Maioria das fintechs espera dobrar receita este ano; 35% atingiram breakeven

Jovens, otimistas e em busca de equilíbrio financeiro. É esta a definição dada às fintechs brasileiras pela pesquisa “Fintech Deep Dive”

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Jovens, otimistas e em busca de equilíbrio financeiro. É esta a definição dada às fintechs brasileiras pela quarta edição da pesquisa “Fintech Deep Dive”, conduzida pela PwC Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), e que está sendo divulgada nesta quarta-feira (24).

De acordo com o estudo — que ouviu 156 fintechs de diferentes áreas de atuação e portes, entre março e abril deste ano —, 65% dos negócios esperam dobrar o faturamento neste ano. Ainda assim, somente 35% atingiram o breakeven, e mais de dois terços delas o fizeram em até dois anos. Entre as fintechs restantes, mais da metade (52%) prevê chegar ao breakeven em até dois anos.

Outro indicador que aponta para a recuperação das fintechs no pós-pandemia é o aumento da fatia de companhias com faturamento anual acima de R$ 5 milhões. Nesse grupo, em 2020 estavam 15% das fintechs, percentual que subiu para 27% no ano passado, com destaque para o crescimento na participação dos negócios que faturam mais de R$ 10 milhões/ano (16% do total).

Desempenho

Ao mesmo tempo, a parcela de fintechs com o nível mais baixo de receitas (até R$ 350 mil) mais que dobrou (de 15% para 31%) entre 2020 e 2021. Já a fatia de negócios sem faturamento caiu significativamente em igual intervalo, passando de 38% para 14% da amostra — em 2020, no auge da crise provocada pela pandemia da covid-19, a participação desse grupo em relação ao total tinha praticamente dobrado.

Em 2021, os números mostraram uma recuperação do mercado. Tanto é que caiu a parcela de fintechs com crescimento zero ou negativo. Esse grupo, que chegou a corresponder a 39% da amostra total em 2020, passou a representar 21% no ano passado, conforme a pesquisa. Já a maior parte (46%) das fintechs ouvidas viu a receita mais do que dobrar em 2021, em relação ao ano anterior.

Nos segmentos com faturamento mais alto, embora o impacto da crise também tenha sido sentido em 2020, “percebemos que se manteve a tendência observada desde 2017 de aumento da fatia de empresas com receitas acima de R$ 5 milhões”, diz um trecho da pesquisa.

“Isso demonstra que muitas delas chegaram lá, ultrapassaram a arrebentação e passaram a faturar”, analisa Diego Perez, presidente da ABFintechs, em entrevista ao Finsiders.


Captação

Os indicadores de captação de investimentos entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões são outro sinal de recuperação do mercado de fintechs, analisa o estudo. Em 2021, quase metade (49%) das fintechs que receberam investimentos informam ter captado nessa faixa de valores. Os maiores cheques (acima de R$ 50 milhões) ficaram restritos a 10% da amostra, sendo que somente 1% das empresas levantou mais de R$ 200 milhões.

“A pandemia foi abrasiva para a economia nacional como um todo. O que percebemos foi a resiliência na forma de atuar das fintechs e a recuperação tem acontecido”, aponta Luís Ruivo, sócio da PwC Brasil, em nota.

E por mais que as fintechs brasileiras tenham recebido um volume recorde de investimentos de US$ 3,7 bilhões no ano passado, a pesquisa da ABFintechs com a PwC sinaliza que a captação de recursos não é para todos. Mais da metade (56%) nunca participaram de uma rodada de investimentos. Quase seis em cada dez não levantaram novos aportes em 2021.

No período em que foi feita a pesquisa, entre março e abril, 80% das fintechs estavam buscando investimento ou planejavam ir atrás de novos cheques nos 12 meses seguintes. A maior parcela (60%) pretendia obter valores entre R$ 1 milhão e R$ 30 milhões.

