ESTRATÉGIA

Pagare agora caminha com as "próprias pernas" e prevê R$ 5 bi em transações

Desde agosto, a fintech tem o próprio código de operação de banco e está na fase final de homologação para ser participante direto no Pix

Fernando Pereira Candido/Pagare
Fernando Pereira Candido/Pagare | Imagem: divulgação

Há cerca de seis meses, a fintech Pagare obteve autorização do Banco Central (BC) para funcionar como uma instituição de pagamento (IP). O sinal verde do órgão foi apenas o primeiro passo da empresa de tecnologia em serviços financeiros e pagamentos como um player regulado. No fim de agosto, a Pagare iniciou a operação no Sistema de Transferência de Reservas (STR), o “coração” do Sistema de Pagamentos Brasileiros (SPB), e passou a ter o próprio código de banco, o 651.

Agora, a fintech está prestes a se tornar um participante direto no Pix, revela Fernando Pereira Cândido, fundador e CEO da fintech, ao Finsiders Brasil. De acordo com o empreendedor, a ideia é cada vez mais caminhar com as próprias pernas, ou seja, sem depender de serviços e produtos de terceiros. Assim, a Pagare prevê reduzir custos e aumentar a receita, diz Fernando.

Para 2025, a expectativa é triplicar o montante transacionado em suas soluções. Neste ano, a fintech deve alcançar R$ 5 bilhões, contra mais de R$ 1,2 bilhão em 2023. Hoje, o maior volume vem dos negócios de câmbio e pagamentos cross-border (transfronteiriços), conta o CEO. Porém, é a vertical de banking as a service (BaaS) que apresenta a maior receita.

Atualmente, a Pagare tem mais de 40 empresas como clientes. Entre eles está o grupo de real estate JHSF, para a qual a fintech emite o cartão de crédito American Express (Amex). Hoje, a Pagare tem sob seu guarda-chuva mais de 230 mil contas. “A carteira vai crescer porque estamos com diversos projetos em implantação neste momento”, diz o CEO.

A fintech oferece também tecnologias que permitem a companhias de diferentes setores atuarem com pagamentos e até crédito. Em cartões, por exemplo, a Pagare tem licença de emissor das bandeiras Amex, Elo e Visa, assim como planeja operar com a própria credenciadora em breve. Além disso, a fintech fornece infraestrutura para empresas que desejem montar sua esteira de crédito. “É só a tecnologia porque não podemos atuar com crédito em si”, explica Fernando.

Trajetória e concorrência

A história da Pagare, que adotou esse nome no fim de 2022, tem origem no mercado de fretes, após Fernando construir uma trajetória profissional no ramo de automação comercial, principalmente com foco em postos de combustíveis. Em meados de 2016, o empreendedor chegou a ter duas empresas, uma voltada para fretes e outra para frotas – essa última com alguns investidores.

Cerca de três anos depois, Fernando decidiu sair da sociedade do negócio de frotas e ficou apenas como sócio da RoadPass, de soluções de gestão de pagamentos de fretes. Com a pandemia da covid-19, a empresa quase quebrou. Com apoio de “anjos”, como Fernando define alguns profissionais e executivos do mercado financeiro que o ajudaram naquele momento, a RoadPass sobreviveu. E cresceu a ponto de precisar solicitar a licença de IP ao BC, no fim de 2022, mesma época em que virou Pagare.

Sobre futuro, o CEO não esconde o desejo de que sua fintech se torne um unicórnio – startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão. A meta é atingir o status mítico até 2026. No entanto, fugindo à regra, a Pagare nunca recebeu investimentos externos, e Fernando é o único sócio. Ele admite que isso é incomum e conta que constantemente recebe propostas de fundos e investidores. “Já atingimos o breakeven. A prioridade é para investidores estratégicos.”

Se depender da concorrência nos diversos segmentos em que atua, a vida da Pagare não será tão fácil. Um dos segmentos mais competitivos talvez seja o de BaaS, que tem nomes como BMP, Celcoin, QI Tech, Swap, entre outros. Segundo Fernando, um dos principais diferenciais da Pagare é a tecnologia desenvolvida internamente. “Temos mais de 1 mil APIs.”