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Enquanto as fintechs disputam fatias de mercados historicamente dominados por bancos, empresas de software como Totvs, Linx e Senior Sistemas aproveitam as grandes bases de dados e o relacionamento com os clientes para ofertar produtos e serviços financeiros. Nada mais natural.
Começo a entrevista com Juliano Tubino, vice-presidente de negócios da Totvs, com a pergunta que ele deve ouvir toda hora ou, no mínimo, todos os dias sobre o avanço da companhia no setor financeiro. “Por que techfin, e não fintech?”. A resposta é enfática:
“Mais do que um trocadilho de palavras, é um posicionamento nosso de levar serviços financeiros aos clientes. Mas continuamos sendo empresa de tecnologia. Não vamos levar serviços financeiros para o mar aberto.”
É com um olhar pautado na integração das rotinas de gestão com produtos financeiros que a Totvs montou seu braço de techfin, que atendia cerca de cem clientes ao final do segundo trimestre após o lançamento dos primeiros produtos.
Neste ano, a companhia passou a atuar com soluções de pagamento, crédito consignado, antecipação de recebíveis, prorrogação de prazos e linhas de crédito adicionais para clientes das empresas.
A explicação para a estratégia é relativamente simples: com as informações que passam a todo o momento pelo sistema de gestão, a Totvs consegue desenvolver soluções de crédito e pagamento. “A gente tem o raio-X de cada companhia, o histórico. Tudo, claro, com o consentimento e a aprovação das empresas”, diz o executivo.
Em outubro de 2019, a Totvs comprou a fintech Supplier por R$ 455 milhões no primeiro passo dado pela companhia em direção a um posicionamento de techfin, movimento liderado pelo presidente Dennis Herszkowicz. Fundada em 2004, a fintech tinha o Pátria e o Ourinvest como acionistas, além dos fundadores Mauro Wulkan e Eduardo Wagner.
Para as operações de crédito, o funding vem da própria Supplier por meio do FIDC “Cartão de Compra Supplier Fundo de Investimento em Direitos Creditórios”, com PL de R$ 871,7 milhões, segundo dados na CVM referentes a agosto de 2020.
A Totvs também mantém parceria com o banco BV, a fintech Creditas e a Rede, credenciadora do Itaú Unibanco. “Dependendo do produto, o funding pode vir de um dos parceiros”, diz Tubino. É com essa tônica que a companhia fundada por Laércio Cosentino quer construir sua oferta de serviços financeiros, sem ficar entrando na briga com bancos e fintechs.
“Nossa capacidade de integrar e oferecer serviços financeiros é infinitamente maior do que nosso conhecimento financeiro e apetite a risco. A maior parte dos produtos que temos são oriundos de parcerias.”
Pagamentos
Na área de pagamentos, a Totvs firmou uma parceria há duas semanas com a Medicinae Solutions, plataforma de gestão financeira para consultórios médicos e clínicas, conforme noticiou a Finsiders. Com o acordo, os profissionais da área da saúde que forem clientes do Eleve Saúde — Linha Personal Med, o software de gestão médica da Totvs, podem oferecer aos seus pacientes formas digitais para efetuarem os pagamentos das consultas por telemedicina e atendimentos em geral.
Por meio do app da Medicinae, os consultórios passam a aceitar parcelamento, TED e cobrança por meio de um link via WhatsApp ou SMS para o cliente. Para o médico, a plataforma da startup facilita a organização dos recebimentos num só sistema e oferece uma linha de antecipação de recebíveis.
Com atuação em 12 verticais de clientes, a Totvs já desenvolveu soluções de pagamento automatizado, com integração ao ERP, para empresas de educação e está com projeto em andamento na área da saúde. “Eu diria que hotelaria e entretenimento são os próximos”, conta Tubino.
É o trabalho de identificação de problemas dos clientes, que podem ser solucionados pela companhia, que toma mais da metade do tempo do executivo.
“Nossa missão não é ser competidor de bancos ou fintechs, mas conseguir fazer algo que eles não conseguiriam fazer sozinhos.”
iDEXO
A parceria com a Medicinae, por exemplo, nasceu por meio da jornada de validação do iDEXO, braço de inovação aberta da Totvs. Segundo Tubino, o iDEXO evoluiu para ser uma esteira de “go to market” para as startups. Desde a criação, em 2017, mais de 70 startups fizeram algum tipo de negócio com a companhia, diz ele.
Com duas chamadas por ano, o iDEXO tem em sua comunidade startups em diversos setores, como agronegócio, educação, finanças, saúde, hospitality, RH, manufatura e varejo. Entre as fintechs da comunidade estão BLU365, Juno e Confere.