Nagro prevê R$ 100 mi em crédito e vai lançar antecipação de recebíveis

O primeiro FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) da Nagro, fintech especializada em crédito rural, acaba de levantar R$ 35 milhões, e a próxima tranche deve sair entre dezembro e janeiro. Neste ano, a startup planeja liberar R$ 100 milhões em crédito para mais de 1,5 mil produtores. A meta é alcançar 35 mil produtores até o fim de 2023.

Com o recurso que está entrando da primeira emissão, a startup vai lançar a modalidade de antecipação de recebíveis e pretende acelerar a concessão das outras linhas que já oferece para pequenos e médios produtores rurais, como crédito pessoal, capital de giro e crédito com garantia do imóvel do produtor, que a Nagro chamou de Farm Equity.

Desde que começou a pilotar crédito com recursos próprios, no ano passado, a fintech já recebeu mais de R$ 500 milhões em solicitações. Os últimos meses têm sido acelerados. Tanto é que, no início deste terceiro trimestre, as solicitações qualificadas (para produtores com CNPJ ativo e sem negativação) já somam mais de R$ 110 milhões.

“Estamos fazendo em torno de 200 operações por mês”, conta Gustavo Alves, fundador e CEO da Nagro, ao Finsiders.

A carteira própria soma mais de R$ 21 milhões, com empréstimos feitos para mais de 900 produtores em 17 Estados e mais de 400 cidades. “Nossa inadimplência D+1 roda em 1%”, afirma. A recorrência é outro indicador para o qual ele chama a atenção: sete em cada dez produtores voltam a tomar crédito com a Nagro.

Como funding para as operações, antes do FIDC, a fintech havia emitido em outubro de 2020 um CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) de R$ 20 milhões. Hoje, a startup opera como correspondente bancário, mas já está se preparando para, em 2022, pedir autorização ao Banco Central (BC) para operar como SCD (Sociedade de Crédito Direto), revela Alves.

Questionado sobre como tem se diferenciado das demais agfintechs — um mercado em franco crescimento, com players como TerraMagna, Duagro, Traive, A de Agro (antiga Agronow) e Agrolend, entre outras –, o empreendedor diz que o principal diferencial da Nagro é o relacionamento direto com o produtor, ou seja, sem necessitar de intermediários, como as revendas e distribuidoras. Isso permite, segundo ele, atender mais culturas.

“O objetivo é ter o maior número de produtores, não a maior carteira do mercado.”

Para ter rapidez na aprovação ou não do crédito, a fintech bebe da fonte de uma plataforma de inteligência de dados e gestão de risco construída dentro de casa. Chamada AgRisk, é um SaaS (software as a service) que, a partir do CPF do produtor (com consentimento, claro), retorna mais de 50 fontes de dados.

Lançada em abril de 2020, a plataforma hoje é usada por 102 empresas na cadeia do agro, incluindo tradings, cooperativas e pequenos distribuidores e revendas. Esses clientes já realizaram consultas a informações de mais de 100 mil produtores rurais. “O objetivo é que as empresas consigam ter uma visão mais completa do risco do produtor”, explica Alves.

Pivotagem

Fundada no fim de 2016 por ele — um engenheiro agrônomo e da terceira geração de produtores rurais da família, e Leonardo Rodovalho, economista que trabalhava com assistência técnica para obtenção de crédito rural — a Nagro começou fazendo a ponte entre produtores rurais que precisavam tomar crédito e bancos públicos e privados que operam com recursos do Plano Safra. “Recebíamos os projetos técnicos para enviar para as instituições”, conta o empreendedor.

Numa evolução do negócio, a fintech passou a se conectar com bancos menores e gestoras de fundos, operando como um marketplace multibanco, que chegou próximo a R$ 50 milhões liberados ao final de 2019. Quando a pandemia da covid-19 chegou, a empresa sentiu a diminuição de apetite das instituições financeiras, algo natural no início da crise. “Em 2019, estávamos com 12 financiadores e, durante a pandemia, ficaram só dois”, relembra Alves. A pandemia também frustrou os planos da fintech em captar o primeiro FIDC.

O jeito foi repensar o modelo de negócio. Primeiro, a Nagro lançou a plataforma de inteligência de dados AgRisk. Depois, passou a originar o crédito, formalizar o empréstimo e controlar o recebimento. Aos poucos, foi deixando de lado o marketplace. “Lançamos crédito com tíquetes pequenos, de cerca de R$ 20 mil, como piloto para provar que a Nagro tinha capacidade de originação, qualificação em escala, formalização das operações, emissão dos títulos, assinatura, registro e, o mais importante, receber de volta o crédito, claro.”

Com cerca de R$ 5,7 milhões captados em uma rodada seed dividida em duas tranches, a Nagro tem no captable um pool de anjos, que inclui nomes como Ariel Lambrecht, cofundador da 99, além de dois executivos C-level de uma trading coreana e ex-sócios da XP, que hoje estão no BTG Pactual. “Estamos nos preparando para uma rodada Série A, entre o fim deste ano e o começo do próximo”, adianta o founder.

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