Artigo | Pagamentos instantâneos, uma tendência duradoura

Por Rafael Carelli*, exclusivo para o Finsiders

Estamos cada vez mais perto de um mundo em que a moeda é digital e as notas são escassas. Os pagamentos são realizados pelo celular ou por smartwatches e os serviços financeiros se integram aos mais variados aspectos da vida comum, como e-commerces, supermercados e aplicativos variados.

Muito do que vislumbramos, já é uma realidade parcial que vem se intensificando. Novos hábitos e necessidades dos consumidores foram ampliados, acelerados e solidificados durante o período de distanciamento social, deixando transformações para a sociedade em muitas frentes.

O hábito de consumo pela internet, por exemplo, cresceu, muito em função, é claro, da necessidade de distanciamento. Em 2020, a penetração do e-commerce no Brasil era 12,8%, tendo avançado para 13,1% apenas entre janeiro e abril de 2021. O levantamento, realizado pela Kantar em julho de 2021, aponta ainda que esse crescimento percentual representa 174 mil novos lares brasileiros adotando o e-commerce como alternativa para compras.

Soluções ricas em tecnologia vêm se tornando mais comuns e, por que não dizer, indispensáveis em diversas frentes. Os consumidores também adicionaram ferramentas digitais ao seu dia a dia e, com o contexto do isolamento social, aqueles que tinham dificuldades ou receios em utilizá-las foram impulsionados a superá-los, fatores que colocam 2021 como o ano de popularização dos meios de pagamentos digitais. E essa tendência, que vinha caminhando de maneira tímida, teve crescimento exponencial durante 2020 e agora vê-se em um cenário de consolidação.

Os números são expressivos. Até 2025, os pagamentos digitais devem ter crescimento superior a 80%. Até 2030, a tendência é que tripliquem, segundo levantamento da PwC. No caso da América Latina, os percentuais são de 52% e 48%, respectivamente.

O mercado financeiro já vivia um momento inédito. Três forças convergiam e traziam mudanças expressivas: um regulador muito mais aberto à competição e aos novos entrantes, um consumidor com hábitos diferentes disposto a experimentar serviços mais inovadores e os avanços tecnológicos que permitiam soluções de pagamentos cada vez mais transformadoras.

Rafael Carelli, head de cartões do Banco Original (Divulgação)
Rafael Carelli, head de cartões do Banco Original (Divulgação)

Somado a isso, tivemos as necessidades impostas pela pandemia e o surgimento de tecnologias e modalidades de pagamento que, unidas, contribuíram para a superação de algumas das principais barreiras para a disseminação das transações digitais. Um exemplo é o Pix — lançado em novembro de 2020 – que já superou o total de movimentações de TED e DOC no país em 2021.

Da mesma forma, crescem de maneira acelerada os pagamentos por aproximação, cartões virtuais e carteiras digitais (wallets). Somente o modelo de aproximação teve crescimento de 694% na comparação do segundo trimestre de 2021 com o mesmo período em 2020, segundo levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).

Outro estudo, feito pela Juniper Research, aponta que o valor global de transações com cartões virtuais irá atingir US$ 6,8 trilhões em 2026. Para se ter uma ideia, o volume transacionado em 2021 foi de US$ 1,9 trilhão em 2021. Já sobre as carteiras virtuais, a expectativa é que, até 2025, o número de usuários em todo o mundo chegue em 4,8 bilhões, impressionantes 60% da população mundial, aponta a Juniper Research.

Os números mostram o quanto soluções que trazem facilidade e benefícios reais para o consumidor têm espaço e assumem um papel essencial na democratização do acesso e das ofertas para pagamentos digitais, algo que já acontece ao redor do mundo.

Nos Estados Unidos, por exemplo, segundo dados do Federal Reserve (Fed), o uso de papel-moeda (dinheiro) representou só 19% das transações de pagamento no país em 2020 – contra 40% em 2012.

Mas, apesar da praticidade, facilidade de uso e segurança trazidos pelos meios digitais, a mudança de comportamento e de hábito não é repentina. Atualmente, mais de 70% dos brasileiros ainda recorrem às transações por meio do papel. Os dados são da pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), realizada em parceria com o Sebrae.

A mesma pesquisa indica que 66% dos brasileiros costumam usar cartão de débito e 57% o de crédito. Sobre as carteiras virtuais, são utilizadas por 32% e, finalmente, o QR Code é opção para 18% dos entrevistados.

A popularização dos pagamentos via Pix

E como superar essas barreiras que ainda persistem, e avançar no uso de soluções que têm tudo para tornar a relação dos brasileiros com suas finanças mais prática e segura?

A educação financeira tem um papel fundamental nesse processo. Ou seja, o aumento e o acesso do interesse da população pelo tema e a facilidade de acessar conteúdos por meio de meios digitais tendem a ser fatores que contribuem para quebrar as barreiras que dificultam a ampla utilização dos pagamentos digitais. E o próprio Pix é um exemplo dessa situação.

As ações e campanhas de esclarecimento das empresas do setor financeiro foram essenciais para reduzir dúvidas e o medo dos consumidores, incentivando assim a explosão desse meio de pagamento instantâneo nos últimos meses.

Uma experiência mais fluída, prática, sem burocracias e com mais segurança é também essencial para que os consumidores brasileiros enxerguem as vantagens e comodidades do pagamento digital.

Enfim, estamos apenas no início de uma grande evolução do sistema financeiro brasileiro, impulsionada pela disseminação dessa forma inovadora de pagar. E 2022 promete ser um ano decisivo para o setor.

*Rafael Carelli é head de cartões e empréstimos do Banco Original.

As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado, e não a do Finsiders.

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