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Há duas semanas, o PicPay, plataforma de pagamentos com mais de 55 milhões de usuários cadastrados, anunciou a compra do Guiabolso, plataforma de gestão financeira, marketplace e que mais recentemente vem acelerando sua estratégia B2B, com foco no Open Banking.
A operação, de valor não revelado, deixou clara a intenção do aplicativo que nasceu como uma carteira digital, em Vitória (ES), há nove anos: ser protagonista do Open Banking. Algo que o Guiabolso já faz desde sua fundação, também há nove anos.
“Brincamos que PicPay e Guiabolso são irmãos gêmeos, meio que separados no nascimento. O PicPay começou consolidando pagamentos e o Guiabolso, consolidando dados”, diz Thiago Alvarez, CEO e cofundador do Guiabolso — e que passa a ser diretor do PicPay, responsável pela estratégia de Open Banking.
Ele e Eduardo Chedid, VP de serviços financeiros do PicPay, falaram ao Finsiders na semana passada para explicar a operação e os planos.
O ‘reencontro’ dos irmãos culminou numa união célere. Segundo eles, a negociação foi rápida e o deal, fechado em cerca de três dias. Na semana em que a operação foi anunciada, o mercado já vinha especulando em alguns grupos sobre uma possível venda do Guiabolso que, na leitura de alguns especialistas e executivos de mercado, vinha tendo dificuldade há um tempo para monetizar seu aplicativo de gestão financeira. Conforme apurou o Finsiders, os birôs de crédito estavam interessados no negócio, e até havia uma “conversa avançada, mas que azedou há alguns meses”, diz uma fonte com conhecimento do assunto.
Questionado sobre esses rumores, Alvarez desconversa e reforça que a negociação com o PicPay foi rápida. “A escala do PicPay é enorme: TPV de mais de R$ 51 bilhões. Dá a escala para tudo o que queríamos fazer. É um casamento perfeito. Fechamos o deal em cerca de três dias”, afirma. A respeito da crítica de que a fintech não vinha tendo bom resultado com sua operação B2C, o empreendedor explica: “se olharmos a receita por usuário no Guiabolso, ela é grande.”
Dentro de casa, a fintech construiu uma tecnologia pioneira que, de certa forma, antecipou o Open Banking, além das ferramentas de análise de dados e do marketplace com diversos parceiros em produtos financeiros, como crédito, seguros e investimentos. “Tínhamos de tomar uma decisão estratégica: continuar com o B2C sabendo que todas as instituições financeiras, com o Open Banking, teriam acesso a isso e virariam competidoras, ou criar uma plataforma B2B.”
Integração
“A compra do Guiabolso é a junção de dois ‘challengers’. Quer queira, quer não, temos um DNA de mudar o ‘status quo’. A cultura das empresas também é muito similar, temos o propósito de democratizar pagamentos e crédito”, observa Chedid, que chegou ao PicPay em fevereiro, depois de ocupar a presidência da Elo por seis anos. O executivo foi um dos reforços contratados pela empresa, que estava em preparação para o IPO nos EUA, mas decidiu adiar os planos para 2023.
A aquisição do Guiabolso revela uma avenida de crescimento para o PicPay, que não apenas adiciona mais 6 milhões de usuários à base, que já passa de 55 milhões, como também acelera a estratégia de ser uma grande plataforma de serviços financeiros e não financeiros. “Era tão complementar, quase que óbvia a sinergia entre as duas empresas”, diz Chedid.
Em novembro do ano passado, o PicPay começou a avançar mais em crédito. Em janeiro, lançou empréstimo pessoal, e agora está no piloto da plataforma de P2P lending.
“Estamos no caminho de realmente conseguir democratizar o crédito. Com o Open Banking, vamos ter mais capacidade de análise e personalização da oferta. E agora com a expertise do Guiabolso, aceleramos muito isso. Para ser protagonista no Open Banking, precisa de tamanho e expertise.”
Nos últimos dias, foram iniciadas as aproximações entre as duas empresas, com os primeiros grupos de trabalho engajados. Por enquanto, nada muda para os usuários das duas fintechs, mas a ideia é que o PicPay passe a ter diversas funcionalidades que estão hoje presentes na plataforma, especialmente no marketplace, do Guiabolso. “Guiabolso já tem vários parceiros, que esperamos integrar à nossa plataforma o mais rapidamente possível. Aí juntamos mais parceiros e mais clientes do lado de lá e de cá”, diz Chedid.
