Fintechs de crédito estão se voltando para oferecer novos produtos e serviços para as pequenas e médias empresas (PMEs) é uma tendência cada vez mais concreta.
Não é por menos. Indicador de demanda por crédito da Serasa Experian mostra que essa procura por pequenos negócios cresceu 21% nos 11 meses de 2021, enquanto as companhias de médio porte tiveram alta de 7,4% e as grandes, de 7,9%.
Com uma concentração do mercado de crédito ainda nas mãos de grandes bancos e estes sinalizando que irão voltar sua atenção para empresas de maior porte, há espaço para as startups de finanças atuarem.
Nisto acredita a Mutual, fintech de P2P lending, tanto que neste ano, quer expandir sua atuação em relação às PMEs e se consolidar como um hub ‘multi-funding’, projeto este iniciado em 2021.
“O ano de 2021 foi de testes, agora queremos escalar muito”, diz Victor Fernandes, cofundador e co-CEO da Mutual, ao Finsiders.
Um desses testes e que deve ser lançado neste primeiro trimestre é a linha de crédito a partir dos recebíveis que uma PME possui, seja cartão de crédito, seja duplicata.
Segundo o empreendedor, junto com a outra linha lançada em 2021, para capital de giro sem garantia, a expectativa é chegar entre R$ 50 milhões e R$ 80 milhões de empréstimos neste ano. Em relação à linha já existente, foram originados R$ 10 milhões. Mais de 40 empresas tiveram acesso ao crédito por meio da plataforma da Mutual.
De modo geral, a expectativa é atingir R$ 300 milhões em 2022 em todas as linhas seja para pessoas jurídicas ou físicas (capital de giro PJ; recebíveis; empréstimo pessoal; financiamento solar residencial; e financiamento solar para PMEs). Ao todo, são mais de 700 mil usuários da plataforma.
Ao mesmo tempo, Victor espera que o empréstimo para pessoas físicas e o financiamento de painéis solares sejam as linha de maior sucesso em 2022, mas preferiu não entrar em detalhes sobre metas ou produtos a serem lançados.
O maior objetivo da fintech é se consolidar com um hub que oferece os mais variados tipos de investimentos, ou seja, um hub multi-funding, a qual conecta pessoas, empresas e fundos.
A Mutual, inclusive, segue investindo em mais frentes de negócios. Uma delas é voltada para produtos de crédito levando em consideração questões ESG — um negócio que, no futuro, pode ser uma empresa separada – e que deve contar com “novidades” ainda neste ano.
A outra é a plataforma Scora, que já está em operação e ajuda o consumidor a trocar financiamentos por opções mais baratas ou adequadas a realidade do consumidor.
Novas rodadas
Victor não descarta que novas rodadas de investimentos possam acontecer neste ano para viabilizar os planos. Em agosto do ano passado, conforme o Finsiders revelou, a Mutual conseguiu levantar R$ 22 milhões, por meio da venda de ações da subsidiária Combate à Fraude para um grupo de empreendedores estrangeiros. A operação representou uma saída parcial da startup, que continuou com 25% na subsidiária.
O valor total da transação com a entrada dos empreendedores somou cerca de R$ 40 milhões, englobando também aumento de capital.
Concorrência por todos os lados
Victor não vê problemas em atuar em várias frentes de negócios, em que cada um dos caminhos existem players focando também em expandir seus negócios. Mas que a concorrência só aumenta, isso é fato.
Um exemplo disso é que, desde 2018 — quando Sociedades de Crédito Direto (SCD) e Sociedades de Empréstimo entre Pessoas (SEP) foram autorizadas e regulamentadas –, o Banco Central (BC) registrou mais de 140 pedidos. Conforme o último levantamento do regulador, o Brasil possui 74 fintechs de crédito. Sabendo disso, as movimentações não param.
Entre as fintechs de crédito focadas em PME e olhando para os recebíveis, os nomes são vários. Uma delas é a Adiante, do grupo GCB. A empresa acabou de concluir uma captação de R$ 10 milhões por meio de debênture — para financiar a compra de notas fiscais de produtos, as chamadas duplicatas mercantis — e já protocola mais uma, no valor de R$ 100 milhões. A expectativa é que a nova emissão seja finalizada neste primeiro trimestre.
A Trademaster, especializada em soluções financeiras e de crédito B2B, acabou de lançar um novo produto para recebíveis de cartão, o Tradeturbo, e já tem duas outras novidades que serão apresentadas aos clientes no primeiro trimestre do ano: o Tradeprazo e o Tradegiro.
Em relação ao financiamento de painéis solares, uma concorrente de peso é a SolFácil, que captou recentemente R$ 1,28 bilhão, por meio de emissão de green bonds, e lançou um marketplace. A Edmond também busca se posicionar no segmento e vai lançar cartão de crédito e seguros, conforme mostrou o Finsiders.
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