TECNOLOGIA

Por que o novo executivo de TI da B3 está com a 'cabeça na nuvem'

Thiago Suzano vê oportunidades, mas também desafios, em combinar 'cloud' com microsserviços, APIs e inteligência artificial

Thiago Suzano/B3 - Imagem: Reprodução/LinkedIn
Thiago Suzano/B3 - Imagem: Reprodução/LinkedIn

De jogador de futebol de base do Palmeiras a executivo de tecnologia, com “tons” de guitarrista ao longo do percurso, o cientista da computação Thiago Suzano sempre gostou de experimentar — na vida e na carreira. Sua chegada à B3, há exatos quatro meses, é um reflexo disso, principalmente quando se fala em testar inteligência artificial (IA) e outros recursos tecnológicos para solucionar problemas do dia a dia.

O diretor de engenharia de software reconhece isso como uma oportunidade, mas também um de seus principais desafios à frente da área de tecnologia dos negócios de balcão da bolsa brasileira. A missão é cada vez mais combinar o uso de nuvem, microsserviços, APIs (sigla em inglês para interface de programacão de aplicações) e IA para levar a transformação tecnológica e digital da B3 ao próximo nível.

“O mundo de hoje é API. Então, temos que estar 100% à base de APIs com uma experiência lisa. E isso tem a ver com nuvem, que é resiliência, escalabilidade e eficiência do negócio”, diz Thiago, em entrevista exclusiva a Finsiders Brasil.

“Nosso desafio é deixar a plataforma tecnológica simples o suficiente para atender qualquer volume ou perfil de cliente. A ideia é virar um grande ‘Lego’ de tecnologia para nossos clientes — FIDCs, bancos e corretoras.”

Nova plataforma

No ano passado, a B3 iniciou a operação da Trademate, a nova plataforma de negociação de renda fixa. Desenvolvida totalmente em nuvem, ela substituirá gradativamente o sistema de negociação Trader. A iniciativa faz parte do processo de migração para cloud que a companhia vem desenvolvendo desde 2022, quando firmou parcerias de 10 anos com as big techs Microsoft e Oracle.

De acordo com a B3, os títulos públicos federais foram os primeiros produtos a serem negociados nesta nova plataforma. Em março, os Créditos de Descarbonização (CBIOs) também ‘viraram a chave’ para este modelo, no mercado secundário.

Conforme a empresa, nos próximos meses, o Trademate receberá, ainda, a migração dos títulos privados como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRIs), Cotas de Fundos Fechados (CFFs) e debêntures.

“Acabamos de lançar um MVP para conectar emissores e distribuidores de papéis de renda fixa, usando a nuvem. Pense que, antigamente, esses caras se falavam por telefone para fechar as emissões. Mas o que vem pela frente é o mais legal: vamos poder colocar nessa plataforma em nuvem qualquer produto de renda fixa”, conta o diretor. 

IA, formação e diversidade

Apaixonado por tecnologias que resolvem problemas, Thiago enxerga que a IA está começando a ter esse atributo. Em sua área, por exemplo, a modernização de códigos de uma linguagem de programação para outra bebe da fonte de ferramentas baseadas em IA. “Também somos capazes de gerar novos códigos passando instruções de negócio para a IA. Temos usado bastante, inclusive, para automatizar testes. A aceleração da produtividade é algo bizarro.”

Na visão do executivo, a inteligência artificial não vai tirar emprego de ninguém. Porém, ameaçará — e já está ameaçando — o trabalho daqueles desenvolvedores que não souberem atuar com IA. A área liderada por ele na B3, inclusive, aposta em treinamento constante e aplicação do que foi aprendido no dia a dia.

“Temos um ambiente fechado do GPT para poder usar. Além disso, somos heavy users do Microsoft Copilot.” 

Em outra frente, Thiago reforça a preocupação com diversidade e inclusão no mercado de tecnologia. Aliás, a falta de representatividade feminina nessa área se soma a um setor financeiro historicamente também liderado por homens. Pesquisa recente da Serasa Experian, por exemplo, indica que, de um grupo de 93,3 milhões de pessoas do gênero feminino, apenas 0,07% (ou 69,8 mil profissionais) atuam em tecnologia no Brasil. 

“Nos últimos três meses, por exemplo, contratamos 14 mulheres que estão fazendo transição de carreira para tecnologia”, conta o executivo. Ele cita, ainda, iniciativas da B3 para incluir e desenvolver mulheres nessa área, entre elas, o programa de estágio Manas da Tech e o <Dev>ª, formação em tecnologia exclusiva para mulheres, em parceria com a Ada Tech.