A tendência do ‘embedded finance’ veio para ficar. Os casos são inúmeros em setores como varejo, telecom, transportes, saúde, entre outros. A explicação é simples: ao embutir serviços financeiros, as empresas adicionam uma nova linha de receita, assim como têm oportunidade de melhorar o relacionamento com os clientes, com chances de aumentar o LTV (lifetime value) da base.
Na plataforma argentina de e-commerce Nuvemshop, a investida em serviços financeiros ganhou corpo em outubro do ano passado, com o lançamento de um meio de pagamento próprio, o Nuvem Pago, num projeto que envolveu investimento de R$ 150 milhões.
A solução de pagamentos já está disponível para a base de mais de 90 mil lojistas e é só o primeiro passo de uma vertical de produtos e serviços financeiros que está sendo desenvolvida pela Nuvemshop, internamente e via parcerias.
Sem detalhar os projetos no roadmap, Rodrigo Rivera, vice-presidente de estratégia da Nuvemshop e responsável pelos negócios de pagamentos e logística na América Latina, dá algumas pistas ao Finsiders do que pode ser desenvolvido.
“Vamos acrescentar várias coisas. Temos a conta de pagamentos, vamos acrescentar funcionalidades, por exemplo, que possa ser remunerada, possa fazer pagamento de folha. Posso fazer empréstimos para capital de giro, mas também dar uma opção de parcelamento para os consumidores, no modelo ‘buy now, pay later’. Tem a parte de seguros para os ‘merchants’”, diz.
Hoje, a empresa já oferece opções de antecipação de cartão de crédito, boleto e Pix, e o pipeline prevê a criação de um cartão de crédito e uma maquininha para os lojistas.
“Queremos acompanhar os ‘merchants’ em tudo, olhar de maneira integrada o mundo físico com o online. No final do dia, o grande objetivo é que o lojista tenha tudo na nossa plataforma: check-out, faturamento, cartão de crédito, Pix, boleto, envios. Estamos habilitando o empreendedor.”
O Brasil foi o país escolhido para a companhia inaugurar sua incursão em serviços financeiros e agora a empresa está trazendo um executivo para liderar a Nuvem Pago no país, revela Rodrigo, deixando claro que a vertical é estratégica para Nuvemshop.
A ideia é levar a oferta financeira para outros países nos próximos anos. “Estamos com mais de 90 mil lojistas, no ano que vem teremos 170 mil, daqui a cinco anos 5x isso. Temos de trazer o melhor que o mercado tem”, justifica o executivo.
Com uma plataforma de e-commerce para pequenas e médias empresas (PME), a Nuvemshop integra produtos, pagamentos, envios e disponibiliza para sua base de mais de 90 mil lojistas um ecossistema com mais de 1 mil parceiros, como Facebook, Instagram, marketplaces e lojas físicas.
Em agosto do ano passado, a empresa recebeu um cheque de R$ 2,6 bilhões (equivalente a US$ 500 milhões), tornando-se na época o mais novo unicórnio da praça. De lá para cá, comprou a plataforma de logística Mandaê e a edtech Ecommerce na Prática.
Em dezembro, lançou um fundo de R$ 55 milhões com o objetivo de fortalecer o ecossistema de e-commerce na América Latina. Com foco em empresas localizadas no Brasil, México e na Argentina, o fundo aportará recursos em empresas tecnológicas e parcerias que desenvolvem soluções para atender às necessidades de lojistas de diferentes tamanhos e segmentos.
“O objetivo é desenvolver essa economia do ecossistema. Não é para fazer ‘spin-off’ ou concorrer com VCs, é uma ferramenta para complementar e apoiar o ecossistema”, explica Rodrigo ao Finsiders.
Sem abrir o tamanho dos cheques, o executivo diz que a ideia não é fazer aportes “super early-stage”. A previsão é iniciar as operações do fundo neste ano. “Já estamos falando [com algumas empresas] e olhando, mas ainda não estamos paquerando.”
‘Embedded finance’
A Nuvemshop não é a única a integrar serviços financeiros em sua plataforma. Nos últimos anos, a Locaweb vem fazendo diversas aquisições para ampliar sua atuação no segmento. Em outubro de 2020, comprou a plataforma de pagamentos recorrentes Vindi. Em fevereiro do ano passado, também adquiriu a fintech de crédito para PMEs Credisfera. Em abril, comprou a Pagcerto. E não deve parar por aí para ampliar seu ecossistema, como já reiterou em diversas ocasiões.
A VTEX, com mais de 2,5 mil clientes lojistas online, anunciou em outubro do ano passado, por exemplo, a integração entre sua plataforma e a da Stripe, com processamento de pagamento em mais de 135 moedas. Além disso, os comerciantes clientes da VTEX podem aceitar o Google Pay, assim como outras opções, como Apple Pay, cartões de crédito e débito.
Embora não seja concorrente direto, o Mercado Livre é um dos principais casos de ‘fintechzação’ no mundo de e-commerce e marketplace. Sua fintech, o Mercado Pago, já tem 20 milhões de clientes ativos, oferece diversos produtos e serviços financeiros e representa mais de um terço do faturamento da “empresa-mãe”.
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