No fim de abril, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) soltou a nova regulamentação para o crowdfunding de investimento, mudança aguardada com ansiedade pelo mercado e que passa a valer no próximo dia 1º de julho. A atualização das regras reflete o crescimento da modalidade, cujo volume captado cresceu 14x desde 2017, atingindo R$ 188,3 milhões ao final de 2021.
O avanço do crowdfunding — ainda que o segmento esteja em seus primeiros passos no Brasil — é notado não apenas pelo aumento substancial de recursos levantados via plataformas, mas também pela maior quantidade e diversidade de players na área — do mais tradicional equity-crowdfunding (startups) ao investimento em ativos alternativos. Ao todo, são mais de 55 plataformas autorizadas a operar.
A Arara Seed — que fará seu lançamento oficial nesta quarta-feira (15) e antecipou a notícia com exclusividade ao Finsiders —, decidiu se especializar em startups com soluções para o agronegócio, incluindo agtechs e foodtechs, tornando-se a primeira plataforma de crowdfunding de investimento no país dedicada ao setor.
“Nossa ideia é que a startup de agrifood, quando pensar em crowdfunding, pense em Arara Seed”, diz Henrique Galvani, um dos sócios-fundadores da empresa, que teve o registro da plataforma aprovado na CVM em agosto de 2021.
A Arara Seed é um dos negócios mais recentes gestados na BLB Ventures, a Venture Builder fundada em 2019 pela empresa de auditoria e consultoria BLB Brasil, de Ribeirão Preto (SP).
De lá pra cá, a BLB Ventures investiu aproximadamente R$ 3 milhões, sem contar aportes externos, para colocar de pé cinco negócios, sendo que um deles não deu certo — a Clickpygg tinha intenção de conectar pequenos e médios lojistas a clientes em horários de pouco movimento das lojas, mas sofreu o baque da pandemia e não vingou.
Além da Arara Seed, foram criadas as startups Veroo, clube de assinaturas de café, que conecta pequenos produtores a consumidores; Beer2U (atual 2U App), de geladeiras autônomas para condomínios; e Palmbeer, plataforma de autosserviço de chopp. A Venture Builder também está em fase de testes atualmente de um SaaS para pequenas e médias empresas de auditoria, ainda sem nome definido.
Ainda no MVP, a Arara Seed faz sua estreia com uma captação para a Veroo, em uma rodada que prevê levantar R$ 1,2 milhão, com investimento mínimo de R$ 1 mil.
“Nossa visão é chegar a 2030 com 100 ofertas captadas, movimentando R$ 200 milhões”, afirma Henrique. Para este primeiro ano, o empreendedor prevê colocar mais três captações na plataforma, com um volume estimado de R$ 4 milhões. “Já estamos com a próxima engatilhada, mas vamos esperar concluir essa primeira.”
Estão no radar da Arara Seed startups com soluções em agro e foodtech no mais amplo sentido, que tenham MVP validado, base tecnológica, produto replicável e escalável, e estejam atuando em um mercado relevante. “A ideia é termos rodadas de captação entre R$ 400 mil e R$ 2 milhões para startups que estejam faturando preferencialmente acima de R$ 300 mil por ano. Mas óbvio que isso não vai ser um fator limitante.”
O objetivo da nova plataforma é acompanhar a jornada da startup não apenas na captação, mas também contribuir com uma rede de relacionamentos e investidores. “Queremos, de fato, fazer um Venture Capital digital para o agro. Temos também uma grande preocupação em trazer os ‘financials’ das startups que forem captar na plataforma. É a escola de auditoria da qual eu venho”, aponta Henrique.
Contador, Henrique entrou em 2013 na BLB Brasil como trainee de auditoria contábil. Ficou na empresa até 2019, quando saiu para ajudar a montar a Venture Builder. Ao seu lado na criação da Arara Seed está o sócio-fundador da BLB Brasil, Rodrigo Barbeti.
A Arara Seed é controlada pela BLB Brasil e recebeu aportes recentes dos investidores-anjo Fernando Rodrigues, que chegou à Ativa Investimentos neste ano como diretor de desenvolvimento de negócios; e Bruno Massera, executivo com mais de 20 anos de experiência no setor de alimentos com atuação no Brasil e em outros países na Ásia e Oriente Médio.
Mercado
O último relatório do Radar Agtech Brsil 2020/2021, produzido por Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens, identificou 1.574 agtechs no Brasil. Conforme dados do Distrito, em 2021 as agtechs captaram US$ 109,2 milhões, contra US$ 68,1 milhões no ano anterior.
O mercado de foodtechs, por sua vez, tem um total de 337 mapeadas ao longo de 2021, segundo um report lançado recentemente pela Outcast Ventures e pelo Distrito. Nos últimos 10 anos, as foodtechs captaram mais de US$ 1 bilhão, com destaque para 2018 (US$ 515,4 milhões) e ano passado (US$ 386,5 milhões). A maior concentração de deals está em estágios iniciais, mostra o report.
Leia também:
Depois de agro e PF, Banco do Brasil vai ter marketplace para cliente PJ
Transformação financeira e digital como alavancas do crescimento no agro
Na Agrolend, mais R$ 80 milhões para construir o banco digital do agro
ABFintechs: Nova regra da CVM tem tudo para destravar crowdfunding