Após dois anos de desenvolvimento, a plataforma Seu Ativo chega ao mercado com a proposta de ser uma “bolsa de duplicatas” para investidores. A ideia é reunir e compartilhar todas as informações disponíveis sobre os títulos para dar mais segurança aos investidores.
“Eles não vão emprestar dinheiro aos detentores das duplicatas, eles vão efetivamente comprá-las”. A explicação é do CEO Wagner Murgel, que fundou a startup com os sócios Horst Müller e César de Souza Lima. Segundo ele, ao fomentar a negociação, a plataforma vai “um passo além” do que fazem as registradoras. E também do que o próprio Banco Central (BC) está regulamentando.
Em entrevista exclusiva ao Finsiders Brasil, Wagner disse que a proposta da plataforma é atrair os “donos” das duplicatas, registrar os títulos em uma infraestrutura específica (no caso deles, por enquanto, apenas na Cerc), buscar as informações, analisar e precificar os papéis. “Nosso objetivo é oferecer ao investidor uma visão clara e independente do emissor, com foco na qualidade do título e do ‘sacado’, e não no perfil do vendedor”.
De investimentos ele entende: trabalha na área há 30 anos. Começou a carreira em gestoras de bancos americanos (Citi, Salomon Brithers, JP Morgan), depois foi para a Neo Investimentos, onde ficou por 11 anos. Mais recentemente foi CEO e diretor da Fator Administração de Recursos e superintendente de Wealth Management do Banco Votorantim, de onde saiu para fundar a Seu Ativo.
Inspirado no Open Finance
Que informações são essas? “Todas as informações e históricos das transações comerciais que sustentam cada duplicata, acompanhando cada etapa por meio de documentos fiscais. Ao mesmo tempo, o compartilhamento de dados para melhorar o acesso ao dinheiro está em linha com o espírito do Open Finance”, explica o sócio.
E qual a vantagem de oferecer aos investidores opção de escolher duplicatas com base no perfil de crédito das empresas devedoras? “Se uma duplicata é emitida por uma grande rede de varejo, o investidor adquire o título com base no risco dessa rede, o que reduz custos e amplia o interesse pelo ativo”, explica Wagner.
O processo de liquidação das duplicatas ocorre em parceria com a Celcoin, Instituição de Pagamento que direciona os recursos na data do seu vencimento diretamente para o investidor. Ou seja, o dinheiro nem passa pela conta do titular original da duplicata. “A liquidação é feita diretamente para o investidor, sem intermediários que possam dificultar o fluxo de recursos”, afirma Wagner. Com boletos vinculados às duplicatas, a Seu Ativo garante que, ao serem quitados, os valores vão automaticamente para a conta do investidor na instituição parceira.
Inclusão nas duas pontas
Além de atrair investidores institucionais, a Seu Ativo quer incluir investidores de menor porte que, atualmente, não têm acesso a ativos com o perfil de risco de uma grande empresa. “Nossa ideia é que o investidor menor possa acessar o tipo de ativo que, normalmente, seria restrito aos grandes fundos. Na plataforma, ele pode adquirir uma duplicata com o risco de uma empresa como a Coca-Cola, por exemplo, participando de um mercado que até então estaria fora do seu alcance”, explica Wagner. Esse modelo também abre espaço para empresas de menor porte, que passam a contar com mais alternativas para o fluxo de caixa.
“O mercado de duplicatas movimenta em torno de R$ 15 trilhões por ano. Portanto, é cinco vezes maior que o de recebíveis de cartão e tem potencial para ganhar a mesma relevância com o avanço das regulamentações. A diferença é que estamos lidando com um setor mais complexo, o que exige um trabalho inicial de adaptação”, destaca Wagner.
Na fase atual, a Seu Ativo está cadastrando seus primeiros clientes e investidores. “Estamos trazendo empresas que buscam alternativas ao crédito tradicional e fundos que procuram ativos de qualidade”, explica o empreendedor. A remuneração da plataforma se dá por uma taxa de intermediação sobre o desconto aplicado na duplicata, calculada com base no prazo e valor da operação. A taxa é transparente e apresentada para ambas as partes, proporcionando previsibilidade de custos. “Cobramos uma taxa sobre o desconto, e o investidor vê o valor que ele de fato vai receber, enquanto a empresa visualiza o quanto vai pagar”, comenta Wagner.