Mar Fernández, exclusivo para Fintechs Brasil*
Se, por um lado, o desemprego global atingiu altas históricas ocasionadas pela COVID-19, por
outro lado os empreendedores autônomos (ou freelancers) usaram de muita criatividade e senso
de oportunidade para lidar com a disrupção positivamente e gerar renda num dos momentos mais
desafiadores da história recente. O estudo Freelancer Income Report analisou o comportamento
de cerca de 2.000 freelancers em 100 países e trouxe insights interessantes de como estes
profissionais independentes estão desempenhando seus serviços desde o começo da pandemia.
O dado mais revelador é que mais de 30% dos participantes disseram ter havido maior demanda
por seus serviços desde o início da pandemia, enquanto 45% relataram que a demanda se
manteve constante. As áreas de programação, marketing e finanças registraram maior
crescimento. Outra descoberta que precisa ser ressaltada: a América Latina é a única região onde
não há diferença salarial entre homens e mulheres e, em alguns casos, as mulheres até têm
melhores salários, diferente do que acontece globalmente. A participação das mulheres
aumentou de 24% para 29% desde o estudo conduzido em 2020 e a média salarial chegou a
US$ 26/hora mulher contra US$ 22/hora homem. Elas relataram maior satisfação com o trabalho
freelancer, sugerindo que ser freelancer em tempo integral pode proporcionar uma autonomia
altamente valorizada.
Todo esse movimento aconteceu principalmente porque, uma vez que a natureza da força de
trabalho se torna mais fluida, mais negócios percebem o valor da flexibilidade que eles sempre
precisaram. Também vale ressaltar que os trabalhadores autônomos, em sua grande maioria, já
estavam mais bem preparados para essa nova realidade do home-office. Além disso, em um
mundo cada vez mais remoto de ‘anywhere office’, as empresas estão mais bem equipadas para
se tornarem freelancers, percebendo que mais trabalhadores vislumbram: ser um freelancer é
uma carreira que paga bem, oferece maior flexibilidade e está aberta a profissionais que incluem
aqueles nas áreas de finanças, marketing e programação. A economia do profissional autônomo
empodera os indivíduos, que fazem suas próprias horas, definem seus índices e trabalham em
papéis que melhor se encaixam com suas habilidades, aproveitando as vantagens de uma
variedade de oportunidades.
Enquanto milhares de jovens terminaram sua educação nos últimos dois anos, e com o mercado
de trabalho sendo afetado grandemente pela pandemia, não é uma surpresa ver que a
popularidade de ser um freelancer beneficiou os mais jovens em todo o mundo. Porém, na
América Latina, houve uma diferença, uma vez que estão na liderança dos freelancers aqueles
com idades entre 34-45 anos, com 33%, seguido por 24-35 anos, com 31%.
Oitenta e três por cento estão satisfeitos ou muito satisfeitos com o estilo de vida de freelancer,
seguido por meros 3% insatisfeitos. Cerca de 75% dos participantes acreditam que a demanda
continuará crescendo e permitirá que expandam seus negócios, enquanto apenas 3% acreditam
que seus negócios diminuirão.
Também não é surpresa que hoje os profissionais autônomos, em sua grande maioria (71%), têm
oportunidades de negócio via marketplaces online, enquanto 10% confiam em fontes mais
tradicionais como boca a boca e indicações (muitas vezes por e-mail ou mídias sociais). Por exemplo, o marketplace do LinkedIn, lançado em outubro de 2021, está ganhando popularidade rapidamente entre os freeelancers, especialmente entre os mais novos.
Particularmente no Brasil, também temos observado dentre os clientes da Payoneer a tendência
enorme para a geração de negócios de desenvolvedores de softwares e produtores de conteúdo
digital. Faz sentido, pois os brasileiros não apenas estão entre os maiores usuários mundiais das
grandes redes sociais, como agora também já despontam como fenômenos da internet que
ganham mercados nacionais e internacionais nestas plataformas.
A análise Tendências de Negócios para 2022 , do Sebrae, confirma este cenário e aponta as
razões que favorecem as oportunidades para o empreendedor digital: 1) e-commerce: “além de
reduzir os custos com aluguel de um espaço, despesas para manutenção e mão de obra, ter uma
loja online te possibilita ampliar os horizontes e abranger um número maior de consumidores”; 2)
home office: “é uma tendência que deverá ser mantida em 2022, no entanto, de maneira
aprimorada”; 3) dropshipping: “é um tipo de negócio onde a pessoa atua, de forma intermediária,
sem a necessidade de ter o produto ou serviço em si”; 4) criação de conteúdo: “com o aumento
nas vendas online, o marketing digital se tornou ainda mais necessário”.
Embora não seja possível prever como o mundo estará nos próximos anos, a adaptabilidade
comprovada dos profissionais autônomos sugere que essa parcela da força de trabalho global
provavelmente continuará a crescer. E deve ganhar especial relevância no Brasil, uma vez que o
setor de serviços é o mais importante dentro do PIB e o que tem demonstrado maior capacidade
de retomada econômica e geração de renda.
* VP da Payoneer para a América Latina.
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