Os novos planos da Bom Pra Crédito. Um spoiler: CDC no modelo digital

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Quando fundou a Bom Pra Crédito (BPC), em 2013, Ricardo Kalichsztein tinha um sonho grande: construir a principal plataforma de crédito para qualquer momento da vida das pessoas físicas. Oito anos depois, a fintech se consolidou como o maior marketplace de crédito online para PF, com 8 milhões de usuários e tendo como maior fortaleza o empréstimo pessoal sem garantia, responsável por mais de 90% do total de R$ 1 bilhão em crédito intermediado até hoje.

Agora, a empresa dá um novo passo em direção ao big dream traçado lá atrás pelo empreendedor que se especializou ao longo da carreira em crédito, com passagens por Unibanco e Fininvest, por exemplo. Depois de adiar os planos, afetada pela pandemia (quem não foi, né?), a Bom Pra Crédito resolveu tirar os projetos da gaveta e vai “entrar” em dois novos mercados: pagamento parcelado e investimentos.

Mas calma, não se trata de um ‘rebundling’. Pelo contrário: é uma evolução do negócio. A fintech está lançando a modalidade digital do CDC (Crédito Direto ao Consumidor). Em outra frente, também vai abrir sua plataforma — hoje destinada a bancos e fintechs — para o mercado de capitais (FIDCs e securitizadoras, por exemplo).

CDC

Com o CDC, a fintech não está reinventando a roda. Na realidade, vai ampliar as possibilidades para um produto que praticamente estava esquecido, em meio ao crescimento do cartão de crédito. O diferencial é que, em vez de ter acesso a um só financiador, o varejista ou e-commerce conseguirá se plugar a diversos credores hoje conectados à Bom Pra Crédito. No total, são mais de 30 parceiros, incluindo bancos como Banco do Brasil (BB), Banco Pan e Banco Bari, financeiras como Zema, Lebes e Focus, além de fintechs como Creditas, Noverde, SuperSim, Credihome e BizCapital, entre outras.

O novo produto — que já nasce integrado à plataforma VTEX, provedora de SaaS para e-commerces — é fruto de uma parceria com a BMP Money Plus, uma SCD (Sociedade de Crédito Direto). Nessa largada, a fintech já tem negociação em andamento com sete varejistas, revela o empreendedor. O pipeline? “Centenas de milhares de varejistas que podem ser atraídos por esse produto.”

“Estamos trazendo o CDC digital para o varejo. A ideia é ter tanto e-commerce quanto loja física”, explica Ricardo Kalichsztein, CEO e fundador da Bom Pra Crédito, em entrevista exclusiva ao Finsiders.

De boba a fintech nada tem. O faturamento do e-commerce brasileiro cresceu 41% no ano passado, maior alta percentual desde 2007, segundo relatório da Ebit/Nielsen e do Bexs Banco. Ao mesmo tempo, começam a ganhar força as soluções que vêm sendo chamadas de Buy Now, Pay Later (BNPL), praticamente “revivendo” uma das jabuticabas brasileiras: o bom e velho crediário. No caso do produto lançado pela BPC, além do acesso a múltiplos financiadores, outro diferencial é ter uma experiência digital com contratação em poucos cliques no ambiente da loja virtual que incluir esse método de pagamento.

Investidores

Ainda como evolução do business, a fintech agora também abre sua plataforma para o mercado de capitais, possibilitando que fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), securitizadoras e family offices se conectem e acessem portfólios de crédito, que têm anotado rentabilidade média entre 15% e 16%/ano. Com um retorno desses, naturalmente, a BPC começou a atrair o interesse de investidores e fundos. Sem revelar os nomes, Kalichsztein diz que quatro gestoras já estão usando a plataforma e outras duas estão em negociação.

CaaS

A diversificação de financiadores faz parte de um avanço que a BPC vem tendo em seu modelo de negócios, inclusive. De início, fazia geração de leads, evoluiu para um marketplace online focado em empréstimo pessoal, agregou novas linhas como crédito com garantia e consignado e, há dois anos e meio, colocou para rodar uma solução de Credit as a Service (CaaS).

