A SuperSim, fintech de crédito online fundada no final do ano passado pelo canadense Daniel Shteyn e pelo brasileiro Antonio Brito, vai “alugar” seu modelo de negócio e sua tecnologia de análise de crédito subprime (para clientes de alto risco das classes C e D) a bancos, financeiras e outras fintechs interessadas em oferecer crédito para esse perfil de tomador. O negócio é conhecido no exterior como “lending as a service” – ou empréstimo como serviço.
Shteyn já foi executivo de multinacionais e morou em diversos países, mas disse que o Brasil é muito difícil de compreender: “Tem um sistema financeiro muito sofisticado e organizado, tem mercado consumidor, uma economia forte apesar dos problemas – não tem por que os bancos cobrarem juros e spreads tão altos, de até 15% ao mês, de clientes com baixíssimo nível de risco”, diz.
“Aqui, os desbancarizados, sem renda estável, sem garantias para apresentar e/ou negativados não tem opção: ou recorrem a agiotas ou ficam fora do sistema. São mais de 60 milhões de brasileiros que não têm crédito e não consomem, vivem com o dinheiro que tem em caixa; por isso o país não cresce. Queremos mudar esse cenário”, explica o canadense, reforçando seu foco no “subprime profundo”.
Lançada no ano passado, a SuperSim cresceu muito na pandemia devido ao aumento na procura por empréstimos de baixo valor. “Hoje fazemos por dia o memso volume de peracões que fazíamos em um mês no ano passado”, revela. Além da tecnologia envolvida nas análises de crédito, a fintech tem um modelo de negócio próprio que inclui, por exemplo, a aceitação de aparelhos celulares como garantia. É isso tudo, empacotado, que quer “alugar” para outros players.
Entenda o LaaS
Em vez de um marketplace de empréstimos no estilo peer-to-peer, o LaaS fornece software para varejistas, bancos e outras empresas cujos clientes possam precisar de financiamento. O provedor de LaaS realiza avaliação de risco, subscrição e financiamento, com a vantagem de a marca ser dada ao parceiro que origina o empréstimo. “Muitas fintechs no Brasil apenas repassam recursos de outros bancos, não são credores, são revendedores. Nosso modelo é outro, ainda não temos concorrência. Queremos concorrência, acredito que em breve teremos.”
Os clientes da SuperSim têm renda mensal entre um e dois salários mínimos e tomam créditos em torno de R$ 1 mil, pelo qual pagam prestações de R$ 200. Além da garantia inusitada, a fintech cobra taxas altas a princípio, algo como 15% ao mês. Mas as taxas são decrescentes e os limites e prazos são crescentes na medida em que o cliente vira “freguês”. “É uma maneira de controlar a inadimplência e de estimular a recorrência”.
O nome SuperSim foi escolhido exatamente para deixar explícito que a fintech pretende “dizer dez vezes mais sim” para quem só ouve “não” dos bancos. No entanto, ela tem seus próprios filtros: apesar de receber cerca de 100 mil pedidos de empréstimo mensalmente, ainda reprova a maior parte. “Aos poucos, queremos resgatar os negativados, e reintegrá-los ao sistema”, diz.
A SuperSim captou recentemente R$ 30 milhões em uma rodada de securitização, na qual a Navi foi a principal investidora. A fintech já recebeu aportes de alguns investidores e da Distrito Ventures. A fintech não é o primeiro empreendimento de Shtyen no Brasil: em 2016, lançou a Rebel, para atender classes A e B*. Em 2018 ele saiu do dia a dia da Rebel, mas permanece no Conselho. Voltada para as classes A e B, a fintech foi avaliada como uma das 50 mais promissoras do mundo, segundo a consultoria KPMG. Em 2019, após uma nova rodada de investimentos a Rebel recebeu um aporte de US$ 10 milhões, liderado pelos fundos de investimentos Monashees e Fintech Collective.