Artigo | Open Finance e empoderamento financeiro

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Por Fabrício Violin e Mariana de Camargo Assumpção, exclusivo para o Finsiders*

Desde 2019, o Banco Central (BC) vem preparando as instituições do sistema financeiro brasileiro para falar de um tema até então pouco explorado no contexto nacional: a democratização ao acesso a dados financeiros.

Segundo o Instituto Locomotiva, em janeiro de 2021, 79% da população brasileira já era bancarizada e chegou a movimentar sua conta no último mês. Se levarmos em consideração a população total de habitantes no Brasil dessa época, chegamos à conclusão de que cerca de 128 milhões de brasileiros já possuíam relacionamento ativo com uma ou mais instituições bancárias, sendo elas tradicionais ou não.

Fazendo um paralelo desse cenário com o mundo de dados, chegamos à conclusão de que cerca de 128 milhões de brasileiros fornecem diariamente uma grande quantidade de dados às instituições financeiras.

O fornecimento desses dados se dá de forma simples e, na maioria das vezes, automática. Desde o início do relacionamento, no qual o cliente informa dados pessoais como nome, CPF, contatos e endereço, passando pela futura contratação de mais produtos e serviços, o cliente vai, de forma natural, cedendo dados e informações pessoais as suas instituições. São milhares de informações trocadas em um relacionamento que pode durar anos.

Dessa forma, uma instituição que entenda a importância dessas informações e invista em sua área de inteligência de dados é capaz de conhecer o seu cliente profundamente. Dados rotineiros de compras com o cartão de crédito e informações diárias do extrato bancário oferecem aos bancos a oportunidade de construir uma espécie de estudo genético dos hábitos de compras e preferências de cada consumidor.

Entender a riqueza dessas informações e saber tratar esses dados cria vantagem competitiva na construção de produtos e soluções que realmente atendam às necessidades dos clientes.

O objetivo principal do Open Finance no Brasil é permitir que toda essa gama de dados e informações possam ser acessados por instituições de forma democrática e padronizada. O compartilhamento de dados irá permitir que todo o histórico do relacionamento entre um cliente e uma instituição seja reconhecido por outra, trazendo inúmeros benefícios ao cliente final. E, é nesse momento, que podemos falar sobre o impacto que o Open Finance pode ter no empoderamento financeiro dos brasileiros.

Em janeiro de 2021, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgou a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), que mostrou que 66,5% da população brasileira estava endividada. A situação financeira pouco favorável de mais da metade da população é o que nos faz chegar ao termo “empoderamento financeiro”.

Embora o nome pareça assustar, o conceito é bem mais simples do que parece. Empoderamento financeiro nada mais é do que saber gerenciar suas finanças pessoas na prática, tomando as melhores decisões quando o assunto é gastar ou guardar. Aprender a gerir dinheiro é um passo essencial para a liberdade financeira, porém, essa é uma realidade muito distante do dia-a-dia do brasileiro hoje.

E é aí que, sob essa ótica, os benefícios do Open Finance entram. Permitir que distintas instituições tenham acesso a seus dados bancários e, consequentemente, a sua realidade financeira abre uma grande oportunidade para que essas instituições possam entender melhor seu momento de vida e trazer como oferta aquilo que é realmente melhor para você.

Na prática podemos pensar em muitas soluções em que o compartilhamento de dados pode ajudar o cliente a tomar melhores decisões financeiras. Como exemplo, podemos considerar um cliente que mensalmente acaba gastando mais do que ganha e por isso consome seu cheque especial, uma das linhas de crédito mais caras do mercado.

Esse cliente, ao compartilhar seus dados com outras instituições poderá receber distintas propostas de soluções de crédito que melhor se enquadrem a seu momento de vida, até mesmo com taxas menores. No final, ele poderá optar por aquele que traz o melhor benefício para sua saúde financeira, de forma simples e transparente.

Os benefícios do compartilhamento de dados atingem um público muito maior do que só aqueles que terminam o mês no vermelho. Ele também pode atingir aqueles que não tiveram acesso à educação financeira para tomar as melhores decisões do que fazer com o dinheiro que “sobra” ao final do mês.

Para esses clientes, que muitas vezes acabam deixando seu dinheiro “parado” na conta corrente ou que investem em fundos que quase não tem retorno, o compartilhamento pode oferecer a várias instituições a oportunidade de ofertar a esses clientes soluções mais inteligentes, recomendando investimentos mais assertivos para aquele perfil.

Nesses e em muitos outros contextos, o Open Finance nos permite expandir o horizonte de oportunidades do empoderamento financeiro a muitos públicos. A modificação do termo Open Banking para Open Finance traduz o que podemos esperar dessa inovação no futuro: uma integração de dados nunca vista no mercado.

Ter acesso aos dados de pessoas que até então passavam despercebidas pelo sistema bancário pode trazer ao mercado inúmeras oportunidades de olhar para um novo público potencial, e para esse público, o benefício de se empoderar quando o assunto é o seu dinheiro.

Assim, podemos esperar que o Open Finance potencialize a consciência dos brasileiros sobre a sua saúde financeira e que, de forma indireta, ensine a população sobre as melhores soluções que existem no mercado.

Nesse momento, o papel das instituições que fazem parte dessa revolução é de promover aos clientes um ambiente seguro e transparente para que os dados transmitidos sejam utilizados para retorno real de valor aos clientes finais. Para a população, o momento é de acreditar em uma nova era do sistema financeiro e se preparar para um mercado totalmente voltado ao cliente.

*Fabrício Violin é gerente de estratégia e inovação e Mariana de Camargo Assumpção, especialista de Open Finance, ambos do banco BV.

As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado, e não a do Finsiders.

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Redação: Conteúdos produzidos pela equipe de jornalistas do Finsiders,
além de artigos de executivos do setor

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