As agfintechs, startups que exploram soluções financeiras para o setor mais pujante da economia, estão cada vez mais capitalizadas. A Traive, especializada em crédito agrícola, acaba de levantar uma rodada Série A de US$ 17 milhões, numa das maiores captações desse estágio no Brasil
A captação foi coliderada pelos fundos de Venture Capital SP Ventures e Astella, além de veículos de grandes empresas, como Minerva VC (que já anunciara em setembro a presença no deal), Syngenta Group Ventures, Serasa Experian VC e CSN Inova Ventures. Esta será uma das maiores rodadas de investimento de Série A já realizadas no Brasil, atraindo grandes investidores mundiais, como a Tiger Global.
Com o novo investimento, a Traive pretende ganhar musculatura para expandir a base de usuários e criar novas ofertas de produtos e serviços, além de continuar investindo em tecnologia.
“Nós estamos reinventando o crédito agrícola por meio de conexões e dados. Somos os únicos com uma solução completa e integrada, que reúne as melhores tecnologias e parcerias, permitindo a conexão direta entre produtores e investidores finais, análise, gestão de portfólio, monitoramento de risco de crédito e comercialização digital de recebíveis agrícolas em um único lugar”, explica o cofundador e CEO da Traive, Fabricio Pezente, em comunicado.
Vale lembrar que a agfintech já havia recebido um investimento de US$ 2,5 milhões (R$ 14 milhões) em novembro do ano passado, também liderado pela SP Ventures e acompanhado por Bread & Butter Ventures e Techstars, que já investiam no negócio. Em julho de 2019, a Traive captou um seed money de US$ 1,3 milhão.
“Da mesma forma que construímos alguns dos melhores ‘challenger banks’, o Brasil está construindo a indústria de serviços financeiros mais high tech do mundo para o produtor rural. A Traive está liderando essa nova categoria de empresas”, diz Francisco Jardim, o Chico, sócio da SP Ventures, no mesmo comunicado.
Fundada em 2018, a agfintech utiliza inteligência artificial, a partir de tecnologia desenvolvida no MIT, para oferecer um conjunto de soluções financeiras com base nos perfis de crédito dos produtores. A empresa desenvolveu algoritmos específicos para o setor agrícola e, a partir dessas informações, consegue disponibilizar na mesma plataforma uma gama de soluções de crédito.
O nome vem da união das palavras “Thrive”, prosperar em inglês, com a inclusão de AI, de inteligência artificial. Por isso, o “TrAIve”. Ao lado de Fabrício — que atuou por mais de 12 anos no Credit Suisse, encerrando a carreira no banco como vice-presidente de produtos estruturados — está a esposa, Aline Pezente, que possui passagens por Louis Dreyfus Company, BRF, Cargill e Citibank.
Ao mesmo tempo em que levanta capital, a Traive também está investindo em rebranding, com o foco de ser “a melhor e mais segura conexão entre os produtores rurais, os financiadores de insumos e suprimentos para a produção e o mercado de capitais”, diz a empresa.
Mercado aquecido
O avanço das agfintechs é o sinal do aquecimento da intersecção entre agro e serviços financeiros. Ajudam a fomentar este mercado empresas como a TerraMagna, que usa monitoramento via satélite, fontes de dados alternativas e análise por inteligência artificial para conectar o campo ao mercado de capitais. Em fevereiro, a agfintech participou de um novo FIDC, gerido pela Sparta, que captou R$ 48 milhões com foco no financiamento agrícola. Mais recentemente, fechou uma parceria com a FMC, de defensivos agrícolas, e com a consultoria especializada em agro Marksestrat, conforme o Finsiders noticiou com exclusividade.
Estão nessa lista, ainda, a Bart Digital, pioneira na emissão de CPR eletrônica, e que tem hoje uma plataforma de crédito, originação e monitoramento de garantias agrícolas. A DuAgro, fruto da união da XP Inc. com a securitizadora Vert, também atua com crédito para pequenos e médios produtores. Engrossam a fila a Nagro, fintech especializada em crédito rural, que recentemente levantou R$ 35 milhões em seu primeiro FIDC, e a A de Agro (antiga Agronow), que tem parceria com o BTG Pactual.
Já a Agrolend, a mais novata, oferece capital de giro para o pequeno e médio produtor rural, por meio de acordos com revendas e indústrias de insumos. Um dos diferenciais é a operação verticalizada. Em setembro, a fintech recebeu aprovação no Banco Central (BC) para atuar como Sociedade de Crédito Direto (SCD), o que lhe permitirá realizar operações de crédito com recursos próprios. No futuro, o plano é ser um banco digital multiprodutos, dizem os fundadores e irmãos André e Alan Glezer, em conversa recente com o Finsiders.
No mês passado, o Alfa também assinou um cheque para a E-ctare, fintech de soluções em crédito para produtores rurais e toda a cadeia do agronegócio, conforme revelou com exclusividade o Finsiders. O valor não foi divulgado.
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