A CloudWalk, dona da maquininha InfinitePay, tem como sonho criar uma rede global de pagamentos. A fala é de Luís Silva, o fundador e CEO. Para ele, blockchain é o futuro dos meios de pagamento, e a empresa que fundou em 2013 quer fazer parte dessa história.
Uma história que ganha um novo capítulo agora, com o segundo aporte recebido neste ano pela CloudWalk. Depois de levantar US$ 190 milhões em uma generosa Série B, em maio, a empresa acaba de captar mais US$ 150 milhões em uma rodada Série C liderada pela gestora norte-americana Coatue (que investe em nomes como Quanto e Deel).
Com o cheque, a CloudWalk eleva o total captado em sua história para US$ 365 milhões (quase R$ 2 bilhões), passando a valer US$ 2,15 bilhões.
Nesta nova rodada, participaram também DST Global, Valor Capital, The Hive Brazil e Plug and Play Ventures — todos que já estavam no captable — além de novos investidores, como A-Star, além do investidor-anjo Gokul Rajaram e dos jogadores de futebol americano Larry Fitzgerald e Kelvin Beachum.
“Queríamos captar no fim de dezembro, mas nossos números estavam muito bons que decidimos captar antes”, diz ao Finsiders Luís Silva, fundador e CEO da CloudWalk.
Ele se refere ao volume total processado (TPV, em inglês) pela companhia — US$ 2,4 bilhões/ano — e aos mais de 150 mil clientes em 4,3 mil cidades brasileiras.
Como comparação, a Stone processou R$ 209,9 bilhões no ano passado inteiro. Já a PagSeguro apurou um TPV de R$ 161,5 bilhões em 2020.
Luís não se incomoda com a concorrência no setor que não apenas teve o forte avanço desses dois players acima nos últimos anos, mas também alguns competidores menores, entre eles, a europeia SumUp — que aguarda aval do BC para se tornar adquirente plena, conforme revelou o Finsiders.
“Vejo o mercado como um oceano azul: a penetração de cartões ainda é muito baixa no Brasil e o número de adquirentes também.”
Segundo ele, a CloudWalk é a ‘única adquirente do planeta’ que trabalha com web 3.0 e blockchain em pagamentos. Com a tecnologia que construiu, a empresa diz conseguir reduzir drasticamente as taxas cobradas dos clientes. “Temos a melhor tecnologia, isso gera mais eficiência, possibilita dar o melhor produto com o melhor preço para o cliente”, defende Luís.
Na antecipação de recebíveis de vendas parceladas em 12 vezes, a CloudWalk cobra 7,43%, contra taxas acima de 20% dos competidores. O ‘take rate’ não é informado pela empresa, muito embora ela tenha dito recentemente ao Brazil Journal que cobra 0,4% por transação — a título de comparação, a Stone tinha ‘take rate’ de 1,51% em 2020.
Um especialista em meios de pagamento é crítico sobre a estratégia ‘agressiva’ em preços adotada pela companhia. Segundo essa fonte — que tem décadas de experiência no setor –, o custo de transação não é tão importante que faça diferença no final das contas.
“Quando pega a receita de uma adquirente ou subadquirente e tira os seus custos, o mais importante é o intercâmbio, seguido do imposto. Em terceiro lugar, talvez venha o custo de transação, que não pode ser mais do que R$ 0,10 ou R$ 0,15 por operação”, analisa.
Na visão dessa fonte, a empresa está usando o dinheiro de investidores para aumentar a base de clientes, com preços que talvez não gerem margem, com o objetivo de crescer sem dar resultado para, só depois, melhorar preço. “Mas eu sei que, no mundo de meios de pagamentos, preço nunca vai pra cima, exceto na antecipação de recebíveis.”
Além da maquininha — o ‘feijão com arroz’ –, a empresa oferece soluções de link de pagamento; carteira digital, assim como uma plataforma gratuita de loja on-line para os varejistas.
A companhia acaba de lançar uma stablecoin, a Brazilian Digital Real (BRLC) e também está começando a dar cashback em criptomoeda como uma estratégia para que os lojistas consigam atrair mais clientes para suas lojas.
O público que a InfinitePay acessa é o pequeno e médio varejista, que processa em média algo como R$ 12 mil ao mês. São lojistas de segmentos como eletrônicos, moda, beleza e oficinas mecânicas, por exemplo. Negócios de pequeno porte que também estão na mira de nomes como PagSeguro, SumUp e Mercado Pago.
Com uma base ativa de mais de 150 mil clientes — a empresa considera ativo quem processou pelo menos uma transação nos últimos 90 dias –, a CloudWalk espera encerrar este ano (sim, 2021 ainda) com mais de 220 mil clientes ativos. “A gente vem crescendo 40% a cada trimestre”, afirma Luís.
O grande desafio do negócio, reconhece o empreendedor, é a ‘escala’. Com o novo aporte, a companhia vai em busca das “melhores pessoas em tecnologia” — hoje, a CloudWalk tem uma equipe com 300 funcionários distribuídos por cinco países e 45 cidades.
O cheque permitirá à empresa também acelerar sua expansão internacional, com o objetivo de iniciar operações nos mercados norte-americano e na Europa nos próximos dois anos.
Para Michael Gilroy, sócio do Coatue, a CloudWalk é uma das empresas “mais empolgantes da América Latina” devido a seu impressionante crescimento e profundo compromisso com a constante inovação das soluções de pagamento digital. “Estamos extremamente orgulhosos de mais uma vez nos associarmos com Luís e sua equipe para ajudar a CloudWalk a manter sua forte presença no Brasil e buscar oportunidades de expansão internacional”, disse, em comunicado.
A julgar o tamanho da indústria de cartões no país — que deve encerrar o ano representando 54% do consumo das famílias — potencial para crescimento da CloudWalk existe. No acumulado de 2021 até setembro, o setor movimentou R$ 1,8 trilhão, conforme dados divulgados ontem pela Abecs, a associação do setor. O montante representa um incremento de 34,1% em comparação com o mesmo intervalo de 2020.
Para 2022, a entidade projeta que o setor ultrapasse pela primeira vez a marca de R$ 3 trilhões movimentados em pagamentos com cartões (crédito, débito e pré-pagos).
O Financial Technology Partners (FT Partners), banco de investimento baseado em São Francisco, atuou como consultor estratégico e financeiro exclusivo da CloudWalk na Série C.
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