OPINIÃO

É possível virar a maré contra as fraudes no setor financeiro

Instituições devem adotar estratégias inovadoras e colaboração para garantir a segurança sem sacrificar a conveniência

Fraudes, segurança digital | Imagem: Adobe Stock
Fraudes, segurança digital | Imagem: Adobe Stock

As fraudes estão remodelando o setor financeiro global, introduzindo riscos que vão além das perdas monetárias. Esquemas sofisticados, como golpes de Pagamento por Push Autorizado (APP, na sigla em inglês), fraude de identidade sintética e vastas redes de “mulas” significam que as instituições financeiras precisam avançar (e rápido) nas proteções contra fraudes digitais.

Um dos legados positivos da pandemia foi a aceleração da transformação digital para empresas e consumidores. No entanto, à medida que novos métodos de pagamento mais convenientes surgem, também aumentam os riscos e as ameaças cada vez mais complexas.

Fraudes em operações bancárias e pagamentos não só colocam em risco as receitas, mas ameaçam a confiança fundamental na qual as instituições financeiras se baseiam. Com fraudadores explorando todos os lugares em que uma transação ocorre, as instituições devem adotar estratégias inovadoras e colaboração para garantir a segurança sem sacrificar a conveniência.

Para lidar com o desafio crescente, as instituições financeiras precisam ter acesso a insights de risco e uma camada de ferramentas de proteção para mitigá-los efetivamente. Elas também podem reunir seu conhecimento com o de outras organizações e alavancar redes colaborativas compartilhadas. Isso não só permite que as instituições vejam sinais de risco dentro de seu próprio ambiente, mas também fornece inteligência de risco relacionada a dispositivos, endereços IP, endereços de e-mail e outros indicadores fora de seu ambiente de organizações pares participantes. Isso ajuda todos os membros a melhorar suas avaliações de risco de fraude.

Problema generalizado

A fraude tornou-se um problema generalizado no setor financeiro, impulsionada pela rápida evolução tecnológica e pela expansão das pegadas digitais. As perdas com fraudes de APP, em que criminosos manipulam pessoas para fazer pagamentos em contas fraudulentas, devem exceder US$ 5,25 bilhões nos EUA, Reino Unido e Índia até 2026, de acordo com ACI Worldwide e GlobalData.

O aumento dos sistemas de pagamento em tempo real complicou ainda mais as defesas contra fraudes. Isso porque fornecem aos fraudadores ferramentas mais rápidas para movimentar fundos ilícitos enquanto as instituições se esforçam para desacelerar os ataques.

Rafael Costa Abreu/LexisNexis Risk Solutions | Imagem: divulgação

Identidades sintéticas representam outro problema crescente para as instituições financeiras. Nesses casos, criminosos combinam identidades falsas de dados pessoais fictícios e roubados. As perdas globais vinculadas à fraude de identidade sintética agora se aproximam de US$ 40 bilhões, conforme aThomson Reuters. Com o aumento das violações globais de dados, os fraudadores estão ganhando acesso a um reservatório crescente de pontos de dados valiosos para elaborar solicitações convincentes, mas fraudulentas, de crédito ou contas.

Somando-se a esses problemas está a complexidade operacional de detectar fraudes no início da jornada do cliente. A natureza global do crime financeiro torna particularmente desafiador para as instituições distinguir entre comportamento legítimo e suspeito. Um ataque a um banco geralmente se conecta a redes maiores que abrangem setores e países.

Colaboração é a melhor defesa

A colaboração dentro de uma indústria e entre indústrias e fronteiras ajuda a resolver desde fraudes simples até as mais complexas. Organizações criminosas são altamente conectadas em rede, capazes de implementar golpes em escala com precisão. Para revidar, instituições financeiras são capazes de trabalhar juntas e, assim, criar ecossistemas de defesa igualmente robustos. Redes de inteligência colaborativa estão se mostrando indispensáveis ​​para lidar com esse desafio.

