Cristiano Maschio*
A terceira fase do Open Banking, que começou em 29 de outubro, traz uma mudança mais visível no dia a dia do consumidor que ainda não se deu conta do que o programa de abertura do setor financeiro já trouxe de modernização e amplia o mar de oportunidades para as fintechs.
Com as mudanças desta fase do projeto, as pessoas vão poder efetuar o pagamento via Pix em sites de e-commerce sem precisar acessar o aplicativo do banco . Isso quer dizer que, ao escolher o pagamento pelo Pix, o cliente irá apenas informar a chave de identificação, que pode ser o CPF ou endereço de e-mail, ao site.
A empresa responsável por efetuar o pagamento irá acionar o banco tradicional ou digital do cliente para realizar o débito. No entanto, antes do procedimento ser realizado, a instituição financeira irá emitir um comunicado com os detalhes da compra para o correntista, que deverá aprová-la.
Dessa forma, a transação terá início fora do sistema financeiro gerando mais oportunidades sobretudo para as varejistas do e-commerce e outras fintechs que possam criar mais serviços de pagamento.
Do ponto de vista regulatório, essas operações são viabilizadas pela figura do “Iniciador de transação de pagamento” (ou ITP, na sigla), instituída pelo Banco Central há um ano. Por meio deles, marketplaces ou varejistas de e-commerce terão que contar ou então se tornarem iniciadores de transação de pagamento para colocar a novidade em prática.
Atualmente, o WhatsApp já é um ITP, autorizado pelo Banco Central. Empresas como iFood ou Uber, se virarem Itps, não precisarão, por exemplo, pedir que seus clientes cadastrem um cartão de crédito para receberem pagamentos.
Serviços bancários anywhere
Na prática, o Open Banking vai acelerar a adoção de um outro conceito , o do Embedded Finance. Trata-se da plena integração do serviço financeiro ao portfólio de uma empresa que não é um banco ou fintech, como as varejistas, por exemplo.
De forma simples: o cliente não precisa deixar o ambiente do site, app ou a plataforma da empresa não financeira para fazer e processar o pagamento ou até mesmo contratar empréstimo, já que esses serviços também podem passar a ser oferecidos.
Outro exemplo de Embedded Finance é a Santuu, um marketplace do universo das bikes , que já faz parcerias com seguradoras e bancos, para vender seguros e financiamento, mas agora planeja virar fintech e oferecer seus próprios serviços financeiros.
A operacionalização das transações é feita por uma fintech ou instituição financeira, “debaixo do capô”, por meio do uso de APIs (application programming interface) facilitando a experiência do cliente. Cria-se a oportunidade de ampliar a oferta de Banking as a Service, que está apenas começando a explorar as oportunidades e chances de integração.
De acordo com a regulamentação do Banco Central, os Iniciadores de transação de pagamentos são só mais um tipo de Instituições de Pagamentos (IP). As IPs, criadas em 2013 pelo BC, foram a porta de entrada para a maioria das fintechs, prestando serviços, como emissão de boletos, emissão de cartão de crédito, pagamentos, transferências etc.
Mas existem outros tipos de instituições autorizadas pelo BC que integram o universo das fintechs e que têm modernizado o sistema financeiro, como as Sociedades de Crédito Direto (SCD).
Os chamados bancos digitais nascem, muitas vezes, de uma plataforma tecnológica que integra diferentes tipos de instituições desse novo ecossistema de inovação, capaz de integrar as fases de suporte de um banco tradicional. No final das contas, a empresa original pode funcionar como um banco, emitindo ela mesma boletos, gerando link para pagamentos, lidando com transferências via Pix, até emitindo cartões, como oferece a Qesh.
É um ecossistema em que ganham os consumidores, com redução de tarifas, aumento de competitividade e ganho de fluidez nos processos que envolvem transações financeiras. Ganham as empresas não financeiras, que oferecem melhor experiência ao seu cliente e podem crescer sem ter de aumentar o quadro de funcionários. Na prática, parte do lucro do banco vai pro bolso da própria empresa. E ganham os empreendedores com um vasto campo de exploração para promover inovação.
Quarta fase: Open Finance
A quarta e última fase do Open Banking, prevista para o fim do ano, marca o início do Open Finance, que prevê o compartilhamento de dados de serviços relacionados a câmbio, credenciamento, seguro, investimento, previdência e conta salário.
Após a conclusão do processo do Open Finance já são esperadas as aberturas de muitos outros setores para as empresas de tecnologia, como o Open Health, para os planos de saúde, o Open Insurance, para seguradoras, e até Open Delivery, para as empresas de entregas.
O Brasil está conduzindo o maior processo de open banking do mundo, em termos de velocidade, escopo e número de participantes. Só nos primeiros 90 dias, foram registrados pelo BC mais de 71 milhões de chamados a APIs . A termos de comparação, o início do sistema britânico, um dos pioneiros, teve 9 milhões de chamadas.
Essa é uma iniciativa para produzir efeitos substanciais e modificar negócios com benefícios de longo prazo.
*Cristiano Maschio é fundador e CEO da Qesh
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