Na última década, a indústria bancária brasileira passou por uma profunda transformação movida pelo avanço tecnológico. As pesquisas anuais da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) revelam, ano a ano, uma trajetória marcada pela digitalização, inovação e adaptação constante às novas demandas dos clientes.
Tais mudanças moldaram o setor, trazendo mais conveniência e segurança para os usuários. Permitem, ainda, analisar sob o ponto de vista histórico e entender a progressão da área, comprovando o quanto temos conseguido incorporar de forma célere todas as movimentações.
Com base nos levantamentos da Febraban, é possível compreender as transformações da indústria brasileira nos últimos dez anos, assim como os desafios e oportunidades que ainda não foram explorados.
Canais digitais
Podemos iniciar a análise em 2013, época em que os bancos começaram a explorar o potencial dos canais digitais, por meio de serviços bancários feitos pela internet. Assim, ofereceram aos clientes uma conveniência sem precedentes. Esse primeiro passo foi fundamental para preparar o terreno para as inovações que viriam nos anos seguintes.
O ano de 2014 teve um ponto de inflexão com a popularização dos serviços bancários pela internet e mobile. Ao mesmo tempo, as agências bancárias começaram a se reinventar, focando mais em consultoria e relacionamento com o usuário, enquanto enfrentavam os desafios da transformação digital. Já em 2015, o crescimento dos canais digitais continuou a passos largos e o internet banking e o mobile banking se tornaram parte integrante da rotina dos clientes. Porém, os caixas eletrônicos ainda mantinham sua relevância. Foi nesse momento que começou a modernização do backoffice para acompanhar a transformação digital.
Tecnologias emergentes
Olhando para os dados de 2016 e 2017, o principal destaque foi o reforço do papel consultivo das agências, oferecendo, assim, serviços personalizados aos consumidores. Nesse mesmo período, houve o início da exploração de inovações como o blockchain, visando aumentar a segurança e a eficiência. Na sequência, em 2018, os investimentos em tecnologias emergentes continuaram a crescer, refletindo a necessidade de atender às novas demandas dos consumidores. A redução do número de agências foi uma tendência clara, impulsionada pela crescente adoção dos meios onlines.
O ano de 2019 foi essencial para reforçar a importância do big data e analytics para a tomada de decisões estratégicas. Naquele momento, a Inteligência Artificial (IA) começou a ganhar destaque, com investimentos em automação e atendimento ao cliente, marcando uma nova fase na transformação digital do setor. Em 2020, acelerou-se a integração da IA em várias operações bancárias. Dessa forma, os chatbots e assistentes virtuais foram aprimorados para oferecer uma melhor experiência, refletindo a centralidade da ferramenta nas estratégias dos bancos.
Já o ano de 2021 trouxe o domínio dos canais digitais, com o mobile banking liderando as transações e o Pix ganhando espaço rapidamente. O investimento em tecnologia aumentou significativamente, focando em IA, Automação Robótica de Processos (RPA, na sigla em inglês), segurança e trabalho remoto. Em 2022, o Open Finance e a análise de dados para personalização de serviços foram os principais destaques, colocando a segurança cibernética e a migração para a nuvem como prioridades, com investimentos substanciais em big data.
Personalização
O ano passado teve a consolidação das iniciativas digitais, com foco em jornadas de clientes personalizadas e ágeis. Priorizou-se a otimização de sistemas ligados com a nuvem. Além disso, novos investimentos em ESG, tokenização, Real Digital, 5G e metaverso começaram a ser explorados.
Já em 2024, a personalização e a fidelização do cliente — utilizando dados para entender seu comportamento — foram intensificadas. A expansão para ecossistemas digitais, com ofertas de marketplace e parcerias estratégicas, tornou-se uma realidade, integrando o setor bancário a outros segmentos do mercado.
Nesse sentido, a última década foi transformadora para a indústria bancária brasileira, com a tecnologia redefinindo a conveniência e a segurança para os clientes. A jornada desde os primeiros passos na digitalização até a exploração de tecnologias emergentes mostra um setor em constante evolução, pronto para os desafios e oportunidades que surgirão. O futuro promete ainda mais avanços, com um foco crescente na personalização, integração de ecossistemas e inovação contínua.
*Caroline Capitani é vice-presidente de Estratégia e Inovação e Julia Dietrich é analista de Negócios e Inovação da ilegra.