A Nomad, fintech que busca facilitar o acesso dos brasileiros a uma vida financeira global, começou oferecendo soluções de banking — conta em dólar e cartão de débito aceito em mais de 50 países, com direito a saques e transferências —, além de serviço de câmbio e remessas internacionais. Em seguida, a empresa expandiu a atuação com a criação de uma plataforma de investimentos, que vem sendo incrementada nos últimos meses.
Com aproximadamente 1 milhão de downloads e 500 mil contas abertas — das quais, cerca de 200 mil são de clientes que já fizeram alguma transação na plataforma —, a Nomad espera chegar ao ano que vem com algo entre 1 milhão e 2 milhões de contas. A fintech se prepara para entrar no mercado de crédito e vai lançar também produtos em moeda local, revela Lucas Vargas, CEO da empresa, em conversa com o Finsiders.
A Nomad foi fundada em 2019 pelos empreendedores Patrick Sigrist (fundador do iFood), Eduardo Haber (que fundou as gestoras Advis e Tribeca Partners) e Marcos Nader (ex-DocuSign). Lucas assumiu o posto de CEO em março de 2021, depois de ter atuado por mais de oito anos no Grupo ZAP, três deles como CEO.
“Existem evoluções que passam por crédito e parcelamento, e estamos trabalhando com alguns parceiros para lançar esses produtos de crédito no ano que vem”, conta o executivo, citando o caso do ‘buy now, pay later’ (BNPL) — modalidade popularizada no exterior e que nada mais é do que uma reinvenção do brasileiríssimo parcelado sem cartão.
Esta seria, inclusive, uma das estratégias para a fintech ampliar as linhas de receita, num contexto em que as startups de modo geral vêm sendo pressionadas cada vez mais por lucro e geração de caixa, em vez de crescimento a qualquer custo.
Em agosto, a própria Nomad precisou fazer um corte na equipe para enfrentar o cenário turbulento. A redução do quadro surpreendeu porque a fintech havia captado em maio uma rodada de US$ 32 milhões, sendo avaliada em mais de R$ 1 bilhão. Na ocasião, a chegou a citar que parte do recurso seria destinado para a expansão da operação e o aumento da equipe.
“Em 2019, tínhamos captado US$ 2,5 milhões. Em 2020, levantamos mais US$ 5 milhões. No ano passado, captamos US$ 20 milhões e, por fim, os US$ 32 milhões este ano. Contávamos com levantar mais um cheque em 2023. Com a virada do mercado, decidimos ser mais cautelosos e estender o ‘runway’”, reconhece Lucas. “Seguimos crescendo a base e desenvolvendo novos produtos, com foco em rentabilização”, complementa.
Segundo Caio Fasanella — que chegou à Nomad em fevereiro deste ano para liderar investimentos e desde agosto assumiu como Chief Revenue Officer (CRO) —, atualmente as frentes de monetização são a taxa de serviço incidente nas operações de câmbio e a tarifa de intercâmbio (TIC) das transações com cartão. A companhia não cobra tarifas para abertura e manutenção da conta, tampouco corretagem nos investimentos.
Evolução do portfólio
Em um movimento recente para ampliar o portfólio de investimentos, a Nomad lançou na semana passada o que tem chamado de fundos selecionados. Basicamente, são três opções de ETFs conforme o perfil de risco do investidor (cuidadoso, equilibrado e agressivo), além de um fundo de índice de renda fixa — todos geridos pela BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, com cerca de US$ 8 trilhões sob seus cuidados.
A Nomad conta com mais de 800 ativos disponíveis, incluindo ações e ETFs negociados em bolsas norte-americanas (Nyse e Nasdaq), além de alguns fundos do mercado imobiliário dos Estados Unidos (conhecidos como REITs). Há opções com investimento a partir de US$ 1, inclusive na nova modalidade de fundos selecionados. O valor deve ser aplicado durante o horário em que o mercado financeiro norte-americano estiver aberto.
Além de ampliar a prateleira de investimentos, a fintech também vem dedicando mais atenção à vertical de produtos e serviços não financeiros, hoje praticamente “escondida” como uma seção de benefícios na aba “perfil” do aplicativo. “Estamos fortalecendo essa parte de shopping, dentro do contexto em que temos cada vez mais dados”, explica Caio. No total, são cerca de 30 parceiros atualmente, incluindo grandes varejistas como a Amazon, locadoras de veículos e plataformas de hospedagem como a Hoteis.com.
A criação de produtos e serviços financeiros na moeda local é outra frente a ser explorada pela Nomad. “Já temos uma wallet em reais, e devemos ter produtos associados, como pagamentos”, diz Lucas. A ideia não é competir com bancos digitais bem estabelecidos no Brasil, como Nubank, C6 e Inter, mas sim adicionar soluções que complementam a proposta de valor da plataforma global da empresa.
Parceiros
Para rodar a solução da conta bancária nos EUA aos brasileiros, a Nomad tem parceria com o Evolve Bank & Trust e utiliza a infraestrutura de banking as a service (BaaS) da Synapse. As operações de câmbio são realizadas pelo Banco Ourinvest, do qual a Nomad é correspondente cambial.
No caso da plataforma de investimentos, assim como outros players, a fintech tem acordo com um distribuidor local (FRAM Capital DTVM), nos termos do parecer de orientação CVM nº 33, de 30 de setembro de 2005. Nos Estados Unidos, onde a Nomad possui registro de investment advisor, as operações são feitas em parceria com a corretora DriveWealth.
Mercado
A Nomad não é a única a oferecer soluções de conta global e investimento nos EUA para os brasileiros. O neobank britânico Revolut, por exemplo, trouxe Glauber Mota, ex-BTG Pactual, para liderar a operação brasileira do super app, que começará com uma conta global, com acesso a mais de 25 moedas e um cartão internacional aceito em 150 países. O produto está prestes a ser lançado.
A também britânica Wise vem ampliando sua atuação no Brasil e no fim do ano passado lançou um cartão internacional. Em entrevista recente ao Finsiders, Pedro Barreiro, líder de banking e expansão da empresa no país, disse que a expectativa é ultrapassar 100 pessoas na equipe local até o terceiro trimestre de 2023.
Não faltam exemplos de neobanks e fintechs dispostas a capturar o brasileiro que está de olho no mercado internacional, seja para viajar, seja para investir seu rico dinheirinho. Os players incluem, ainda, C6 Bank, Inter, Avenue Securities (investida pelo Itaú), Passfolio, Stake, Broad e outros.
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