Fundado em 1989 como corretora Didier&Levy, o Bexs evoluiu para banco de câmbio em 2010. De lá pra cá, a instituição vem se transformando num contexto de maior digitalização da economia e, claro, das transações financeiras. Na liderança do negócio está Luiz Henrique Didier Jr., um executivo que fez carreira na indústria de pagamentos e foi diretor de empresas como Itaú, Cielo, Safra e Serasa Experian.
Quando voltou ao negócio criado pelo pai, em 2018, ele percebeu que havia a oportunidade de unir pagamentos e câmbio. “Os processos de câmbio, em geral, são demorados e burocráticos. Tentamos focar nos segmentos em que seria possível gerar escala, sem fugir da regulação no país”, explica o executivo.
O primeiro passo foi facilitar a compra de produtos e serviços por brasileiros em sites internacionais, em uma operação feita em conjunto com o Ebanx. Depois, o Bexs evoluiu para trazer sellers estrangeiros a um marketplace brasileiro, no caso, a Americanas.
Outro movimento recente foi uma parceria com a corretora norte-americana Avenue Securities, que facilita o acesso dos brasileiros a investimentos nos Estados Unidos. “O que aprendemos, com o tempo, é que processos possíveis de digitalizar”, diz Didier Jr. “E ficamos nos perguntando: será que é possível digitalizar o comércio exterior? Entendemos que sim, desde que tenha capacidade de garantir tudo conforme a regulação.”
O Bexs acaba de dar um novo passo na direção. O banco de câmbio lançou uma solução de câmbio as a service (CaaS), que pode ser conectada a diversas plataformas via APIs, revela o executivo com exclusividade ao Finsiders. A nova tecnologia já está sendo usada pela OpenSolo, uma agtech que permite a compra e venda de produtos das cadeias de trigo e de frutas, legumes e verduras (FLV) em uma só plataforma.
“Eles montaram uma plataforma em que compradores e vendedores negociam entre si. São todas as informações que preciso para validar a operação de câmbio”, explica Didier Jr. “O Brasil está vivendo uma digitalização do agro. E eu consigo plugar uma solução de câmbio.”
Com a conexão da solução do Bexs à plataforma da OpenSolo, o tempo de uma transação de comércio exterior, que tradicionalmente pode se estender por semanas, é encurtado via fechamento instantâneo de câmbio. Neste processo, o comprador contrata o câmbio de forma segura e avaliza as condições da transação, mitigando riscos decorrentes de variações cambiais.
Segundo Didier Jr., o desenvolvimento da nova solução de CaaS levou quase dois anos. Até porque não é nada trivial. Uma operação de comércio exterior, por exemplo, tem diversos pontos de informação que precisam ser coletados. “São informações espalhadas. O grande trabalho da plataforma é compilar tudo isso num único lugar”, destaca o executivo.
Como motor de câmbio dentro das agtechs, na prática, o Bexs faz com que câmbio deixe de ser um problema. Potencial existe. Conforme a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em apenas dez anos, a participação do Brasil no mercado mundial de alimentos saltou de US$ 20,6 bilhões para US$ 100 bilhões em 2020. O país é o segundo maior exportador de grãos, com uma produção anual de 122 milhões de toneladas de grãos.
“Temos outros contratos já bem engatilhados”, conta Didier Jr., sem abrir nomes ou detalhes sobre as negociações.
Nos últimos meses, o Bexs vem anunciando outras parcerias. Em abril, fechou um acordo com a Preme Pay, fintech sediada no Reino Unido, que oferece métodos de pagamento globais. A notícia foi antecipada pelo Finsiders na ocasião.
No início de dezembro, o banco também divulgou uma parceria com a Thunes, empresa de pagamentos global com sede em Cingapura, que permite pagamentos em 115 países e ajuda a aceitar mais de 285 métodos de pagamento. E ontem, foi a vez de anunciar um acordo com a empresa francesa de pagamentos Worldline.
Modernização do setor
Didier Jr. entende que o Bexs vem caminhando cada vez mais na rota de simplificar o câmbio, gerar mais competição e reduzir os custos, em linha com a agenda do Banco Central (BC) para o setor. “Onde puder digitalizar os processos, baratear os custos e gerar escala, e sempre de acordo com a regulação vigente, a gente se encaixa”, aponta.
Extremamente complexo, o mercado de câmbio passará a ser regulado pelo BC, conforme o novo marco legal do setor, aprovado na semana passada pelo Senado e que agora aguarda sanção presidencial. Entre outras mudanças, o projeto amplia as possibilidades de abertura de conta em dólar e outras moedas estrangeiras no Brasil, assim como permite que bancos e instituições financeiras do país invistam no exterior recursos captados no país ou fora, por exemplo.
Para Didier Jr., a grande evolução do marco é o Banco Central passar a ser o regulador das operações de câmbio. “O que o Brasil quer é modernizar o mercado de câmbio. Hoje, o país tem quase 1 mil classificações de câmbio”, exemplifica o executivo.
Em outro movimento, no começo de setembro, o Conselho Monetário Nacional e o BC alteraram a regulamentação cambial e de capitais internacionais. Pelas novas regras, que passam a valer em setembro de 2022, instituições de pagamento (IPs) autorizadas pelo BC poderão operar no mercado de câmbio, o que hoje é permitido apenas a bancos e corretoras.
Assim como em outros segmentos do setor financeiro, a tendência é que se crie – como já começou com players como Wise, Remessa Online (comprada esta semana pelo Ebanx) e outros – mais competição em câmbio.
“Vão surgir muitos players e serão mais nichados. E a competição vai gerar um mercado que é tão maior do que é hoje e tem muito espaço para crescimento. Ainda estamos engatinhando na capacidade do Brasil de comprar, vender, negociar com o mundo.”
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