De malas prontas para os EUA, Inter vê lucro subir 32% no trimestre

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Às vésperas de migrar suas ações da B3 para a Nasdaq, o banco digital Inter avança em sua estratégia de ser um super app com atuação global e está criando uma nova vertical, de serviços cross-border.

Ela nasce a partir da integração com os serviços da fintech norte-americana Usend, aquisição anunciada no ano passado e concluída em janeiro de 2022.

No primeiro trimestre, informa o Inter, o volume transacionado em remessas internacionais ultrapassou US$ 200 milhões e, em apenas um dia, o banco atingiu picos de 3 mil contas globais abertas.

Os serviços de cross-border se juntam às outras cinco verticais de negócios: banking, crédito, seguros, investimentos e marketplace (Inter Shop).

“As verticais estão prontas, o super app está pronto. Agora é simplesmente crescer com nosso market share”, disse João Vitor Menin, CEO do Inter, em teleconferência com analistas na manhã desta terça-feira (17).

Mesmo no cenário macro mais complexo, o executivo-chefe do Inter argumenta que a instituição vem se preparando desde 2015/2016. “Decidimos que não seríamos mono-produto, mas sim, uma plataforma diversificada de produtos e serviços que nos protege em momentos como este”, afirmou, em comentário que acompanha os resultados.

Resultado

Na última linha do balanço, o Inter teve lucro líquido de R$ 27 milhões no primeiro trimestre, o que significa um incremento de 32% ano contra ano.

As receitas totais somaram R$ 1,2 bilhão, mais do que o dobro na mesma base de comparação. “Temos um bom equilíbrio entre receita de juros e receita de serviços, o que nos permite maior estabilidade, mesmo com as tendências macro”, afirmou João Vitor.

O Inter encerrou março com uma base de 18,6 milhões de clientes, alta de 82% em relação a igual intervalo de 2021. Do total, 17,4 milhões são clientes pessoas físicas e o restante (1,2 milhão) é de clientes PJ. “Vamos chegar a 20 milhões de clientes até o fim deste mês”, disse o CEO.

A receita média por cliente ativo (ARPAC, na sigla em inglês) chegou a R$ 367 no trimestre, em base anualizada, o que representa uma alta de 11% ante o primeiro trimestre de 2021. A título de comparação, o Nubank atingiu um ARPAC de US$ 6,7 ao final de março.

Em contrapartida, o custo de servir por cliente (CTS) aumentou de R$ 108 para R$ 110 entre o primeiro trimestre de 2021 e igual intervalo deste ano, também na base anualizada. O CAC (custo de aquisição de clientes) anualizado, por sua vez, chegou a R$ 29 no trimestre, alta de 4,6% ano contra ano, puxado por custos de marketing.

Em relatório, a Guide Investimentos avalia que o Inter conseguiu manter margens estáveis, com lucro e carteira crescentes no primeiro trimestre, entregando números acima do esperado.

“Em nossa visão, os números expressivos das suas receitas alternativas (Shop, Invest e Seguros), reforça nossa visão otimista quanto ao futuro do Inter, com mais incrementos dos seus números advindos dessas linhas de negócios”, escreve o analista Rodrigo Crespi. “Em suma, esperamos uma reação positiva do mercado em relação ao resultado.”


Crédito

A carteira de crédito ampliada do Inter bateu R$ 19,8 bilhões ao final de março, com alta de 81% ano contra ano. Foram R$ 4,5 bilhões em originação de crédito, um incremento de 22% na mesma base de comparação. O segmento de empresas, com R$ 3,1 bilhões, puxou a originação no período.

Durante apresentação dos resultados, Alexandre Riccio de Oliveira, VP de tecnologia e finanças do Inter, disse que a carteira de crédito tem mantido um “crescimento consistente”, com diversificação de linhas, provisionamento saudável e alta colateralização — 94% do portfólio de crédito do banco é colateralizado.

Seguros

Em seguros, as receitas somaram R$ 29,8 milhões no primeiro trimestre, o que significa uma alta de 52% na comparação anual. Os prêmios líquidos atingiram R$ 43,7 milhões, alta de 26% ano contra ano. Já a carteira de segurados chegou a 915 mil, mais do que o dobro em igual intervalo de comparação.

“A operação da Inter Seguros conta com receitas diversificadas e recorrentes, com fluxo contratado por anos e completamente escalável”, disse o banco, no release de resultados.

Investimentos

Os recursos sob custódia e gestão (que soma DTVM e asset) totalizaram R$ 58,1 bilhões ao final de março, um aumento de 11% na comparação anual. As receitas, por sua vez, mais do que dobraram, para R$ 36,6 milhões.

A base chegou a 2 milhões de investidores, aumento de 34% em igual período de comparação. Desse contingente total de investidores, mais de 438 mil possuíam ações custodiadas no Inter no primeiro trimestre.

Shopping

No Inter Shop, o marketplace da instituição mineira, o GMV (sigla em inglês para volume total em vendas) ficou em R$ 1,1 bilhão nos três primeiros meses do ano, com alta de 56% na comparação contra igual intervalo de 2021.

As receitas dessa vertical mais do que dobraram no mesmo período, somando R$ 101 milhões. Já o take-rate atingiu 9,6%alta de 3,5 pontos percentuais.

“Em um trimestre em que o mercado foi impactado pela sazonalidade, a Inter Shop não apenas manteve a performance do 4T21 em GMV, como aumentou a rentabilidade”, escreveu o banco.

Nasdaq

Na última quinta-feira (12), 85% dos acionistas do Inter presentes em Assembleia Geral Extraordinária (AGE) votaram a favor da proposta de reorganização societária, que permitirá a listagem das ações da companhia na bolsa norte-americana.

Quando o processo for concluído, o Inter deixará de ter suas ações negociadas na B3 e passará a ser uma companhia listada na Nasdaq, sob a holding Inter&Co, mas com BDRs negociados na bolsa brasileira.

Os acionistas têm até o próximo dia 20, sexta-feira, para se manifestar entre duas opções: fazer a troca de ações por BDRs listados na B3, lastreados em ações de Classe A da Inter&Co listadas na Nasdaq; ou receber o valor dos papéis em dinheiro (o chamado ‘cash out’).

O Inter estima iniciar no dia 20 de junho a negociação de BDRs na B3. Dois dias depois, os acionistas podem solicitar o desfazimento das BDRs. A previsão que as ações Classes A da empresa comecem a ser negociadas na Nasdaq no dia 23 de junho, com o ticker INTR.

Nesta terça (17), por volta de 12h, as units do Inter caíam 2,01%, cotadas a R$ 15,12. No ano, os papéis recuam quase 47%. Em 12 meses, a desvalorização é de 74,73%. O banco é avaliado em pouco mais de R$ 13 bilhões.


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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.

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