Depois de ajudar na estruturação do primeiro CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) emitido sem garantias reais e sem seguro de crédito, que resultou na captação de R$ 63,3 milhões para sete grupos de produtores junto a um fundo de investimentos dos Estados Unidos, a fintech Traive pretende viabilizar a emissão de mais R$ 1 bilhão até 2024. “Queremos fazer mais duas ou três operações em 2021. Já estamos sendo procurados por investidores”, diz Luís Lapo, diretor de riscos da fintech.
A Traive é especializada em análise de crédito de produtores rurais, desenvolvida com base em inteligência artificial. A fintech nasceu há três anos nos Estados Unidos, como resultado da tese de mestrado dos seus sócios, Aline e Fabricio Pezente. “É lá que está o dinheiro. Mas os investidores estrangeiros até agora não gostavam do setor, pela dificuldade de classificar o risco dos produtores. Usamos tecnologia avançada para isso”, explica Lapo. “”Qualificamos o risco de crédito das empresas da cadeia do agronegócio e buscamos dinheiro nos EUA. Conseguimos estruturar uma operação no mercado de capitais, mais barata do que nos bancos e, ainda por cima, sem garantias, sem seguro de crédito, sem análise de rating e sem intermediários – somente a securitizadora. Os investidores trocam incertezas por algo mensurável em termos de risco/retorno”.
Lapo explica que a operação tem seguro apenas contra imprevistos do clima. “Numa operação tradicional de securitização, o seguro de crédito encarece demais; e o investidor acaba comprando o risco da seguradora, não do produtor, ou seja, sobra pouco dinheiro para quem está na ponta precisando dos recursos”.
Outro ponto importante é que o financiamento está amarrado a um compromisso: os produtores precisam investir parte do dinheiro em ações para garantir a sustentabilidade dos seus negócios. “O estrangeiro acha que o produtor rural brasileiro faz tudo errado, desmata, polui e não conserva. Essa garantia também funcionou como atrativo”, diz Lapo.
“Nos últimos dois anos vimos desenvolvendo tecnologia proprietária, é o nosso diferencial, o coração da empresa. E esse é o outro motivo para estar nos EUA: a maior disponibilidade de mão de obra qualificada”, diz. “Depois dessa experiência que deu certo queremos expandir, testamos nossa tese e com o feedback vamos melhorar e automatizar o processo. Foi pontapé inicial da nova matriz de financiamento do agro brasileiro – hoje quem financia o campo no Brasil ou são os bancos públicos (com subsídios) ou agroindústrias vendendo insumos a prazo”, lembra Lapo.
Para bancar a expansão, a Traive já pensa em fazer uma nova rodada de investimentos no segundo semestre. A fintech já fez duas captações – a mais relevante foi no final do ano passado, com a segunda rodada de capital semente, liderada pela SP Ventures, que levantou R$ 14 milhões.