A Conta Comigo Digital quer simplificar e automatizar o pagamento de contas de consumo e impostos no Brasil. Por meio de uma só integração via API, a proposta é conectar empresas de serviços públicos (as utilities) a bancos e fintechs. Os objetivos são reduzir custos e fraudes, criar um fluxo de liquidação mais eficiente e melhorar a experiência para o cliente final.
“No final das contas, somos um DDA [Débito Direto Autorizado] para utilities. Com tecnologia e conexão única, coordenamos um fluxo de dados complexo de uma ponta a outra”, explica Vinicius Santos, co-fundador e CEO da Conta Comigo. “Levamos os boletos das concessionárias para os bancos e fintechs, que definem as experiências e os meios de pagamento (Pix, boleto, cartão de crédito) em seus aplicativos. O consumidor final não nos vê, somos infraestrutura.”
Após dois anos de testes e integrações iniciais, a Conta Comigo vai começar a entregar os boletos diretamente na conta de clientes de alguns bancos no primeiro trimestre de 2025. Numa ponta, a fintech já fechou contratos, por exemplo, com a operadora de telefonia TIM e a empresa de saneamento Aegea. E na outra, assinou o PicPay e está negociando com players como BTG, Mercado Pago e Neon. “Só não sabemos ainda quais desses entrarão primeiro em produção”, diz o CEO.
Além disso, as prefeituras de Teresópolis e Rio Bonito – ambas no Rio de Janeiro – também passarão a cobrar o IPTU usando a solução da fintech no início do ano que vem, conta o empreendedor. De acordo com ele, com os contratos já assinados, a empresa processará mais de 40 milhões de boletos por mês para mais de 67 milhões de usuários ativos em todos os estados no País. O sistema da Conta Comigo, 100% proprietário e que roda na AWS (nuvem da Amazon), tem capacidade de absorver mais de 3 milhões de boletos por hora.
Trajetória
Conforme Vinicius, essa especialização em utilities é outro diferencial da Conta Comigo. “Estamos falando de serviços públicos de concessionárias, em que cada setor tem um conjunto de regras. É uma complexidade na qual gostamos de navegar”, diz Vinicius. “Em energia, por exemplo, há concessões que vêm sob a regulamentação da Aneel”, complementa Matheus Vasconcelos, co-fundador e diretor comercial da fintech.
A dupla, inclusive, tem na bagagem profissional experiências na área de infraestrutura. Engenheiro mecânico, Matheus trabalhou por mais de cinco anos e meio no RIOgaleão, responsável pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio. Já Vinicius, economista e filósofo, chegou a fundar uma espécie de “Uber do setor de óleo e gás”, a Navii, que durou pouco mais de um ano.
No fim de 2017, Vinicius decidiu empreender novamente com a Contaí, um aplicativo que funcionava como agregador de boletos, com foco no consumidor final (B2C). Porém, teve dificuldade de escalar e decidiu pivotar para uma solução voltada a empresas (B2B), a Conta Comigo Digital, que nasceu no fim de 2022. Além de Vinicius e Matheus, os sócios-fundadores incluem Marco Gallo (ex-executivo da Mastercard e American Express) como diretor institucional e Julio Freitas, que lidera tecnologia.
Até hoje, a startup levantou rodadas de captação que somam R$ 5 milhões. Além de recursos dos sócios, a Conta Comigo atraiu investidores-anjos, o grupo Urca Angels e outros institucionais, cujos nomes não são revelados. Sobre novos investimentos, o CEO diz que a empresa está bem posicionada para o próximo ano e tem previsibilidade de receita. “Conseguimos rodar tranquilamente”, diz Vinicius. Porém, ele não descarta novos aportes.
Pix Automático
O fundador enxerga oportunidades com a criação do Pix Automático. A modalidade, prevista para lançamento em junho de 2025, tem potencial para eliminar o débito automático e há quem veja também uma ameaça aos tradicionais boletos. “Em utilities, hoje, a incidência de débito automático é baixa, da ordem de 11%. As razões incluem falta de confiança e experiência com fricções para a ativação desse serviço”, aponta Vinicius.
Na prática, o Pix Automático permitirá que as empresas que operam no modelo de recorrência possam cobrar seus clientes sem precisar fazer convênios banco a banco. Já para o usuário pagador, será necessária apenas uma autorização. O repasse do pagamento do cliente à companhia será em D+0, enquanto atualmente é em D+1.
Apesar dessas vantagens, Vinicius diz que ainda não há uma visão única entre as utilities sobre a substituição do débito automático pela nova modalidade de Pix. “Existe um desafio de migração e também de comunicação com os clientes. Se você considerar, por exemplo, uma operadora de telefonia que tem 45 milhões de clientes, 11% representam muito da base”, afirma.
Mercado
A Conta Comigo não é a primeira fintech a desbravar o setor de utilities. Fundada em 2012 no Porto Digital, em Recife, a Flexpag se posiciona como um hub de soluções de meios de pagamento para as empresas de utilities. Em agosto do ano passado, a empresa foi comprada pela Serasa Experian.
Outro exemplo é a Voltz, a fintech do grupo Energisa que vem buscando ampliar os horizontes para além da distribuidora de energia. Já a Bemobi recentemente comprou a Instituição de Pagamento Friday para avançar em soluções com Pix.