Com a operação, o PicPay também passa a ser detentor de toda essa expertise tecnológica, de inteligência de dados e de execução do Open Banking, criada pelo Guiabolso ao longo dos últimos nove anos. Além disso, a fintech tem um marketplace financeiro, com mais de dez parceiros e nomes como Creditas, BV, Digio, Icatu e Órama. Assim, o PicPay aumenta seu leque de parceiros na distribuição de cartões, empréstimos, seguros e investimentos, com grande potencial de escala por meio da oferta desses produtos a seus mais de 55 milhões de usuários cadastrados.
O Guiabolso tem 200 funcionários (a maioria com atuação em tecnologia e dados), e todo time da fintech será integrado ao cerca de 3 mil colaboradores do PicPay. Já os fundadores da fintech, Thiago Alvarez e Benjamin Gleason, assumem uma fatia minoritária no PicPay, enquanto investidores de rodadas anteriores no Guiabolso — como VEF, Kaszek, Ribbit Capital, QED Investors e IFC — deixaram o captable.
Super app
Com o sonho grande de atingir 100 milhões de usuários ativos e, apesar da tentativa frustrada de fazer o IPO este ano, o PicPay tem dinheiro para sustentar o crescimento até retomar os planos de abertura de capital. Recebeu uma injeção de R$ 3 bilhões do controlador, a J&F Participações, holding da família Batista, recursos para um período de três anos.
Chedid e Alvarez evitam dar detalhes sobre os primeiros produtos e serviços que vão ser lançados a partir da integração dos negócios. Mas dão algumas pistas.
“Desde o começo do ano, reforçamos nossa vertical de PJ. É uma das nossas grandes apostas. Estamos evoluindo também a store, com produtos não financeiros. E tem uma parte de gerenciamento financeiro na qual o Guiabolso é especialista e isso tende a contribuir para integrarmos ao nosso PJ, inicialmente no Pejotinha”, diz Chedid, sem abrir detalhes. Existem diversos casos de uso do Open Banking para PJ, complementa Alvarez.
A visão do PicPay é construir um ecossistema de soluções financeiras e não financeiras, numa estratégia de plataforma aberta. “Temos essa visão de super app, mas dentro de um contexto, muito ligado a um core que começa com pagamentos, passa por marketplace financeiro, gestão financeira, crédito, store. Mas a relação entre as coisas está dentro de um contexto”, argumenta Chedid.
O PicPay vem numa toada forte de crescimento da sua base. Para se ter uma ideia, eram 10 milhões de usuários cadastrados no fim de 2018, número que chegou a 14,9 milhões ao final de 2019 e saltou para 38,8 milhões, em dezembro de 2020. Recentemente, a empresa ultrapassou 55 milhões. Já os usuários ativos somaram 36,6 milhões em março, com taxa média anual de expansão de 231%.
É um efeito de rede, diz Chedid. Tanto é que o custo de aquisição de cliente (CAC) é baixo, dado o crescimento orgânico da base. Sobre os patrocínios de programas de televisão, como Big Brother Brasil (BBB) e agora mais recentemente a versão repaginada do Show do Milhão, o executivo diz que são ações mais para posicionar a marca como próxima aos clientes do que propriamente uma estratégia para atrair novos usuários. “O investimento na marca é quase desatrelado do CAC, que vem muito do orgânico.”
Ele dá um exemplo: em Vitória, cidade onde o PicPay nasceu, um quarto da população usa todo dia o aplicativo, segundo Chedid. “Temos várias ações de regionalização. Agora estamos concentrados em dez cidades. Criamos um ambiente, colocamos equipe comercial e fazemos quase uma ‘blitz’ para os sellers também aceitarem PicPay. Temos um mapa de calor para identificar regiões e cidades”, conta.
Em setembro de 2020, o PicPay foi autorizado pelo Banco Central (BC) a operar como instituição de pagamento (IP) na modalidade de emissor de moeda eletrônica pré-paga e, assim, passou a divulgar balanço nos moldes aplicáveis às IPs que fazem parte do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). No ano passado, a fintech teve prejuízo de R$ 275,56 milhões, depois de anotar perdas de R$ 80,63 milhões em 2019, conforme as últimas demonstrações financeiras.
Já o Guiabolso, fundado há nove anos Thiago Alvarez e seu amigo Benjamin Gleason, começou como um aplicativo de gestão financeira, construiu um marketplace e, desde o ano passado, começou a permitir transferências pelo aplicativo. Do último ano para cá, a fintech lançou sua vertical B2B, com objetivo de preparar empresas para o Open Banking. Em paralelo, também vem acelerando sua expansão para América Latina – firmou um acordo com a fintech mexicana Finerio, por exemplo.
Quando perguntado sobre como ficará a vertical B2B, Alvarez diz que nada muda para quem já é cliente. “No B2B, os contratos continuam ativos, mas agora estamos focados na integração com o PicPay.”
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Redação: Conteúdos produzidos pela equipe de jornalistas do Finsiders,
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