OPINIÃO

A importância do compliance para as fintechs

Integração entre áreas de prevenção a riscos, compliance e segurança da informação é cada vez mais exigida das empresas do setor

Daiane Souza Ribeiro/Idea Maker - Imagem: Divulgação
Daiane Souza Ribeiro/Idea Maker - Imagem: Divulgação

As empresas voltadas para o segmento de tecnologias financeiras, ou fintechs, estão cada vez mais em destaque, dadas as inovações que viabilizam serviços com maior eficiência, agilidade e redução de custos nas operações. Há, ainda, o diferencial de acesso em tempo real das transações, viabilizando tomadas de decisões mais assertivas e estratégicas. Com isso, o uso de serviços bancários digitais, aplicativos e plataformas de gestão financeira cresce de forma significativa. Assim, também surgem novos desafios para o setor, principalmente no que tange a compliance.

O compliance trata do conjunto de diretrizes a fim de cumprir e se fazer cumprir a legislação vigente e os normativos estabelecidos pela empresa. Nas fintechs, por sua vez, englobam as políticas e procedimentos voltados para a prevenção à lavagem de dinheiro (AML), combate ao financiamento do terrorismo (CFT), anticorrupção, proteção de dados, segurança da informação, entre outros. A ideia é ganhar a credibilidade dos usuários, mitigando riscos de fraudes, sanções e multas.

No contexto das fintechs, há algumas recomendações para uma implantação abrangente e integrada da área de compliance. Vejamos:

Cultura

É crucial alimentar a cultura organizacional que valorize o compliance. Isso pode ser disseminado com treinamentos e apoio do endomarketing para inserção nos meios de comunicação internos. Nesse sentido é o teor da Circular do Banco Central (BC), a Resolução  nº 65, de 26/01/2021, com a recente redação dada a partir de 1º/3/2024, pela Resolução BCB nº 368, de 25/1/2024, para determinar ‘’a disseminação de padrões de integridade e conduta ética como parte da cultura da instituição’’.

Políticas e procedimentos objetivos

Estabelecer políticas e procedimentos em linguagem clara e para os diferentes níveis da organização garante que todos compreendam as suas responsabilidades e as práticas esperadas na empresa. Os processos excessivamente complexos podem ser um vilão para o compliance.

Nesse sentido, no Anuário Compliance On Top (LEC e Vittore) de 2023 identificou-se a busca crescente por normativos mais simples. Até porque ‘’nas empresas, esse item também avançou, embora ainda em um nível baixo, subindo de 9,3% em 2022 para 11,5% em 2023’’. Fato é que é possível criar normativos de fácil compreensão e eficazes, sem prejuízo de atendimento a toda a legislação vigente e aos órgãos reguladores.

Tecnologia

As tecnologias avançadas, como machine learning e inteligência artificial são ferramentas que contribuem significativamente para a eficácia dos controles de compliance. As transações podem ser monitoradas em tempo real, por exemplo, para detectar movimentações fora do padrão e suspeitos, produzindo relatórios e alertas precisos.

Nesse sentido, conforme o Anuário Compliance On Top (LEC e Vittore) de 2023, quase 60% das lideranças de compliance buscam eficiência ao integrar as tecnologias avançadas e inovadoras aos monitoramentos, considerando a proteção e conformidade dos dados para aumentar a assertividade dos indicadores.

Auditoria

A manutenção de auditorias regulares contribui para o contínuo monitoramento, assim como a identificação e rápida correção de qualquer inobservância dos normativos internos. As certificações das normas ISO são grandes aliadas. Entre elas, estão as das famílias 37000 e 27000, com foco no compliance e sistema de gestão de segurança da informação e dos dados, respectivamente.

Oportunidades para 2024

A integração eficiente entre áreas de prevenção a riscos, compliance e segurança da informação, abordando fraudes, lavagem de dinheiro e riscos cibernéticos, tem sido cada vez mais exigida nas tecnologias financeiras. Isso porque o Brasil tem adotado medidas cada vez mais rigorosas, em linha com os padrões internacionais nestes temas.

Nas iniciativas como o Drex (Real digital) e outros produtos do BC, há a busca de soluções integradas para processar transações em larga escala e com segurança. Surgem, assim, oportunidades e desafios importantes para as fintechs em busca de conformidade em um ambiente em constante evolução.

Portanto, o compliance é uma importante área para ser observada nas tecnologias financeiras. À medida que as inovações das fintechs continuam a transformar o setor, a eficaz e robusta implementação das práticas de compliance não apenas assegura a conformidade regulatória, como também garante a confiança dos clientes e a sustentabilidade de longo prazo. 

*Gerente jurídica e de compliance da fintech Idea Maker.