ENTREVISTA

Topaz aposta na globalização, Pix, IA e aquisições para faturar R$ 1 bi em 2025

"Nosso grande objetivo é nos tornarmos uma plataforma financeira global, oferecendo soluções inovadoras que possam ser escaladas"

Jorge Iglesias/Topaz
Jorge Iglesias/Topaz | Imagem: divulgação

A Topaz, empresa brasileira de tecnologia financeira do grupo Stefanini, acaba de conquistar a licença de Provedor de Serviços de Tecnologia da Informação (PSTI) do Banco Central, o que a habilita a processar transações via Pix para instituições financeiras. Novas aquisições – acaba de anunciar a compra de 60% da Info Solutions, para entrar no mercado de private banking -, uso da inteligência artificial (IA) e a globalização da “persona financeira”, além do Pix, são as apostas da techfin para crescer. A meta é chegar a um faturamento de R$ 1 bilhão no final do ano que vem.

Segundo diz Jorge Iglesias, CEO da empresa, a Topaz está também em fase final de aquisição de uma empresa colombiana para crescer no setor de pagamentos.

Em relação à licença de PSTI, Jorge conta que foram dois anos de espera. “A conquista faz parte da estratégia de expansão e consolidação como líder em transformação digital no setor bancário. Queremos oferecer uma plataforma cada vez mais completa.”

Com mais de 2 mil colaboradores, a Topaz tem 300 clientes em 25 países (metade no Brasil). A meta de faturar R$ 1 bilhão no ano que vem incluir um plano ambicioso de entrada nos Estados Unidos. A empresa vê grandes oportunidades de inovação tecnológica em mercados mais maduros, mas que ainda apresentam defasagem na tecnologia bancária, como os EUA.

Nessa entrevista exclusiva ao Finsiders Brasil, concedida na sede da empresa em São Paulo, Jorge falou sobre os planos de crescimento, a importância da tecnologia para o setor financeiro e como a IA está mudando a forma como os bancos operam.

Acompanhe:

Finsiders Brasil: A Topaz acaba de obter a licença de PSTI do Banco Central. Qual é importância para a estratégia da empresa?

Jorge Iglesias: Receber essa licença é um marco para nós. Somos agora a quinta empresa no Brasil a ter essa homologação, o que nos habilita a processar transações de Pix para nossos clientes, com os mais aprimorados e recentes padrões de segurança e eficiência determinados pelo BC. Com isso, ampliamos o portfólio de soluções digitais para o setor financeiro, reforçando nossa posição como parceiro estratégico das instituições em suas jornadas de transformação digital. Para nós, não se trata apenas de fornecer uma tecnologia robusta, mas também de garantir que nossos clientes possam operar com a máxima segurança e disponibilidade, que são exigências fundamentais no mercado atual.

Finsiders Brasil: Qual a diferença entre ser um PSTI e um fornecedor de software as a service (SaaS) no caso do Pix?

Como PSTI, a Topaz tem controle direto sobre a operação do Pix, permitindo oferecer uma solução completa, desde o software até o processamento em si, sem precisar depender de terceiros. Isso aumenta a nossa capacidade de garantir eficiência, segurança e rapidez em todos os aspectos das transações via Pix

Segurança

Jorge Iglesias: Como SaaS, a empresa ofereceria apenas uma camada de software, sem a responsabilidade completa pela infraestrutura e pelo processamento das transações​

Finsiders Brasil: Você mencionou a importância da segurança e disponibilidade. Como a Topaz está lidando com os desafios crescentes de segurança cibernética, especialmente em um ambiente tão crítico como o financeiro?

Jorge Iglesias: A segurança cibernética é um dos pilares da nossa atuação. Sabemos que o setor financeiro é um dos mais visados por ataques, e por isso temos investido fortemente em tecnologias de proteção de dados e prevenção de fraudes. A licença de PSTI foi concedida pelo Banco Central já com os novos padrões de segurança, o que nos coloca à frente em termos de compliance e aderência às melhores práticas globais. Além disso, adotamos uma abordagem de monitoramento contínuo para identificar e mitigar riscos em tempo real. Acreditamos que esse é um diferencial fundamental, especialmente num ambiente em que a confiança dos clientes é essencial.

Finsiders Brasil: Recentemente, a Topaz adquiriu uma empresa de wealth management. Como essa aquisição se alinha aos planos estratégicos da Topaz?

