Yieldrive, que acaba de chegar ao Brasil, usa IA para traduzir ESG em "dollars & cents"

A startup concebida em abril de 2021 já recebeu US$ 1 milhão em investimentos, e visa atingir US$ 1 milhão em receitas em três anos

Os investimentos orientados por ESG (sigla em inglês para as dimensões ambiental, social e governança) deverão atingir US$ 50 trilhões até 2025, de acordo com a Bloomberg Intelligence (BI). O volume é equivalente a um terço do total dos ativos globais sob gestão.

“Cerca de 50 mil corretoras, 25 mil bancos, 150 mil family offices e mais de 160 milhões de investidores em ações precisam rastrear, analisar e monitorar métricas ESG. Tem muita análise qualitativa, critérios subjetivos e até green washing,”, diz Willian Cox, um dos sócios fundadores da fintech multinacional Yieldrive, que acaba de chegar ao Brasil. “Falta objetividade”.

A proposta da Yieldrive é usar Inteligência Artificial para traduzir as iniciativas de sustentabilidade das empresas em “dollars & cents (dólares e centavos)”. Assim, a plataforma promete ajudar investidores a tomar decisões e rebalancear seus portfólios guiados por esse retorno (ou yield, em inglês).

Cox afirma que dados sobre investimentos corporativos em ESG são frequentemente transformados em pontuações, classificações e rankings, mas falta correlação com rentabilidade. “A Yieldrive constrói a ponte entre os mundos ESG e financeiro”, diz.

“Avaliamos não apenas a viabilidade financeira das empresas, mas também o seu compromisso com fatores ambientais, sociais e de governança. Ou seja, medimos até que ponto as iniciativas ESG das empresas contribuem para o seu justo valor.”

A pedido de Fintechs Brasil, a Yieldrive gerou quatro rankings que mostram quais as 10 empresas com ações nas bolsas dos Estados Unidos, Europa e América Latina têm os melhores scores segundo os critérios da plataforma. Em dezembro, sempre às quartas-feiras, vamos divulgá-los aos leitores. Um spoiler: nenhuma das brasileiras analisadas participa

Tecnologias

A startup concebida em abril de 2021 já recebeu US$ 1 milhão em investimentos, e visa atingir US$ 1 milhão em receitas em três anos. Os clientes individuais podem assinar a plataforma mensalmente; gestores e family offices podem contratar pacotes sob medida para seus objetivos.

“Nossa plataforma reúne mais de 10 anos de dados e mais de 40 trimestres de informações financeiras sobre 4.600 empresas, incluindo 25 brasileiras que têm ações negociadas em Nova York. São bilhões de documentos e dados em nosso banco, incluindo fontes de informação jornalística”, informa Cox.

A IA da fintech tem três submódulos – Processamento de Linguagem Natural (PNL), Reconhecimento de Entidade Nomeada (NER) e Análise de Sentimento (SI). Esses submódulos trabalham em conjunto para aprimorar os dados brutos obtidos pelo Yieldrive Data, aproveitando as redes neurais de código aberto existentes, como BERT, SpaCy e outras.

O resultado gera pontuações totais e também para cada indicador E, S e G. Depois, fundem-se com 23 índices que refletem a eficiência operacional, solvência, lucratividade e criação de valor para os acionistas das empresas. As empresas também são comparadas com pares relevantes no mesmo setor.

Relatórios não resolvem

Segundo a startup, a IA verifica diariamente inúmeras fontes em busca de notícias que possam impactar o desempenho financeiro relacionado a ESG das empresas, “permitindo que os usuários explorem as empresas com profundidade, tanto em relação a seus balanços, quanto a operações, estratégias de marketing e processos de recursos humanos.”

Na grande maioria dos mercados, as empresas com ações nas bolsas são obrigadas a publicar relatórios de sustentabilidade todos os anos. No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acaba de publicar a Resolução 193, sobre elaboração e divulgação de relatório de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade, com base no padrão internacional emitido pelo International Sustainability Standards Board – ISSB.

“Mas os relatórios, além de trazer visões estáticas, muitas vezes não são suficientes para guiar análises e decisões de investimento. A alternativa seria contratar consultorias – que podem ser caras, demoradas e acessíveis apenas a profissionais”, diz Cox.

“Yield” é um termo em inglês muito usado no mercado financeiro como sinônimo de rendimento financeiro. Logo, o nome da plataforma remete a investimentos (em ESG) orientados por rendimentos.

A sociedade

Cox nasceu na Alemanha mas tem cidadania norte-americana, e hoje mora em Marbela, na Espanha. Há cerca de 15 anos mantém parcerias e negócios no Brasil, sempre com foco em finanças e sustentabilidade. Além dele, a Yieldrive – cuja sede é em Zug, na Suíça – tem como sócios Hugo Masset, Noel Norking, Dominique Küttel e Bojan Simic. Norking é dinamarquês mas trabalhou em diversas multinacionais, inclusive no Brasil.

Os cinco têm mais de 25 anos de experiência em finanças, tecnologia e mercado de capitais, com “uma paixão compartilhada por pesquisar e investir em empresas que se esforçam para causar um impacto positivo em nosso planeta”.

“Acreditamos firmemente que o cenário empresarial possui um imenso potencial para impulsionar transformações significativas e criar um futuro melhor para todos. Na verdade, acreditamos que as empresas sustentáveis ​​são as mais resilientes e os futuros impulsionadores de rendimento”, afirmam.