Exclusivo: O marketplace reverso de crédito do Kalea atraiu Silvio Meira

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O Kalea, fintech que opera com modelo de marketplace reverso de crédito para PMEs, acaba de levantar sua primeira captação de recursos. O aporte, de valor não revelado, foi feito pelo Saints, um fundo formado por uma rede de dez investidores – entre eles, a Squared Ventures, do cientista e professor Silvio Meira e presidente do conselho do Porto Digital, em Recife (PE). 

“A gente tem uma aposta de que o Kalea pode ser uma das fundações do mercado de crédito B2B e B2B2C no país, olhando inclusive para financiamento de sellers em marketplaces”, diz Silvio, com exclusividade ao Finsiders. “Não divulgamos o valor do investimento, mas é suficiente para fazer a aceleração da empresa no estágio atual.”

Com a plataforma rodando desde fevereiro do ano passado, o Kalea nasceu em Recife (PE) e aposta no formato de marketplace reverso de crédito. Nele, a lógica se inverte: em vez de empresas buscarem empréstimos e financiamentos nas instituições, os agentes financeiros – bancos, fintechs, SCDs (Sociedades de Crédito Direto) e FIDCs, por exemplo – prospectam ativamente na base de clientes que utilizam a plataforma. Tudo, claro, com consentimento das empresas.

O robô criado pela startup, com uso de inteligência artificial (IA), trata e estrutura os dados empresariais e indicadores das companhias para fornecer, desde que haja autorização, para os agentes de crédito.

O negócio, fundado pelos administradores Luiz Falbo Di Cavalcanti e Roberto Silva e pelo engenheiro de software Laerte Rodrigues, foi acelerado em 2020 pelo Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas do Banco Central (LIFT Lab), com apoio da Microsoft. Atualmente, também está incubada no hub de inovação do Banco do Nordeste (BNB), no Porto Digital, em Recife (PE).

Administrador, com especialização em finanças corporativas, Falbo foi diretor financeiro de indústrias e há 16 anos montou uma empresa com seu nome de assessoria em finanças corporativas e gestão empresarial, com foco em apoiar empresas do middle market a captar recursos, incluindo projetos de estruturação de empresas do zero até grandes grupos empresariais. Dessa experiência, nasceria o Kalea, em 2019.

O objetivo da startup é tornar o crédito mais acessível para pequenos e médios negócios Brasil afora, um público que sofre com a tomada de recursos em grandes bancos.

A ideia é quebrar a assimetria de informações porque os dados vão partir diretamente das empresas. Por exemplo, o empresário pode informar qual o nível de endividamento, quanto tem de capital de giro, se possui recebíveis como garantia, entre outros itens que ajudam na análise do crédito.

“A análise tradicionalista de crédito vai olhar balanço, mas isso não chega na ponta do micro e pequeno empresário. O Kalea chega para mostrar quem é esse cara para o mercado financeiro. Temos uma seção em que os financiadores enxergam informações qualitativas das empresas, além dos ‘economics’”, diz Falbo, ao Finsiders. “Por outro lado, essa análise precisa considerar dados de fontes seguras, e também se relacionar com fontes de informação tradicionais.”

Use of proceeds

Com o dinheiro que está entrando, o Kalea vai investir em três frentes, principalmente. Uma delas é a estruturação operacional, com contratação de pessoas para a equipe. A outra é a estruturação do modelo B2B2C e B2B, fechando parcerias com plataformas e empresas não financeiras que queiram oferecer crédito para seus clientes e fornecedores, de forma descentralizada, ou seja, sem depender de uma só instituição financeira.

A fintech também vai lançar uma solução de ‘tokenização’ que tem como objetivo acelerar o processo de relacionamento entre empresas e instituições de crédito, incluindo check-list automatizado de documentos, pré-análise do perfil empresarial e onboarding. Esse novo serviço também conta com recursos de edital do Fundeci (Fundo de Desenvolvimento Econômico, Científico, Tecnológico e de Inovação), do BNB (Banco do Nordeste).

Desde que começou a operar, a plataforma do Kalea já intermediou um total de 95 propostas de crédito, que somam cerca de R$ 50 milhões, com uma conversão próxima de 4%. São solicitações em diversas linhas e modalidades, como capital de giro, financiamentos e refinanciamentos.

A fintech atende desde MEIs (microempreendedores individuais) a negócios que faturam até R$ 500 milhões anualmente. “Em média, são empresas que faturam R$ 100 mil/mês.”

Na outra ponta, dos financiadores, a base reúne 14 instituições plugadas ao Kalea, entre elas, o banco Rodobens, a fintech BizCapital e a plataforma de crédito Tomático, da gestora Captalys. “Temos sido muito criteriosos, com uma curadoria na seleção dos agentes financeiros.”

Com o aporte recebido, o Kalea passa a integrar o portfólio da Squared Ventures, que investiu no banco digital multimoeda Zro Bank, na startup de logística Fusion (comprada pela Praxio no fim de 2020), na healthtech Bright Photomedicine, entre outras empresas. Entre os investimentos está, ainda, o Instituto do Autismo.

Falbo e Silvio se conheceram nos “corredores” (virtualmente, por causa da pandemia) do Porto Digital, um dos maiores parques tecnológicos da América Latina, com mais de 300 empresas e cerca de 15 mil profissionais abrigados em sua estrutura, conforme balanço divulgado ontem (23).

“Quando conheci o Kalea, me perguntei como todo cientista faz: o que é isso e como funciona? E fui apresentar para o fundo, e lá tinha gente que já conhecia [a empresa]”, conta Silvio. “O foco da gente é investir em negócios intensivos em tecnologia ou que, apesar de não serem intensivos em tecnologia, vemos caminho para serem. É porque é complexo que vale tentar resolver. E no caso do Kalea, é como resolvemos o problema de crédito do pequeno e médio empreendedor.”

Mercado

Dado o tamanho e a magnitude do problema – e também da oportunidade –, é natural que o Kalea não seja a única fintech a seguir no caminho de marketplace de crédito para PMEs. O Finpass, primeiro shopping digital de crédito para empresas fundado em 2016, soma mais de 150 mil empresas cadastradas na plataforma e uma base de cerca de 400 financiadores. A fintech fecha mais de 400 contratos de crédito por mês e tem uma conversão de 30%, segundo seu fundador, Dan Cohen.

A Capital Empreendedor – que estreou em dezembro de 2018 – soma mais de 10 mil usuários em sua plataforma e mais de 360 financiadores plugados, incluindo factorings, grandes bancos, fintechs, FIDCs e empresas simples de crédito. Em dezembro último, a fintech levantou R$ 1,5 milhão via CapTable, plataforma de equity-crowdfunding da StartSe, conforme o Finsiders noticiou em primeira mão.

Quem também resolveu ingressar nesse mercado foi a gestora Credit Brasil, que lançou em novembro de 2019 a Finplace, que conecta micro, pequenos e médios negócios que buscam crédito a cerca de 300 financiadores (FIDCs, factorings, bancos médios e securitizadoras).

“Queremos inverter o fluxo tradicional do relacionamento de crédito, em que as empresas precisam ficar batendo de porta em porta nos bancos para conseguir crédito”, defende Falbo.

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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.

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