Jorge Iglesias: Essa aquisição faz parte da nossa estratégia de expansão para o mercado de private banking. A Topaz sempre foi muito focada em oferecer soluções completas para as instituições financeiras, e a entrada no setor de gestão de patrimônio amplia nosso escopo. Estamos falando de uma solução que já opera tanto no Brasil quanto no exterior, o que fortalece nossa capacidade de atender um leque ainda maior de clientes, incluindo aqueles que demandam serviços de gestão de riqueza e planejamento financeiro.

Finsiders Brasil: E como a Topaz está se preparando para entrar no mercado norte-americano? Quais são os principais desafios e oportunidades que vocês enxergam nos Estados Unidos?

Internacionalização

Jorge Iglesias: O mercado norte-americano é imenso e muito competitivo, mas também vemos uma grande oportunidade, especialmente no setor financeiro, que está relativamente atrasado em termos de tecnologia bancária. A entrada nos EUA faz parte dos nossos planos de expansão global, e nossa expectativa é estar plenamente operando lá até 2025. Nossa experiência em mercados emergentes, como o Brasil e América Latina como um todo, nos deu uma vantagem em desenvolver soluções que são não apenas tecnológicas, mas também escaláveis e adaptáveis.

Nos Estados Unidos, acreditamos que há uma grande demanda por inovações em áreas como pagamentos instantâneos e bancos digitais, onde o Brasil, por exemplo, já está muito mais avançado. Nossa missão é levar essas inovações para o mercado norte-americano e ajudar a modernizar o setor bancário por lá.

Finsiders Brasil: Como você enxerga o futuro da tecnologia no setor bancário, especialmente com o uso crescente de inteligência artificial?

Jorge Iglesias: A inteligência artificial (IA) já está transformando o setor bancário de diversas maneiras. Na Topaz, temos utilizado IA tanto para otimizar nossos processos internos quanto para desenvolver novos produtos voltados ao cliente. Por exemplo, lançamos recentemente o “banco empático“, um banco conversacional que usa IA para personalizar o atendimento. O grande diferencial desse sistema é que ele consegue entender o tom de voz e o estado emocional do cliente, permitindo um atendimento mais humanizado.

A IA também está sendo aplicada para prever comportamentos financeiros dos usuários, recomendando investimentos, ajustando planos de gastos e até sugerindo economias, tudo com base em dados preditivos. Acredito que o futuro dos bancos está na capacidade de oferecer um serviço cada vez mais personalizado, e a IA será fundamental nesse processo.

Finsiders Brasil: O “banco empático” já está em uso?

Jorge Iglesias: Tem clientes, ainda estamos em fase de testes com um grande banco, que eu não posso falar. E tem mais três ainda em datas para testar.

Finsiders Brasil: Além do “banco empático”, que outros produtos a Topaz tem lançado no mercado com uso da IA?

IA e novos produtos

Jorge Iglesias: Então, nós temos hoje um conceito de Full Bank Platform, ou seja, uma plataforma Full Bank que tem todos os produtos que uma instituição financeira precisa para se transformar, ser mais tecnológica, ser mais digital. Nós temos hoje um roadmap evolutivo muito grande de produtos, de novos produtos. Vamos usar IA para desenvolver produtos dentro da Info Solutions também. Também investimos em prevenção de fraudes com sistemas que utilizam IA para monitorar transações em tempo real e identificar padrões suspeitos. Outra área de foco é a criação de produtos voltados ao compliance, que ajudam nossos clientes a se adequarem às regulamentações de maneira mais eficiente e automatizada. A ideia é sempre estar à frente, oferecendo soluções que não só resolvem problemas, mas que também antecipam as necessidades do mercado.

Finsiders Brasil: O Brasil tem sido um grande case de sucesso em termos de inovação financeira, e o Pix é um dos principais exemplos. Você acha que o país continuará liderando nessa área?

Jorge Iglesias: O Brasil é, sem dúvida, um dos países mais avançados em termos de tecnologia bancária. O Pix é um exemplo claro disso, sendo uma referência mundial em pagamentos instantâneos. A adoção do Pix foi massiva, e o mais impressionante é que ele continua evoluindo. Hoje, não se trata apenas de transferir dinheiro, mas de pagar contas, fazer compras, até mesmo realizar transações por aproximação. A Topaz tem sido um parceiro estratégico nessa jornada, ajudando a implementar tecnologias como o Pix em outros países da América Latina. Acredito que o Brasil continuará a liderar em inovação financeira, especialmente com a crescente adoção de tecnologias como open finance e moeda digital.

Escala global

Finsiders Brasil: Falando em expansão para outros países, quais são as estratégias da Topaz para levar as tecnologias desenvolvidas no Brasil para mercados internacionais?

