>> Leia as edições anteriores da Finsiders
Tempo de leitura: 3 minutos
Depois de chegar perto em 2017 e 2018, no ano passado o investimento-anjo bateu a marca de R$ 1 bilhão. É a primeira vez que a modalidade supera R$ 1 bilhão desde o início da série histórica, em 2010.
Segundo pesquisa da Anjos do Brasil, organização de fomento ao investimento-anjo no país, foram R$ 1,067 bilhão investidos, cifra que representa um crescimento de 9% em relação a 2018, revertendo a queda de 0,4% entre 2017 e 2018.
Para este ano, porém, os investidores preveem uma queda absoluta de 10% nos valores previstos em novos aportes. Antes da pandemia, os anjos esperavam uma expansão acima de 10% nos investimentos para o ano. Com isso, é esperada uma perda relativa de 20%.
Cassio Spina, presidente e fundador da Anjos do Brasil, em apresentação dos resultados da pesquisa, acompanhada pela Finsiders:
“Essa queda não é porque investidores não querem ou têm medo de investir, mas muitos deles foram afetados pela pandemia nos próprios negócios ou na fonte de renda. O investimento em startups continua sendo atrativo. Existe potencial para recuperar.”
Apesar do avanço nos últimos anos, o volume de investimento-anjo no Brasil representa apenas 0,85% do que é investidos em startups nos EUA, por exemplo, que somam US$ 23,9 bilhões em aportes anualmente e uma bas de 323 mil investidores.
>> Acompanhe tudo sobre o ecossistema de fintechs
Pelos cálculos da Anjos do Brasil, o potencial total do mercado brasileiro é de US$ 2,4 bilhões, cerca de R$ 12 bilhões ao ano, o que significa 11 vezes o patamar atual.
“O lado positivo é que estamos crescendo muito, mas ainda estamos aquém do que deveria estar.”
Para que o país atinja o potencial, a organização defende a criação de políticas públicas de fomento ao investimento em startups, como ocorre nos países com ecossistemas mais dinâmicos. Em nações como Reino Unido, Itália e Espanha, além da isenção, é permitida a compensação de até 50% do valor investido em startups nos impostos devidos.
Por teses e setores
Em relação à tese, o segmento B2B (86,6%) é o mais atrativo para os investidores-anjos, seguido por modelos de negócios B2B2C (66%), B2C (65,7%), marketplace/P2P (44,8%), O2O (38,4%). O segmento menos mencionado pelos investidores é o B2G, com venda para governo, um mercado ainda difícil, com ciclos mais longos.
No ano passado, as fintechs lideraram (52,1%) a preferência dos investidores, ficando à frente de software/tecnologia de base (46,3%) e saúde (45,6%). Em 2020, a predileção dos anjos mudou e agora o interesse principal é por startups na área de educação, seguidas por healthtechs, agtechs (agronegócio) e foodtechs.
Pesquisa recente aponta 19 redes de anjos no país, com 1.670 investidores ativos e 251 startups. As associações têm predileção por modelos de negócios B2B (26%), seguido por marketplaces/P2P (21%), B2B2C (21%) e B2C (20%). Nenhuma rede cita, por exemplo, soluções para governo (B2G). O infográfico completo está na página do Insper Angels no LinkedIn.
Número de investidores em alta
Em 2019, o número de anjos no Brasil chegou a 8.220, crescimento de 6% em relação ao patamar atingido em 2019 (7.750).Cada investidor aplica, em média, R$ 129 mil por ano, segundo a pesquisa.
O perfil dos investidores ainda é majoritariamente masculino (93%), apesar dos esforços nos últimos anos para ampliar a presença feminina nesse mercado. Há iniciativas como o Mulheres Investidoras-Anjo (MIA), grupo liderado por Maria Rita Spina Bueno, Camila Farani e Ana Fontes.
Conforme a pesquisa da Anjos do Brasil, a maioria dos investidores (80,2%) investe por meio de grupos e redes de anjos. Uma parcela menor (34,7%) faz aportes com amigos e conhecidos e um percentual relevante (31,3%) realiza investimentos sozinho.
Investimento em fintechs
Perguntado sobre o investimento de anjos em fintechs, que deixou de ser o principal interesse dos investidores neste ano, Cassio Spina destacou que o setor financeiro tem passado por uma forte transformação e, embora tenha reduzido o interesse, não significa que não existam oportunidades.
“Talvez a crista da onda já tenha passado, mas não signficia que não tenha oportunidades em fintechs. Apesar de ter caído nível de interesse, quase metade dos investidores ainda investe em fintechs.”
A pesquisa foi feita entre maio e junho deste ano com 268 investidores-anjos.