Na contramão de muitas startups e empresas de tecnologia, que reduziram os quadros de funcionários para enfrentar a crise, a fintech britânica Wise (antiga TransferWise) — especializada em transferências internacionais — não só está contratando, como planeja quadruplicar a equipe no Brasil nos próximos 12 meses.
Hoje com cerca de 25 pessoas dedicadas à operação local, a expectativa é ultrapassar 100 até o terceiro trimestre de 2023, revela Pedro Barreiro, líder de banking e expansão da Wise no Brasil, com exclusividade ao Finsiders. “Estamos expandindo e crescendo, e continuamos trabalhando com o modelo híbrido.”
O país é um dos cinco mercados com maior potencial de crescimento para a companhia, diz o executivo, que foi gerente de operações no Ebanx e chegou à Wise há pouco mais de dois anos com a missão de expandir a operação local da fintech, inaugurada em 2016.
Para suportar a ampliação do time, no início do mês, a Wise transferiu seu escritório na cidade de São Paulo para um andar inteiro em um edifício do WeWork, na região da avenida Paulista. Ao todo, a fintech tem 18 escritórios no mundo todo, com a central localizada em Londres.
Segundo Pedro, os profissionais têm flexibilidade para trabalhar fisicamente ou de maneira remota, e isso está ligado diretamente à cultura da empresa globalmente. O próprio executivo fica baseado em Londres. “Temos um modelo de trabalho muito autônomo. Damos autonomia para que as pessoas tomem as decisões de como a empresa deve crescer no futuro.”
Além do trabalho híbrido, o executivo cita alguns benefícios que considera diferenciais da Wise para atrair e reter talentos. Um deles é o novo padrão mínimo para a política global de licenças, que inclui 18 semanas de licença parental totalmente paga para nascimento e adoção, independentemente do sexo; mínimo de 33 dias de licença remunerada; e a inclusão de três dias livres por ano para funcionários usarem como quiserem.
A companhia também oferece um período sabático pago de seis semanas para colaboradores que completam quatro anos de serviço na empresa. Além disso, os profissionais podem trabalhar nos escritórios da Wise temporariamente fora de seu país empregador, por até 60 dias, respeitando as exigências do governo local. O próprio executivo fez uso desse benefício no início do ano, passando um tempo no Brasil, para fugir do frio de Londres.
Sobre as contratações, Pedro informa que a empresa recrutará profissionais para diversas funções, incluindo compliance, ‘FinCrime’ (área que cuida do combate a crimes e fraudes financeiras), customer service e operações. Só em atendimento ao cliente, por exemplo, são mais de 40 vagas em aberto, conta. “Estamos contratando também um especialista em riscos financeiros. E eventualmente, podemos expandir a equipe da operação de pagamentos e cartões.”
No mundo todo, a meta é contratar 1 mil pessoas até o fim do ano, conforme matéria do site Finextra. Para isso, a fintech acabou de trazer a executiva Isabel Naidoo (ex-FIS, Capco e Accenture) como Chief People Officer (CPO). Globalmente, a empresa tem mais de 3,3 mil funcionários de 101 nacionalidades.
Expansão
Por aqui, o aumento da equipe está relacionado ao crescimento que a Wise vem tendo no país. Conhecida principalmente pelas transferências internacionais, a fintech tem ampliado a oferta de produtos e serviços para os clientes brasileiros.
Em dezembro último, por exemplo, lançou um cartão de débito internacional pré-pago. Até março deste ano, mais de 130 mil cartões já haviam sido entregues aos clientes que, nas contas da fintech, economizaram R$ 10 milhões em relação aos cartões de crédito internacionais de seus bancos.
O cartão internacional complementa a conta multimoedas, que permite guardar e converter recursos em 53 moedas e enviar dinheiro para 80 países. A solução permite, ainda, aos brasileiros terem dados bancários em 10 moedas, incluindo dólar norte-americano, dólar canadense, euro, lira turca e outras. Recentemente, também foi disponibilizado um recurso de conversão automática de moedas.
Sobre próximos passos e pipeline, Pedro diz que o plano é melhorar a infraestrutura já construída para caminhar cada vez mais rumo aos pagamentos instantâneos.
“Nosso objetivo é transformar o máximo que conseguirmos em pagamentos instantâneos. Quando estou falando instantâneo, são transações em até 20 segundos, do momento em que o cliente pagou pela ordem até ser creditado no beneficiário”, explica. Globalmente, mais da metade (53%) das transações da Wise já são feitas nesse tempo.
Em relação a novos produtos ou segmentos de atuação previstos no roadmap, o executivo é um pouco mais econômico nos detalhes. Por exemplo, quando questionado a respeito de uma possível entrada no mercado de pequenas e médias empresas (PMEs) — público-alvo de fintechs como Remessa Online —, ele diz que os planos existem, mas “sem datas”. Hoje, a solução da Wise é oferecida apenas para pessoas físicas.
Para crescer no Brasil, a Wise aposta em duas frentes de parcerias. Uma delas, com foco na aquisição de clientes, envolve acordos com influenciadores para tornar o produto da fintech mais conhecido.
A empresa também vem costurando parcerias com outros players do setor financeiro para que sejam integrados à infraestrutura global da Wise. “No mundo inteiro, temos isso. No Brasil, olhamos com carinho e temos tido conversas, mas nada fechado até agora”, diz Pedro. Lá fora, a solução chamada Wise for Banks tem como clientes neobanks como N26 e Monzo.
Mercado
Por aqui, alguns bancos digitais se movimentam por conta própria para oferecer serviços de remessas internacionais aos seus clientes, ou fazem isso via parceiros. O Nubank, por exemplo, tem um acordo com a Remessa Online. O Inter lançou recentemente sua vertical de cross-border, após concluir a aquisição da fintech norte-americana Usend. E o C6 Bank oferece desde dezembro de 2019 uma conta global, que vem agregando novas funcionalidades.
Em outras palavras, concorrentes não faltam para a Wise. O também britânico Revolut contratou Glauber Mota, ex-BTG Pactual, para liderar a operação brasileira do super app, que começará com uma conta global, com acesso a mais de 25 moedas e um cartão internacional aceito em 150 países, a serem lançados ainda este ano.
Em maio, a Nomad acabou de levantar R$ 160 milhões para acelerar ainda mais seu ‘banco digital em dólar’. E no mês passado, a Broad chegou oficialmente ao mercado, lançando uma conta e um cartão multimoedas, que inicialmente oferece dólar, euro e libra.
“Nosso principal driver é trazer uma experiência que seja conveniente, transparente e de baixo custo para os clientes”, comenta Pedro, da Wise. “Nossa grande bandeira é oferecer a oportunidade de as pessoas terem uma vida internacional de forma rápida, barata e transparente.”
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