OPINIÃO

Você conhece seu cliente. Mas ele sabe que você o conhece?

Nova disputa no setor financeiro não é mais pela presença digital, mas pela relevância contextual, segundo especialista

Instituições financeiras
Instituições financeiras | Imagem: Adobe Stock

Nos últimos anos, a corrida por jornadas digitais mais fluidas e interfaces mais amigáveis ganhou força. Mas fica a pergunta: isso é suficiente para garantir a principalidade do cliente? A resposta é não. 

Na prática, ele transaciona com três, quatro, até cinco instituições — e, em muitas delas, se sente apenas mais um. A nova disputa no setor financeiro não é mais pela presença digital, mas pela relevância contextual. E é aí que entra a hiperpersonalização, impulsionada pela Inteligência Artificial (IA), como chave para antecipar necessidades e fortalecer vínculos reais com o cliente.

A mudança de jogo: da experiência à relevância

A era dos clusters acabou. A personalização em larga escala, que por anos foi encarada como um desafio técnico, hoje é uma exigência competitiva. Clientes não querem apenas acessar o aplicatio, pagar contas ou receber pushs genéricos. Eles querem ser compreendidos.

Alcione Giovanella/CBYK
Alcione Giovanella/CBYK | Imagem: divulgação

Quem antecipa comportamentos e oferece soluções no momento certo, pelo canal certo e com o tom adequado, ocupa um espaço cognitivo maior na vida financeira do cliente. Com isso, se torna o banco principal.

IA como motor da antecipação

A IA permite ir além da segmentação e entrar no campo da recomendação contextual em tempo real. Modelos preditivos treinados com base em históricos transacionais, preferências, geolocalização e comportamento de navegação tornam possível:

  • Ajustar limites ou ofertas conforme momentos de vida;
  • Recomendar investimentos ou renegociações de forma proativa;
  • Redesenhar jornadas a partir da interação individual de cada cliente;
  • Criar experiências bancárias invisíveis, mas altamente efetivas.

Na prática, o cliente se sente atendido antes mesmo de pedir.

Hiperpersonalização é o novo pilar da principalidade

A lógica é simples: quem entende melhor, atende melhor. E quem atende melhor com consistência e relevância torna-se indispensável.

Não se trata apenas de eficiência operacional. Estamos falando de uma estratégia de retenção e expansão de share of wallet, com impacto direto no LTV (Lifetime Value) do cliente.

Enquanto muitas instituições concentram esforços em aquisição, aquelas que dominam a hiperpersonalização também vencem o jogo da fidelização.

A pergunta que CIOs e diretores comerciais precisam responder:

“Nossa arquitetura de dados, nossos modelos de IA e nossa governança estão preparados para transformar informação em experiências únicas?”. Se a resposta for “ainda não”, o risco é grande. Outros players já estão fazendo isso. Fintechs nativas digitais, bancos médios mais ágeis e big techs que dominam dados e UX (sigla em inglês para experiência do usuário) têm vantagem nesse território.

A transformação rumo à hiperpersonalização real exige:

  • Unificação dos dados em tempo real entre canais e sistemas;
  • Modelos de IA orientados ao negócio, não apenas à tecnologia;
  • Arquiteturas escaláveis que sustentem decisões contextuais em milissegundos;
  • Cultura e liderança digital para orquestrar toda essa inteligência.

E, principalmente, exige mudar a pergunta: de “o que queremos oferecer?” para “o que esse cliente realmente precisa agora?”

O invisível que fideliza

A principalidade do futuro será conquistada não pelo que é visível, mas pelo que é sentido: a sensação de ser compreendido em cada toque, oferta e interação.

Bancos que investirem em IA como motor da hiperpersonalização não apenas melhoram indicadores, construíram vínculos duradouros.

Porque, no fim, o cliente pode até usar vários bancos. Mas vai escolher como principal aquele onde sente que não é só mais um.

*Sócio da consultoria CBYK