Dario Palhares
O Will Bank, que opera cerca de 3,5 milhões de cartões de crédito e débito e contas digitais, vai reforçar sua aposta nas camadas de menor renda da população. Com 60% de sua clientela concentrada no Nordeste, a maioria em municípios com menos de 100 mil habitantes, a fintech capixaba, que se orgulha de ter entregue a algo em torno de 1,1 milhão de cidadãos brasileiros suas primeiras moedas de plástico, programa, para os próximos meses, o lançamento de sua carteira de empréstimos pessoais e de uma conta digital voltada a um público com baixa pontuação de crédito.
“A linha de crédito pessoal começará a ser testada a partir de novembro. A sua apresentação oficial está prevista para o início do próximo ano”, comenta o CEO e cofundador da casa, o paraibano Felipe Félix, cujos pais vivem na pequena Matões do Norte, no interior do Maranhão.
Para tornar o produto mais palatável à sua clientela, que tem reduzido poder de consumo, a startup pretende lançar mão de dois expedientes. Além de juros mais em conta, o crédito pessoal será totalmente desvinculado dos cartões de crédito da casa, utilizados em 70% das transações para compras de itens básicos, como alimentos, produtos de higiene e limpeza, e vestuário.
“A ideia é oferecer crédito adicional, para que eles não precisem utilizar os limites de seus cartões em compras de bens de maior valor”, assinala Félix. “As taxas de financiamento vão oscilar na faixa de 2% e 3% ao mês, abaixo do patamar médio de mercado, que vai de de 2% a 5% ao mês.”
Criada em maio de 2017, de início com a denominação Pag!, o Will Bank traça grandes planos a médio prazo. Até meados da década, a meta é elevar o volume de transações com cartões em cerca de 60%, para R$ 13 bilhões, e superar a marca de R$ 20 bilhões nas contas digitais, superando em 70% o montante registrado no fim do último ano. Para isso, a fintech planeja, entre outras iniciativas, turbinar o seu market place, a Loja Will, e abordar um público até afora desprezado: os aspirantes a seus cartões de crédito que têm propostas de adesão recusadas.
“De um total de 1,5 milhão de pedidos apresentados a cada mês, só aprovamos 150 mil”, observa Félix. “A partir do primeiro trimestre de 2023, vamos contemplar parte desses 1,35 milhão de candidatos com uma conta digital simplificada, sem cartão de crédito. Dessa forma, vamos ajudá-los a elevar seus scores de crédito, o que os credenciará, no futuro, a terem nossos cartões.”
Já o market place começou a ganhar contornos no primeiro semestre, com a aquisição do controle acionário da Getmore, startup especializada em cash back, que operava plataformas do gênero para Bradesco, Odontoprev e Riachuelo, entre outros nomes de expressão. O negócio, que antecipou o ingresso do Will Bank no segmento em cerca de um ano, segundo Félix, já conta com 254 parceiros – casos de Magazine Luiza, Amazon, AliExpress, Renner, Natura, O Boticário e Fast Shop – passará a oferecer, em breve, produtos de crédito da fintech. O lançamento, em grande estilo, será realizado nas próximas semanas, preparando o terreno para a Black Friday de 2023. “A expectativa em relação à Loja Will é de um movimento de R$ 100 milhões na Black Friday do próximo ano e de um volume por volta de R$ 1,5 bilhão nos 12 meses seguintes”, diz Félix.
Controlado pela família Piana, do Grupo Avista, e Félix, o Will Bank – que recebeu um aporte de R$ 250 milhões da XP Private Equity e da gestora Atmos Capital, em julho de 2021 –, planeja a promoção de uma rodada de captação de recursos num prazo de 18 meses. Os recursos captados serão utilizados, assim como da vez passada, para atender as exigências de capital regulatório por parte do Banco Central. A médio prazo, eventualmente, outras rodadas poderão ser realizadas para viabilizar o projeto de internacionalização da casa, que já começa a ser rabiscado por Félix e seus pares.
“Nossa prioridade absoluta no momento é o mercado local, mas até o fim da década pretendemos colocar o pé fora do Brasil”, diz ele. “O foco da expansão será a América Latina, onde há cerca de 200 milhões de desbancarizados. Não dá para ignorar um mercado com essas dimensões.”