações de terceiros. “O problema é que pivotar não é fácil. Uma coisa é usar a tecnologia proprietária para sua operação interna, outra é usar a mesma tecnologia para operações de terceiros. A adaptação não é trivial e não acontece do dia para a noite. Inclusive, arrisco a afirmar que algumas fintechs sequer haviam investido o suficiente em desenvolvimento das suas próprias ferramentas. Assim, não tinham como pivotar o produto naquele momento”, diz Cabernite.
Para o CEO, uma das maiores virtudes do time de gestão da Gyra+ foi ter identificado em 2021 que a tendência do mercado era de uma grave crise de crédito. Ou seja, era preciso tomar decisões rápidas para reposicionar a empresa, realizando “alterações profundas no produto para geração de novas receitas.”
Em novembro do ano passado, o sucesso da estratégia da Gyra+ foi reconhecido pelo Banco Mercantil. A instituição mineira comprou fatia minoritária da Gyra+ para fortalecer sua base tecnológica e de inovação, diversificando a oferta de produtos e serviços.
“Estamos muito otimistas em poder combinar essas soluções com a inteligência de crédito do banco para melhorarmos a nossa oferta e a experiência dos nossos clientes. É mais um passo para potencializar nossa atuação no Open Banking”, disse à época Gustavo Araújo, CEO do Mercantil, segundo o site parceiro Finsiders.
Nada será como antes
Antes da pandemia da Covid, com juros em queda, fintechs acessavam o mercado de capitais ao emitirem instrumentos de securitização financeira para fundear suas operações de crédito. A maioria havia surfado a extraordinária onda de liquidez do Venture Capital, que servia para financiar o desenvolvimento tecnológico e para investimento nas cotas subordinadas dos instrumentos emitidos no mercado de capitais para financiamento das carteiras de crédito.
As cotas subordinadas são desenhadas para absorver a primeira perda em caso de elevada inadimplência no crédito, ou seja, carregam a maior parte do risco (e retorno) das operações.
“Na Gyra+ a filosofia sempre foi outra. Nosso custo de capital era elevado demais para alocar os recursos em cotas subordinadas por 3 a 4 anos. Também não estávamos dispostos a tomar riscos de longo prazo com nosso próprio caixa, sabendo da enorme necessidade de investimento que a plataforma tecnológica demandaria para chegar aonde queríamos chegar. Afinal, estávamos construindo um sistema complexo para um mercado que não é para amadores”, explica Cabernite.
A consequência de não alocar capital em cotas subordinadas foi um crescimento mais lento dos volumes originados durante os primeiros anos, com processos de captação de recursos mais difíceis e conversas mais duras com investidores de dívida na hora de emitir os títulos no mercado. “Mesmo assim, conseguimos levantar em torno de R$ 400 milhões em instrumentos de securitização entre 2018 e 2022”, informa o CEO.
Em 2020, o empreendedor concedeu entrevista ao canal do portal no Youtube quando explicou que o propósito da fintech era resolver o problema da assimetria das informações para a concessão de crédito a PMEs no Brasil.