A aposta vem se mostrando acertada. Do volume histórico de R$ 1 bilhão originado em crédito, algo como R$ 300 milhões vieram do CaaS. Do montante total liberado em novos créditos, 70% já é oriunda desse produto, conta o empreendedor. Na prática, a BPC faz todo o ciclo do crédito, inclusive cobrança e recuperação, para instituições que queiram oferecer crédito e não tenham esse know-how.

O serviço envolve desde avaliação de risco de crédito, análise de fraudes, concessão do crédito, passando por gestão do portfólio e recuperação do crédito — o funding, claro, é do cliente. “O dono do funding escolhe qual apetite de crédito quer ter e o tipo de cliente que quer trabalhar e criamos a oferta para ele.”

O plano da fintech não é parar por aí. A ideia é adicionar outras modalidades de crédito e financiamentos, sempre tendo como foco o ciclo de vida do consumidor. Ou seja, desde quem toma empréstimo para emergências até a pessoa que precisa de recurso para financiar um imóvel, por exemplo, ou quer adquirir um produto no e-commerce. A avenida é grande, diz o empreendedor.

O business, por sua vez, vai de vento em popa. Enquanto o mercado de crédito como um todo no Brasil cresceu 15,4% no ano passado, mas muitas fintechs tiveram de apertar o cinto com medo de inadimplência, a Bom Pra Crédito viu seu faturamento crescer 53%. E a fintech não demitiu ninguém. Pelo contrário: ampliou o time em 50%, para 125 pessoas. “Esperamos ter a batida de crescimento que já tínhamos antes da pandemia, dobrando a cada ano. E quem sabe ultrapassando.”

Em maio, por exemplo, a originação cresceu 3x contra o mesmo mês do ano passado. Do volume total de R$ 1 bilhão na história da BPC, cerca de um quarto foi originado nos últimos seis meses, com destaque ainda para o empréstimo pessoal sem garantia, o carro-chefe na plataforma. “Ampliamos o número de parceiros e de ofertas”, conta Kalichsztein. E assim, a fintech caminha para ser o “mercado do crédito”, um local onde o consumidor pessoa física possa escolher o crédito conforme seu momento de vida.

Essa especialização em PF, inclusive, é um grande trunfo da BPC. Ainda mais num contexto da regulamentação do Open Finance no país. Isso porque a fintech tem muita informação proprietária e acaba conhecendo profundamente os usuários da plataforma. “Quanto mais informações tiver desse cliente, como hábitos de consumo e de pagamento, melhor. É como ver um filme desse consumidor, e não uma fotografia”, brinca o empreendedor.

Mercado

Com modelos diferentes, outros players avançam em plataformas que plugam diversas instituições financeiras para oferta de crédito. No segmento de pequenas e médias empresas (PME), a Capital Empreendedor vem crescendo e trouxe este ano para comandar a área de business & corporate development a executiva Andrea Parsekian Arenas, que estava na área de Corporate Venture Capital do banco BV, e já havia passado por Santander e ABN AMRO, conforme antecipou o Finsiders.

Já a gestora Credit Brasil lançou a Finplace, que conecta micro, pequenos e médios negócios que buscam crédito a cerca de 300 financiadores (FIDCs, factorings, bancos médios e securitizadoras). A plataforma, lançada em novembro de 2019, já movimentou mais de R$ 350 milhões.

A fintech sueca FinanZero, por sua vez, tem como foco as pessoas físicas em busca de empréstimo online. Tanto é que mais de 90% do volume de crédito originado no site é crédito pessoal — a fintech também trabalha com refinanciamento de veículo e refinanciamento de imóvel (home equity). Em abril, a empresa levantou uma rodada de R$ 40 milhões (US$ 7 milhões), conforme antecipou o Finsiders em janeiro. Hoje, sua base de parceiros soma mais de 50 instituições, incluindo bancos como Pan, Inter, Santander, Alfa e Sofisa Direto, além de fintechs como SuperSim, BizCapital e Creditas.

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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.

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