Caio Ribeiro*
Estamos vendo uma transformação massiva na maneira como o varejo tem lidado com as suas operações, exemplo disso, são as formas de pagamento sendo modernizadas. No último ano, houve uma transição acelerada para os meios de pagamento eletrônicos, uma tendência catalisada por uma série de fatores, incluindo o fornecimento digital do auxílio emergencial e o surgimento de iniciativas como o Pix, que acelerou, inclusive, o processo no Banco Central (BC) para divulgação das diretrizes que vão nortear as discussões sobre a implementação do Real Digital, sua CBDC, como é conhecida internacionalmente essa forma que a moeda está tomando.
O fato é que os consumidores adultos de todas as idades já estão de olho nesse movimento e trocaram a carteira de bolso pelo celular. Segundo o levantamento “Generation Pay” sobre meios de pagamento realizado pela empresa de pesquisas Savanta, no final de 2020 já era crescente o interesse por pagamentos digitais. Na ocasião, o levantamento mostrou que no Brasil, 39,5% das pessoas já utilizavam tecnologia para pagamentos, mas este pode ser considerado um número baixo se compararmos com a China (63,25%), por exemplo. Isso demonstra que dinheiro e cartões de crédito ainda eram preferência dos brasileiros. Mas o quanto isso impacta no poder de compra dessas pessoas e o quão inclusivos são esses meios de pagamento?
Possuir os recursos para pagamento total de um produto ou serviço, um cartão de crédito ou até mesmo limite de compra, nem sempre é uma realidade de todos. Acredito que inclusivo significa poder atingir uma grande parte ou a totalidade da população em determinada modalidade. Seja pelo perfil sociodemográfico ou econômico. Ter um meio de pagamento inclusivo permite que a maioria da população possa pagar de forma rápida, conveniente e acessível. Uma forma mais inclusiva que vem tomando corpo para beneficiar consumidor e lojista, o ‘Buy Now, Pay Later’ (BNPL), em português, Compre Agora, Pague Depois, que já era conhecido pelos brasileiros como o famoso “crediário” agora está mais moderno e se adaptou a era digital, trazendo conveniência e acessibilidade do parcelamento aliado a tecnologia.
Uma das principais vantagens para o consumidor é que além da aprovação imediata, ele não paga os juros que os cartões de crédito cobram hoje em dia e é muito mais conveniente. Tudo é feito de forma rápida pelo celular, sem demora de análise de crédito e sem burocracia, é uma opção muito mais user-friendly, que aumenta o poder de aquisição também dos portadores de cartão, mas com limite baixo, e que buscam mais facilidade e organização financeira já que não existem taxas embutidas nas transações.
A experiência recente trabalhando com grandes varejistas além dos primeiros clientes pessoa física, tem provado o conceito inovador da solução. Do lado dos varejistas a proposta de aumentar o alcance de suas ofertas/produtos para um público muito maior de consumidores, incrementando as vendas em cerca de 20% de maneira quase que imediata tem sido muito bem recebida. E do lado dos consumidores a possibilidade de adquirir bens e serviços de maneira acessível e que caiba no seu bolso tem sido um grande sucesso.
Se por um lado o consumidor já está atento ao movimento dos novos meios de pagamentos, por outro lado, os e-commerces ainda precisam se adaptar para conseguir sanar as necessidades e demandas dos consumidores, já que a maior participação do comércio eletrônico no varejo é algo que veio para ficar e a pandemia elevou o patamar de tendência para uma realidade. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), o crescimento nas vendas online foi de 68% na comparação com 2019, elevando a participação do e-commerce no faturamento total do varejo, que passou de 5% no final de 2019 para um patamar acima de 10% em alguns meses de 2020.
Há uma questão de inércia ainda muito forte em alguns negócios e empresas. Projetos de longo prazo e agendas de desenvolvimento lotadas geram dificuldade para inovação ou abertura para novas soluções que os ajudem a oferecer melhores serviços e vender mais. Além disso, há o desafio natural de gerar conhecimento e necessidade por novas soluções que costumam acontecer com a cobertura de veículos especializados e também com a adoção por grandes negócios, gerando cases de sucesso. Eles precisam estar abertos à inovação e novas ferramentas, seja com a criação de áreas específicas para testar novos processos e soluções, seja criando espaços na agenda de projetos da empresa com esse objetivo.
O que vale reforçar é que uma tendência que vem se mostrando cada vez mais importante inclusive para os negócios, seja no varejo físico quanto no online, é a experiência do cliente e a diversificação dos meios de pagamentos como forma de impulsionamento do business. A necessidade do consumidor deve ser o centro das atenções e só sobrevive no mercado quem está buscando oportunidades de se adequar a ferramentas e tecnologias justamente em prol da melhoria da demanda de procura e oferta. Foi-se o tempo em que apenas o melhor preço era garantia de conversão de vendas. Hoje, o ecossistema do varejo é muito mais complexo (preço, sortimento, logística e formas de pagamento) e precisa se adaptar a essas necessidades para seguir crescendo. Portanto, não basta apenas aumentar a variedade de formas de pagamento, mas buscar formas inovadoras e convenientes para atender não apenas os atuais clientes e também os que eventualmente não estão comprando devido à ausência de formas mais convenientes e inclusivas.
*Caio Ribeiro é diretor geral da ADDI no Brasil
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