Jorge Iglesias: Nossa estratégia é clara: levar as tecnologias que desenvolvemos aqui no Brasil, que já são testadas e bem-sucedidas, para outros mercados. Temos um grande foco na América Latina, onde muitos países estão começando a implementar pagamentos instantâneos e estão olhando para o Brasil como modelo. Estamos exportando a tecnologia do Pix, por exemplo, para países como o México e a Colômbia. Além disso, temos um interesse crescente no mercado europeu e, claro, nos Estados Unidos, que são nossos próximos grandes alvos. A Topaz já opera em 25 países, e nossa meta é continuar expandindo, sempre adaptando nossas soluções às necessidades locais, mas mantendo a mesma qualidade e inovação que oferecemos aqui.

Finsiders Brasil: O conceito de globalização no setor financeiro é algo que tem ganhado força. Você mencionou anteriormente a ideia de uma única “persona” financeira global. Pode explicar melhor como a Topaz enxerga essa evolução?

Hoje, vivemos em um mundo onde nas redes sociais, por exemplo, você é a mesma pessoa em qualquer lugar – seja no Brasil, na Argentina ou nos Estados Unidos. No entanto, no mundo financeiro, isso ainda não acontece. Se você tem uma conta em um banco brasileiro, e outra nos Estados Unidos ou no Uruguai, você é tratado como uma persona diferente em cada uma dessas instituições. O grande salto que esperamos é a unificação dessa identidade financeira global.

Jorge Iglesias: Nós acreditamos que o futuro do setor financeiro será cada vez mais globalizado. Imagine um cenário onde você pode acessar produtos financeiros de qualquer lugar do mundo, independentemente das fronteiras. Hoje, você pode comprar produtos da China facilmente, mas não pode acessar serviços financeiros de lá com a mesma facilidade. Isso vai mudar. O conceito de persona global no setor financeiro é algo que acreditamos que será inevitável, e a Topaz está se preparando para esse futuro​.

Persona única

Finsiders Brasil: Essa ideia de persona global envolve a quebra de barreiras entre mercados financeiros. Quais são os sinais dessa evolução que vocês já estão observando?

Jorge Iglesias: Estamos vendo sinais claros dessa evolução. A popularização das contas globais e a facilidade de fazer transferências internacionais são exemplos disso. Antigamente, para fazer uma transferência entre países, era necessário um processo burocrático, com taxas elevadas e demoras. Hoje, com a digitalização dos serviços financeiros, você consegue fazer uma transferência da palma da mão, e em questão de minutos o dinheiro já está na conta em outro país. Além disso, a moeda digital é outro avanço importante. O Drex no Brasil e outras iniciativas ao redor do mundo estão pavimentando o caminho para uma globalização financeira ainda maior. Tudo isso aponta para um futuro onde as barreiras financeiras serão muito menores​.

Finsiders Brasil: E o que a Topaz está fazendo para se posicionar nessa transformação global?

Jorge Iglesias: Estamos muito atentos a esses movimentos e nos preparando para liderar essa transformação. A Topaz já está presente em 25 países, e nossa plataforma é construída para ser escalável e adaptável a diferentes mercados. Nossa estratégia de expansão é clara: levar as tecnologias que desenvolvemos no Brasil, que já são um sucesso, para outros mercados. Estamos mirando os Estados Unidos, onde vemos uma grande oportunidade de modernização do setor bancário. Sabemos que a tecnologia bancária nos EUA está atrasada em comparação com o Brasil, e é nesse gap que queremos atuar. Estamos também investindo em nossa expansão na Europa e em outros países da América Latina, levando soluções como o Pix e o Open Banking para esses mercados.

Próximos passos

Finsiders Brasil: Para finalizar, quais são os próximos passos para a Topaz? O que podemos esperar da empresa nos próximos anos?

Jorge Iglesias: A Topaz está em uma fase de crescimento acelerado, e nosso foco principal é continuar expandindo tanto em termos de produtos quanto de presença geográfica. Além da nossa entrada no mercado norte-americano, temos uma forte estratégia de aquisições para complementar nosso portfólio. Recentemente, adquirimos uma empresa de pagamentos na Colômbia, por exemplo, que vai nos ajudar a fortalecer nossa presença na região. Também estamos de olho em outras oportunidades de M&A em países estratégicos. Nosso grande objetivo é nos tornarmos uma plataforma financeira global, oferecendo soluções inovadoras que possam ser escaladas em diferentes mercados. A tecnologia bancária está mudando rapidamente, e queremos estar na vanguarda dessa transformação.