Denise Ramiro
O PIX já se mostrou um sucesso nacional, para o bem e para o mal. A velocidade com que a população brasileira adotou o produto, surpreendeu a todos. O próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, espantou-se esta semana ao saber que 40 milhões de pessoas fizeram a sua primeira transação eletrônica pelo Pix. Mas o sucesso também chamou a atenção dos criminosos, acendendo a luz amarela no Banco Central (BC), que adotou regras para evitar fraudes e responsabilizar as instituições que oferecem o produto e não garantem a segurança dos usuários. Algumas já estão valendo desde o dia 4, e outras começam em 16 de novembro.
Especialistas e executivos da área de fintechs, ouvidos pelo portal Fintechs Brasil, aprovam as medidas do regulador por acreditarem que elas trarão mais segurança para usuários e instituições, mas estão cientes de que precisarão investir em segurança contra fraudes. Antes do Pix, muitas instituições não tinham opção de movimentação financeira instantânea, e ela veio a galope, sem dar tempo suficiente para a adaptação completa dos players financeiros.
“Embora a estrutura do Pix e das instituições financeiras possuam um elevado grau de segurança, ainda há o risco da exposição na ponta final”, diz Fernando Nunes, cofundador e diretor comercial da Transfeera, especialista em soluções e tecnologia financeira. Segundo ele, o usuário pode ser enganado por golpistas que utilizam de técnicas de engenharia social para obter informações sigilosas, entre outras técnicas que envolvem roubo de celular ou obrigar o consumidor a realizar uma transação dentro dos padrões normais.
De acordo com Carlos Augusto de Oliveira, CEO da Certdox, fintech especializada na integração de operações financeiras com entidades oficiais de registro, o regulador tinha que fazer essas implementações, porque os ruídos e repercussões de fraudes estavam ficando insustentáveis. “O BC teve uma medida correta, inclusive por introduzir uma solução de visão integrada, muitas dessas medidas, como a limitação valores em transações noturnas, por exemplo, valem não só para o PIX, mas para o TED e o DOC, alternativas de meios de pagamentos que estão exigindo que as instituições corram para se adequar”, diz Oliveira.
A adaptação das fintechs às novas regras, segundo Oliveira, pode vir de ferramentas que estão disponíveis nas próprias plataformas digitais e que trazem uma série de informações que podem ajudar a proteger o cliente. Ele cita, por exemplo, o GPS, que permite saber onde o cliente está. “Se o cliente está de madrugada fazendo uma transação fora do perfil dele, de valor alto e para pessoa física, a probabilidade de aquilo não ser o desejo do cliente é muito grande. Ele (fintech) pode, então, criar estratégias como pedir dados adicionais ao usuário ou bloquear o produto em caso de suspeita”, acrescenta Oliveira.
“Acredito que, em breve, o Banco Central também deve trazer mais novidades quanto ao processo de Know Your Customer (conjunto de ações e estratégias dentro das políticas de compliance de uma startup, que diz respeito à prevenção de crimes, fraudes de identidade e lavagem de dinheiro) para as instituições financeiras, diz Nunes. “A facilidade em mover dinheiro que o Pix apresenta sempre existiu no sistema financeiro nacional, considerando o que já tínhamos com a transferência TED, a principal alteração foi a comodidade de fazer isso a qualquer hora — e com essa mudança, vêm os desafios”, diz Nunes.
Investimento em segurança
O country leader no Brasil da Clara, startup latino-americana de solução para gestão de despesas de empresas, Layon Costa, acredita que as mudanças são positivas pois visam maior segurança às fintechs e aos clientes em suas operações por Pix. Ele não acha, a princípio, que haverá a necessidade de aumentar o custo na empresa com segurança em relação ao Pix. “As novas regras dão maior segurança às operações e devem ser benéficas às operações cliente-empresa, evitando custos extras de ressarcimento, por exemplo”, diz ele. Segundo Costa, a mexicana Clara está montando seu lançamento no Brasil com níveis altos de segurança que visa atender essa e qualquer outra necessidade de proteção ao usuário. “O investimento em segurança já estava nos planos iniciais da empresa e não acarretará em maior custo aos seus clientes”, afirma.
Apesar de limitarem de certa forma a utilização do Pix para pagamentos entre pessoas físicas, Paulo Oliveira Andreoli, head de OmniFinance, responsável pela área de open banking e soluções de pagamento no grupo FCamara, não vê retrocesso no produto com as novidades do regulador, já que as medidas trazem maior controle para que cada pessoa possa definir seus limites de transações Pix durante o dia e à noite. “Essas alterações irão aumentar a segurança do Pix sem limitar de forma significativa a possibilidade de fazer transferências e pagamentos Pix. Pode, inclusive, até fazer com que pessoas que antes pudessem ter algum receio de fazer pagamentos com Pix passem a sentir mais segurança e comecem a usar este meio de pagamento”, conclui.
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