O Banco Central (BC) deu um bom exemplo ao estabelecer o compartilhamento de informações sobre fraudes entre os bancos brasileiros por meio da Resolução Conjunta nº 6, de 2023.

Essas redes permitem que instituições financeiras compartilhem insights anônimos sobre sinais de risco entre clientes, dispositivos e transações em tempo real. Por exemplo, insights sobre atividade de “mula” de uma instituição podem evidenciar sinais de atividade fraudulenta em outra. Dessa forma, evitam que golpes aumentem, demonstrando como redes colaborativas permitem que o conhecimento de uma instituição proteja outros membros da comunidade.

Tecnologia em camadas

A tecnologia em camadas é a abordagem recomendada para combater fraudes no setor financeiro. Avanços em Inteligência Artificial (IA) e inteligência comportamental estão remodelando as capacidades de detecção e prevenção de fraudes para capacitar organizações a identificar padrões, comportamentos e anomalias que, de outra forma, poderiam passar despercebidos por verificações de risco convencionais.

A análise orientada por IA mostrou uma promessa notável na detecção de identidades sintéticas. Ao examinar centenas de atributos vinculados a uma identidade, como comportamento, uso do dispositivo e relacionamentos com outras contas, as instituições financeiras podem distinguir usuários genuínos de atores maliciosos.

Inteligência digital e comportamental e vinculação de dispositivos – que vincula o dispositivo móvel de um usuário à sua conta – são particularmente impactantes na proteção de interações bancárias móveis. Essas ferramentas permitem, então, que as instituições autentiquem as identidades dos usuários passivamente, usando fatores como a maneira como alguém segura, digita ou interage com seu dispositivo. Essas medidas aumentam a segurança sem introduzir atrito, permitindo uma experiência suave do cliente em transações móveis que estão rapidamente se tornando dominantes no setor financeiro.

A combinação dessas defesas com inteligência colaborativa em tempo real sobre beneficiários fraudulentos amplia a eficácia dos fluxos de trabalho antifraude. É, portanto, essencial para limitar a atividade de laranjas no ecossistema.

Pagamentos mais seguros e protegidos

Proteger o processo de pagamentos é essencial para a mitigação de fraudes. Com o volume global de pagamentos instantâneos previsto para atingir US$ 58 trilhões até 2028, as instituições financeiras estão sob crescente pressão para defender os sistemas de pagamentos em tempo real contra fraudes.

Organizações que adotam uma ampla gama de soluções antifraude experimentam uma redução de até 18,5% em perdas por fraudes. É o que mostra o relatório “Global State of Fraud and Identity Report”, da LexisNexis Risk Solutions. Ao sobrepor inteligência de ameaças, estratégias de autenticação alternativas e análise transacional aprofundada, essas instituições podem obter pagamentos mais seguros, rápidos e protegidos.

A capacidade de uma instituição financeira de competir depende muito de sua proficiência no combate a fraudes, adaptando-se rapidamente aos riscos emergentes e fornecendo uma experiência de usuário conveniente e de baixo atrito. As instituições podem integrar tecnologia avançada com estruturas colaborativas para combater as redes de fraude cada vez mais engenhosas. O monitoramento de fraudes em tempo real nas etapas de entrada e saída do ciclo de vida da transação continuará sendo essencial.

Além disso, o setor deve trabalhar para padrões regulatórios mais claros além das fronteiras. A fraude é um problema global e a falta de cooperação transfronteiriça limita a eficácia até mesmo dos sistemas locais mais robustos. Harmonizar as estruturas internacionais será essencial para abordar a natureza interconectada da fraude financeira.

O caminho a seguir não é isento de desafios. Há oportunidades não apenas para mitigar riscos, mas também para impulsionar a inovação. Um setor financeiro que incorpora colaboração, alavanca tecnologia avançada e investe na educação do consumidor pode transformar a prevenção de fraudes em uma vantagem competitiva, protegendo tanto as empresas quanto os consumidores que elas atendem.

*Diretor de fraude e identidade da LexisNexis Risk Solutions para América Latina