Credix capta R$ 60 milhões para reforçar equipe e lançar novas soluções

No Brasil desde dezembro, a fintech belga Credix aposta em um marketplace de crédito que trabalha com DeFi (finanças descentralizadas)

Em abril do ano passado, os belgas Thomas Bohner, Maxim Piessen e Chain Finizola resolveram se unir para facilitar o acesso de fintechs a recursos por meio de moedas digitais. Passados oito meses, em dezembro, o trio anunciava um aporte de US$ 2,5 milhões (cerca de R$ 14,2 milhões à época) e a chegada da Credix, um marketplace de crédito que trabalha com DeFi (finanças descentralizadas), ao Brasil, conforme você leu no Finsiders.

As metas eram ousadas, como atrair 50 fintechs e processar um montante de US$ 100 milhões na plataforma até o final de 2022. Ao que parece, a empresa está no caminho. Mas os sócios entenderam que era o momento para acelerar o ritmo. Agora, a Credix está anunciando uma rodada Série A de R$ 60 milhões para fazer novas contratações, lançar produtos e aumentar o tamanho da carteira.

“Nós vimos uma quantidade massiva de oportunidades e recebemos pedidos de entrada de outras fintechs para trabalhar juntos. Construímos um ecossistema sólido, com a abertura de um escritório e a contratação de pessoas em São Paulo. Neste momento, estamos redobrando a aposta na América Latina”, afirma Thomas Bohner, cofundador e CEO da Credix, em entrevista ao Finsiders.

A avaliação dos empreendedores é que as fintechs contam com bons dados e tecnologia de ponta. Mas esbarram em dificuldades para levantar capital no mercado global, afirma Thomas. É aí que entra a Credix, ecossistema em que as transações no modelo DeFi ocorrem via contratos inteligentes (os smart contracts) e são registradas em blockchain.

A rodada anunciada hoje é co-liderada pelos fundos norte-americanos Motive Partners e ParaFi, e seguida por Valor Capital, Victory Park Capital, MGG Investment Group, Circle Ventures, Abra, Fuse Capital, além de investidores-anjos como Marcelo Claure (o ex-SoftBank que estruturou o fundo japonês na América Latina) e Ricardo Villela Marino (chairman do Itaú Latam). ParaFi e Fuse já haviam participado do seed money.

Ter um captable de peso não é uma simples coincidência. O CEO explica que o know-how dos parceiros será fundamental para o lançamento de soluções nos próximos meses. “Era muito importante para nós conseguir investidores que pudessem agregar valor. Isso significa que trazemos mais para a mesa do que apenas dinheiro. Muitas vezes eles (parceiros) se tornam usuários da plataforma ou estabelecem parcerias consistentes para fornecer serviços adicionais”, diz.

A empresa começou com quatro contatos, tendo entre os clientes a brasileira a55, que atua por meio de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs). Hoje, são mais cinco companhias, todas elas nacionais: Provi, Tecredi, Descontanet, Divibank e Adiante — número bem abaixo do estimado inicialmente, é verdade. A Credix deve fechar o ano com um portfólio que reúne entre 15 e 20 fintechs.

Entretanto, seu volume de processamento deve passar dos atuais US$ 20 milhões e alcançar os US$ 100 milhões até o final de dezembro, o que foi estipulado lá atrás. A estimativa é dobrar isso em 2023.

Para crescer, Thomas conta que a aposta dos sócios passa por alguns aspectos. Um deles é que as novas instituições financeiras têm um modelo de oferta de crédito para clientes específicos, como financiamento automotivo ou hipotecas imobiliárias. O outro é que, em momentos de turbulência, bancos tradicionais se tornam mais avessos a riscos, o que abre uma nova janela para os competidores recém-chegados.

Do time de 14 pessoas, a maioria é engenheiro e gerente de risco de crédito. Com o novo cheque, a equipe deve chegar a 25 colaboradores, sobretudo nas equipes de produtos e de engenharia, já que a ideia é trazer outras funcionalidades à plataforma (a empresa não adianta quais, mas os próximos meses devem ser de novidades). Os sócios não revelam quais serão as novas soluções ou as taxas cobradas nas transações.

Mercado

Fato é que a Credix não está sozinha para desbravar o universo de DeFi no Brasil. A recém-chegada AmFi, fundada pelos ex-Grafeno Paulo David, João Pirola, Eduardo Tang e Rodrigo Sousa, conecta as fintechs que atendem PMEs a investidores institucionais, por meio de liquidity pools (pool de liquidez), financiados por stablecoins, e que têm como garantia ativos financeiros tradicionais.

Em entrevista exclusiva ao Finsiders, em julho, os empreendedores contaram que estão rodando o MVP com oito empresas de diferentes segmentos e a expectativa é encerrar este ano com cerca de 30 operações envolvendo fintechs, movimentando mais de US$ 170 milhões até o fim de 2023. A fintech está levantando uma primeira rodada de investimento, com intenção de captar cerca de US$ 1 milhão nos próximos meses.

Não faltam dados sobre o potencial do blockchain, das aplicações em DeFi e do mundo cripto de maneira geral. Conforme projeção do Gartner, 20% das grandes organizações usarão moedas digitais para pagamentos, armazenamento de valores ou como garantia até 2024. Já uma pesquisa da gestora Fidelity mostra que sete em cada dez investidores institucionais pretendem investir em ativos digitais no futuro.

*Para o Finsiders

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