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Por Gastão Mattos*, exclusivo para o Finsiders
Algumas evoluções da tecnologia são tão impactantes na vida das pessoas que podem ser consideradas disruptivas. Muitas vezes esse processo evolutivo é mais lento e gradual, “explodindo” e se consolidando em um determinado momento ao ser impulsionado por algum aspecto conjuntural específico. A partir desse ponto de ruptura, não tem mais volta, e nada será mais como antes. Estamos observando um bom exemplo desse fenômeno no mercado de pagamentos.
Recentemente, um dos principais fabricantes globais de terminais de captura de pagamentos foi vendido, apenas dois anos após ser adquirido. O que mais chamou a atenção nessa transação foi a desvalorização do ativo, que perdeu quase 75% de seu valor nesse período.
É um indicador importante de uma tendência em curso, que tem obrigado alguns negócios a se reinventarem, caso de redes adquirentes e fabricantes de terminais. Com a virtualização dos meios de pagamentos, os devices de captura física, as populares maquininhas, estão perdendo valor.
Esse movimento ganhou um empurrão e tanto com a pandemia da covid-19. E é fácil explicar as razões disso. Além de potencializar o e-commerce, o contexto trazido pelo coronavírus favoreceu tipos de procedimento que não exigem contato físico mesmo quando realizados presencialmente, por um motivo óbvio: inserir um cartão em um terminal e digitar nele uma senha, por exemplo, se tornaram caminhos para a contaminação. Assim, a saída passou a ser o débito ou crédito por aproximação, o chamado ‘contactless’.
Outro fato relevante no contexto é o advento do Pix. Com o novo sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central (BC), muitas lojas pequenas estão abolindo a necessidade de um terminal POS para seus recebimentos.
Normalmente são comércios pequenos ou informais, mas não é fora do comum perceber essa opção mesmo em lojas de shopping. A transferência é feita de forma simples, sem o QR Code, com o vendedor informando o CPF (nos casos mais informais) ou CNPJ para o consumidor efetivar o pagamento via Pix.
A escalada da virtualização que temos testemunhado atinge os dois lados do negócio: o da emissão de cartões e o da captura de pagamento em lojas.
Em seu report mais recente, a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) publicou que 21% das transações com cartões no Brasil foram feitas de forma não presencial em 2021.
O mesmo relatório aponta que, no ano passado, as compras físicas sem contato movimentaram R$ 198,9 bilhões, o que representa um crescimento de 384% em relação ao ano anterior.
Em 2021, 7,5% de todo o volume pago com cartões de crédito ocorreram dessa forma, contra 2% em 2020. Do volume faturado por cartões no ano passado (R$ 2,65 trilhões), 28,5% foram “virtualizados”, correspondendo a compras remotas tipo e-commerce e as sem contato em lojas físicas.
Rede de possibilidades
Cerca de oito anos atrás, o mercado já falava na virtualização dos pagamentos, mas se tratava de algo exploratório, uma tendência ainda não consolidada.
Hoje, é uma realidade que vislumbra ainda mais avanços e envolve importantes players. Grandes emissores adotam políticas de incentivo, às vezes com medidas compulsórias, para a adoção de cartões virtuais em compras online. Há casos em que o número do cartão físico não pode ser mais atualizado. Bancos digitais têm emitido cartões sem número impresso.
Quando falamos em uma disrupção, em geral ela se expande por diversos segmentos de negócio e estabelece novas conexões de exploração tecnológica.
A Apple anunciou a transformação de seu iPhone em um terminal de compra, dando ao aparelho a possibilidade de se tornar mais um mecanismo desse universo do contactless.
Nos EUA, o smartphone passa a ser usado para pagamentos via cartões de débito e de crédito por aproximação. Entre as direções para o futuro indicadas pela CES 2022, uma das maiores feiras de tecnologia do mundo que acontece em Las Vegas, o tema foi novamente recorrente.
É possível dizer que chegamos àquele ponto em que não há mais retorno, e quem não estiver atento aos sinais pode mesmo ficar para trás.
Os indicadores já vinham sendo dados pelo cenário vigente, mas a aceleração dos acontecimentos exige agora medidas muito mais imediatas de quem atua no mercado de meios de pagamento.
Mas isso não é nada de outro mundo: a digitalização está entre nós, e, por mais que isso pareça paradoxal, seu potencial é quase palpável de tão evidente.
*Gastão Mattos tem mais de 30 anos de experiência na indústria de pagamentos eletrônicos. CEO da consultoria GMattos, o executivo foi CEO da Braspag, VP de marketing da Visa, diretor da Credicard, entre outras companhias.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado, e não a do Finsiders.
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Redação: Conteúdos produzidos pela equipe de jornalistas do Finsiders, além de artigos de executivos do setor
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