Depois de conseguir viabilizar um projeto idealizado há dez anos, André Vilar planeja agora voos mais altos. Sua fintech Monis, que no final do ano passado trouxe para o Brasil o modelo de assinatura de aplicação financeira por meio de aportes recorrentes via cartão de crédito, está agora em busca de parcerias. Vilar ainda não pode revelar quem são – mas antecipa que entre elas há varejistas, empresas aéreas e outras que podem ajudar a atrair mais gente a aderir à sua proposta. Segundo o CEO, a fintech também vai em breve contratar uma instituição financeira tradicional para realizar seus serviços de Banking as a Service.Hoje, o dinheiro dos clientes vai para um CDB do PagBank.
“O objetivo principal dos nossos clientes é conseguir poupar para realizar sonhos, como uma viagem de férias. Usando o cartão para isso, eles ganham duas vezes: poupando e acumulando milhas ou pontos para ajudar nas reservas”, diz Vilar. “Nosso objetivo não é apenas ganhar com a intermediação financeira, mas também na intermediação da compra dos sonhos que esse dinheiro poupado vai proporcionar”.
A Monis é uma “atualização” do conceito da Conta Sonho que Vilar imaginou na época da faculdade – e que o banco Santander abraçou anos depois. “Fui consultor do banco mas, por uma série de motivos, não foi possível seguir em frente com o projeto”, diz o empreendedor. Ele conta que desde cedo sabia investir na Bolsa, mas economizar para investir era o mais difícil. Daí veio a ideia: “Entendi que quando a pessoa cadastra um sonho, fica mais engajada, mais motivada a poupar, mais compromissada. Além de usar o cartão, nossos clientes também fazem aportes extras e 20% do que entra vem por meio de PIX e TED”, revela. Os recursos dos clientes são aplicados em títulos de renda fixa.
O sonho inicial de Vilar não contemplava usar cartões de crédito como canal, e chega a ser um paradoxo – mas é por isso mesmo. E ele explica como surgiu a ideia: “De tão fácil de usar, o cartão é o vilão dos gastos. Por que não reverter isso, usando essa facilidade a favor do planejamento financeiro?”, diz.
Os planos de assinatura da Monis variam de R$ 25 a R$ 1 mil por semana, e a maioria dos poupadores aplica em média R$ 150. “Temos 172 usuários ativos, e acumulamos um saldo de mais de R$ 300 mil desde janeiro, e a maioria é classe de renda mais alta – o hábito de poupar não tem a ver com quanto a pessoa ganha. Nosso próximo foco é nas pessoas que ganham de R$ 3 mil a R$ 10 mil, cujo sonho principal é ter uma reserva financeira”, diz. Segundo ele, até agora a fintech cresceu basicamente por indicação: “A gente sabia que seria assim principalmente no começo, por isso escolhemos um nome simples, fácil de escrever – e ainda lembra a palavra dinheiro (money) em inglês”.
A Monis levantou uma rodada pre seed de R$ 2 milhões em uma semana, no início do segundo semestre do ano passado, junto a investidores do mercado financeiro para começar a testar o piloto. Vilar sempre teve proximidade com o mercado: seus pais trabalharam em bancos e ele, depois do Santander, passou pelo Itaú (onde ajudou a construir o Cubo) e foi investidor anjo da Fliper (comprada pela XP no ano passado) e do banco Neon. Hoje, a Monis tem oito pessoas no time e deve contratar mais duas agora em maio.