O PicPay, o super app da J&F (holding da família Batista, que também é dona do Banco Original), acaba de virar banco múltiplo. O grupo pediu e obteve, há algumas semanas, aprovação do Banco Central (BC) para mudar o nome do Banco Original do Agronegócio para PicPay Bank. A informação consta do Diário Oficial da União, publicado no último dia 21 de junho.
Com a licença bancária, o PicPay vai conseguir destravar boa parte do valor depositado em conta para a operação. A fintech fechou o ano passado com R$ 6,3 bilhões em conta.
Procurado, o PicPay diz que o Banco Original do Agronegócio passou de instituição controlada direta para ser indiretamente controlada, ficando debaixo da holding do PicPay. A mudança faz parte de uma reorganização societária do conglomerado Original, controlado pela J&F. Em outras palavras, a fintech passa a ter sob sua estrutura uma instituição financeira, além de sua própria instituição de pagamentos (IP) emissora de moeda eletrônica.
“A reorganização melhora a estrutura de capital da companhia, dando ao PicPay maior autonomia e segurança para financiar os seus ativos, criar serviços financeiros e utilizar recursos que contribuem para a sua estratégia de crescimento”, informa a fintech, aos portais Fintechs Brasil e Finsiders.
O consultor Bruno Diniz, da Spiralem, lembra que ao acomodar licenças bancárias embaixo do guarda-chuva do PicPay o grupo segue o que outras fintechs vêm fazendo lá fora, comprando licenças bancárias para baratear o custo do capital.
“Também é bom lembrar que o PicPay engavetou os planos de abrir o capital na Bolsa até segunda ordem. Ouso dizer que a fintech foi além do que o Original foi enquanto banco digital e se tornou muito relevante para o grupo”, acrescentou.
Cada vez maior
A movimentação ocorre num momento em que o PicPay já se aproxima de 66 milhões de usuários e avança em sua estratégia para ser um super app. Além de pagamentos e serviços como conta digital remunerada, cartão e empréstimo, a fintech oferece um marketplace de produtos de terceiros.
Desde o ano passado, também passou a disponibilizar a modalidade de empréstimo entre pessoas (P2P lending), em uma operação viabilizada pela Crednovo, uma Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP) — que também faz parte do grupo J&F, da família Batista — que tem como CEO o executivo Raul Moreira.
Para diversificar os negócios e, claro, monetizar sua grande base de usuários, o PicPay vem ampliando o leque de ofertas.
Para citar alguns exemplos, em março o PicPay adicionou ao marketplace financeiro um seguro, que protege as transações de pagamento, produto desenvolvido em parceria com a seguradora Kovr.
No fim de junho, em conjunto com a Câmbio Online (que faz parte da Frente Corretora de Câmbio), a fintech passou a oferecer compra e venda de moeda estrangeira e transferências internacionais pelo app.
A empresa prepara, ainda, uma exchange para negociação de criptoativos, além de uma stablecoin própria, conforme disse Anderson Chamon, cofundador e vice-presidente de produtos e tecnologia do PicPay, ao site NeoFeed.
Na última linha do balanço, a fintech ainda opera no prejuízo. Terminou 2021 com perdas de R$ 1,9 bilhão, mais do que o dobro em relação ao ano anterior. Já as receitas líquidas totais cresceram 193% na mesma base de comparação, somando R$ 1,1 bilhão ao final de 2021.
Original
O Banco Original, por sua vez, vem apostando em um crescimento mais modesto, com foco em rentabilidade, conforme disse o presidente da instituição, Alexandre Abreu, em entrevista ao Finsiders, há quatro meses.
Na época, o Original anunciou seu primeiro lucro anual, de R$ 88 milhões, cinco anos depois da virada que transformou um banco de atacado voltado para o agronegócio em um banco digital.
Ao contrário de seus principais concorrentes, que investiram fortemente na expansão da base de correntistas, o Original não atingiu um número significativo até então — encerrou o ano passado com 5,7 milhões de clientes e prevê atingir 10 milhões até o fim de 2022.
O banco atua em cinco frentes de atuação: varejo; empresas (MEIs e companhias de micro, pequeno e médio porte); atacado; não correntistas; e plataforma aberta com a operação de banking as a service (BaaS) — aquela fonte da qual o PicPay bebe há alguns anos.
*Colaborou Danylo Martins, do Finsiders
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