O Kria aposta na tecnologia e no conhecimento adquirido ao longo de nove anos no crowdfunding para ser um dos propulsores deste mercado no país. Com o KRS, uma espécie de ‘AWS do crowdfunding’, a empresa é a responsável pela infraestrutura de 13 plataformas, além do próprio Kria — nove estão registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e as demais seguem em processo de aprovação junto ao regulador.
A ideia não é parar por aí. O próximo passo é lançar uma espécie de “mercado secundário”, que estará disponível para todos os clientes.
“A partir do mês que vem, as plataformas terão o ‘after market’, com listagem no secundário. Estamos fechando os manuais e testes para colocar no ar”, revela Camila Nasser, CEO e cofundadora do Kria, em conversa exclusiva com o Finsiders.
O projeto segue o caminho de alguns concorrentes, como a Captable, que criou o Captable Marketplace em julho do ano passado, na esteira da Resolução CVM 88. “Por que não lançamos antes? É muita responsabilidade. Precisamos, de um lado, garantir liquidez e, de outro, paridade de informações. Não queremos que seja um negócio puramente especulativo”, destaca a fundadora.
Em meio à evolução do crowdfunding de investimento no Brasil, que ganhou novas regras há cerca de um ano, o Kria construiu uma solução white-label no modelo software as a service (SaaS), que fornece infraestrutura tecnológica, além de orientações sobre o processo de registro das plataformas e de estruturação e distribuição das ofertas. “Queremos passar nossa expertise acumulada de nove anos”, define Camila.
O KRS atende clientes em diferentes verticais, por exemplo, setor imobiliário, agronegócio, mercado vegano e economia real. São plataformas como Vegan Business, AgroVen, Fazenda Cheia, 3C Invest, Handbag Mining Investments, entre outras.
Ao todo, são 13 plataformas ativas e outras quatro em aprovação pelo regulador. A expectativa é ter 16 em operação até o fim do ano, afirma Camila. Atualmente, são cerca de 60 plataformas autorizadas a operar pela CVM. “Nosso market share no crowdfunding é de 15% [em relação ao total de plataformas ativas] e chegará a 20% quando as outras quatro estiverem ativas”, diz Camila.
Segundo ela, além do alto custo de investimento para desenvolver a infraestrutura de tecnologia, as plataformas de crowdfunding têm desafios como originação de negócios e capacidade de distribuição das ofertas. Nesse sentido, o KRS ajuda com sua expertise e comunidade. “Enquanto bloco, conseguimos negociar com parceiros de distribuição, como corretoras e assessores de investimento. Mas não vamos e nem podemos distribuir oferta de ninguém”, explica Camila.
Tokens
Além do próprio avanço do mercado — o número de plataformas de crowdfunding passou de 32 em 2020 para 57 ao final de 2022 —, o Kria enxerga a recente orientação da CVM sobre tokens de recebíveis e renda fixa como uma novidade que pode impulsionar o segmento.
Conforme o ofício circular, publicado em abril, as ofertas de tokens de recebíveis ou de renda fixa com valores de até R$ 15 milhões poderão ser enquadradas na atual regra do crowdfunding de investimento, a Resolução CVM 88, desde que cumpridos os mesmos requisitos previstos nesta regulamentação da modalidade.
“A não ser que tenha mudança de entendimento, vamos ter crescimento exponencial do nosso mercado”, diz Camila, citando que tem sentido uma “busca crescente” pelo KRS desde que as orientações da CVM foram publicadas. “Estamos em conversas para entender a demanda.”
Cenário
Sobre o momento de mercado, com juros altos, Camila reconhece o quadro desafiador, em que os investidores naturalmente ficam mais avessos a risco. “Mas no Brasil isso sempre acontece. Quando começamos, em 2014, os juros estavam altos. Estamos falando de investimento de longo prazo, que é uma composição importante da carteira”, argumenta.
Neste ano, a fintech de saúde Axxes Saúde concluiu uma captação de R$ 650 mil no Kria. Agora, a plataforma está com duas rodadas em aberto — a rede de restaurantes de comida árabe Falafull busca R$ 1,8 milhão e a OHCA, de bebidas, quer levantar R$ 550 mil em um follow-on.
Desde 2014, quando o então Broota (primeiro nome do Kria) foi fundado, foram realizadas na plataforma mais de 80 ofertas, que somaram R$ 70 milhões. Dentre os 14 exits até hoje, estão a venda da Resale para o BTG Pactual, da Repassa para a Renner, além da compra do Cheftime pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA).
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