Avanço da tecnologia, aumento da concorrência, evolução regulatória e mudanças de hábitos e expectativas dos clientes têm provocado uma grande transformação no setor bancário e pressionado os modelos de negócios tradicionais. Nesse contexto, os bancos de varejo vão precisar se adaptar para sobreviver, diz a PwC.
“Para os líderes dos bancos já estabelecidos, é hora de entender melhor essas tendências e se preparar para um ambiente em rápida mudança”, escreve a consultoria em uma análise, que acaba de ser publicada e sugere cinco possíveis cenários para o setor bancário a partir de 2025.
1. Revolução no front-end
No primeiro cenário traçado pela PwC, os bancos tradicionais -– geralmente enfrentando cargas regulatórias mais altas e com tecnologia obsoleta -– participam como um pilar de infraestrutura do sistema financeiro. “Eles atuam como fornecedores que oferecem serviços de utilidade pública e produtos licenciados, mas não têm mais uma marca que interaja diretamente com o cliente”, diz o estudo.
Enquanto isso, novos players de diversos setores continuam incorporando serviços financeiros em suas plataformas, numa tendência conhecida como ‘embedded finance’. São companhias com marcas estabelecidas e têm grande volume de recursos financeiros nos setores de tecnologia, mídia e entretenimento. “Elas são capazes de criar uma experiência de usuário avançada e ofertas hiperpersonalizadas para controlar mais agressivamente o relacionamento com o cliente”, diz a PwC.
2. Winner takes all
O segundo cenário desenhado pela PwC aponta para uma onda de consolidação no setor, que resulta em megabancos e fintechs dominando o tabuleiro bancário. De acordo com a análise, essas enormes instituições e baseadas em tecnologia obtêm vantagem competitiva por meio de ganho de escala.
“Os clientes interagem em plataformas maiores, mais personalizadas e convenientes e geralmente não se preocupam com a privacidade dos dados ou a capacidade de escolha”, diz a análise. Somente os bancos maiores poderão fazer os investimentos tecnológicos necessários para criar uma experiência diferenciada para o cliente, aponta a PwC.
3. Paisagem dispersa
De acordo com o terceiro cenário, os clientes e ativos migram de players globais para bancos mais locais, com balanços, depósitos e linhas de crédito menores, e para players especializados em pequenos nichos.
Esse quadro ocorre em meio à deterioração da confiança da sociedade, em que crescem as dúvidas dos consumidores em relação às instituições globais, enquanto o regime de supervisão favorece bancos menores e locais.
4. Reguladores ressurgentes
Nesse quarto cenário, os reguladores adotam uma abordagem ativa para lidar com a onda das big techs e de outros entrantes não tradicionais, com o objetivo de garantir um sistema financeiro e forte. A concorrência vem exclusivamente de empresas que possuem licenças completas para serviços financeiros.
Ações antitruste de governos empurram os players de tecnologia para fora da indústria e aumentam as barreiras de entrada. “Esse grau de regulamentação abre as portas para os bancos restabelecerem a confiança e reivindicarem seu papel de principais fornecedores de produtos e serviços financeiros”, diz a análise.
5. Ascensão das moedas digitais de bancos centrais
Conforme o quinto e último cenário traçado pela PwC, a diminuição constante do uso de dinheiro físico se dá paralelamente à implantação das moedas digitais de bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês). Enquanto isso, as moedas digitais ganham ampla aceitação nos negócios entre pessoas físicas e empresas e também no B2B.
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Com isso, no futuro, os bancos tradicionais perderiam para os bancos centrais a conta bancária básica — que, assim como os dados dos clientes, é um alicerce do relacionamento com os consumidores que eles controlam há muito tempo. “Isso inviabiliza os modelos tradicionais de negócios bancários”, prevê a PwC.
Em entrevista ao Valor, o sócio da PwC Brasil, Luis Ruivo, disse que os cinco cenários não são excludentes entre si. O Brasil, em sua avaliação, se enquadra mais em uma combinação entre os dois primeiros cenários (front-end e winner takes all), com um pouco do quinto e último (CBDCs).
Na avaliação da PwC, as mudanças já estão em andamento e impactam, principalmente, os bancos incumbentes. “Eles precisam intensificar seus esforços em relação a prioridades que são importantes há tempos, mas que, para muitos, são difíceis de concretizar”, diz a consultoria. “Os líderes do setor bancário não têm tempo a perder.”
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