Fonte: PwC Brasil/ABFintechs

Outro dado que chama a atenção no levantamento são os desafios na busca por capital. Quase metade (49%) da amostra cita a falta de exposição da marca como o principal fator, ao passo que menos de 20% culpam a crise econômica/política, enquanto apenas 14% dizem que há uma ausência ou escassez de investidores. “Se as empresas estão com dificuldade para expor a marca, é porque a competição no mercado de fintechs está acontecendo”, avalia Diego.

Regulação e tecnologias

A pesquisa mostra também que 72% das fintechs estão desenvolvendo soluções alinhadas para Open Banking e Pix. Além disso, chama a atenção que um alto percentual (79%) delas já colhe os benefícios dessas iniciativas ou preveem resultados positivos em até um ano. “A pesquisa ainda não reflete precisamente o que o Open Banking já alcançou hoje. Mesmo assim, é um item que chamou atenção”, afirma Diego.

Enquanto Open Banking e Pix estão movimentando as empresas para construir novas soluções, o sandbox regulatório parece não animar tanto as fintechs. Mais da metade delas diz que não pretende participar da iniciativa ou não tem conhecimento sobre o assunto. Apenas 3% já estão em algum dos sandboxes, projetos liderados pelos três reguladores: Banco Central (BC), Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Superintendência de Seguros Privados (Susep).

O estudo traz, ainda, que cloud, data analytics e mobile são as três principais tecnologias dominadas atualmente pelas fintechs, as mesmas citadas na edição anterior. Já inteligência artificial, blockchain e data analytics são as apostas tecnológicas para o futuro mais citadas pelas empresas, com destaque para as duas primeiras, mencionadas por 51% e 47% das companhias, respectivamente.

Perfil

De acordo com a pesquisa, a maior parte (68%) das empresas da amostra tem menos de cinco anos de existência, três pontos percentuais a mais do que na edição anterior.

O time fundador ainda é pouco diverso. Em 63% das fintechs, os fundadores são apenas homens, enquanto em apenas 21% há ao menos uma mulher. “A gente vem enxergando mais fundadoras ou founders de grupos sub representados, ou de regiões fora do eixo Rio-SP”, diz Diego.

Entre os principais segmentos de atuação estão, praticamente sem alteração ante o estudo anterior: crédito, meios de pagamento e bancos digitais. Para 2022, o crédito é a principal área de expansão citada pelas fintechs.

Fonte: PwC Brasil/ABFintechs

“É um mercado desafiador e tem muita coisa a ser trabalhada. O acesso a crédito no Brasil ainda é caro e complexo, tem concentração bancária, e a camada de pessoas que precisam de crédito não tem tanta oferta. E as fintechs têm oferecido soluções alternativas.”

Em relação ao modelo de negócio, 40% das fintechs dizem ter o B2B como foco de atuação. Outras 44% operam tanto no B2B quanto no B2C. A menor fatia (10%) tem produtos e serviços para o consumidor final (B2C), e o restante (6%) cita outros focos de atuação, não especificados pela pesquisa. E mais: dois terços pretendem oferecer serviços adaptados a um nicho de mercado.

Ainda segundo o estudo, 58% dos participantes têm uma base de clientes formada por pessoas jurídicas. O principal foco são as pequenas e médias empresas (PMEs), citadas por 38% das fintechs. Duas em cada dez (20%) atendem negócios com faturamento acima de R$ 90 milhões. Uma fatia menor (10%) mira os autônomos, enquanto apenas 5% entregam soluções para microempreendedores individuais (MEIs).

Confira outros highlights da pesquisa “Fintechs Deep Dive”:

>> Mais de um quarto das empresas (28%) oferece um serviço ainda não disponível no sistema financeiro tradicional, como criptoativos e crowdfunding;

>> Quase 30% das fintechs atuam no exterior e 47% pretendem atuar;

>> Nos planos de internacionalização, a América Latina está na mira de 65% das fintechs, seguida pela Europa (36%);

>> Mais da metade das fintechs elege a redução de custos como principal diferencial.

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