Por Elber Laranja*, para o Finsiders
A era da informação já tem produzidos os seus “lugares-comuns”. Entre eles, um dos mais conhecidos, dá conta de que agora “os dados valem mais que ouro”. Sim, os dados realmente valem muito e, tal qual o ouro, após serem minerados, devem ser tratados e transformados para que atinjam o seu maior valor agregado.
O que pouca gente conta é que todos os consumidores têm em suas transações financeiras uma “jazida de dados”, e que muito recentemente eles passam a ter mais recursos para poder capturar o valor desse grande ativo. O Open Finance vem empoderar usuários de produtos e serviços financeiros, permitindo que eles compartilhem os seus dados transacionais com a específica finalidade de poder receber propostas de crédito e gestão financeira mais adequados para o seu perfil.
Um dos primeiros desdobramentos esperados sobre isso é que, com esse compartilhamento de dados sobre históricos financeiros, a conhecida regra de crédito em que “os bons têm que pagar pelos maus” seja menos utilizada.
A tal regra é aplicada justamente porque as instituições, que não são as portadoras dos principais dados financeiros de um usuário, são obrigadas a cobrarem mais pelo risco que desconhecem: como saber se a pessoa que está pedindo crédito é uma boa ou má pagadora? Quando o cliente é reconhecidamente o dono dos dados que gera, podendo abri-los para outros possíveis credores, as chances de conseguir propostas que sejam mais adequadas à sua renda e obter juros menores aumentam, caso o proponente seja um bom pagador.
Desta forma, os dados que até agora só tinham valor para as instituições financeiras, passam também a gerar valor para os seus originadores em forma de melhores serviços e taxas de juros mais adequadas ao seu histórico no mercado. Quem tiver bons dados e fizer a opção por compartilhá-los, terá mais opções de crédito e poderá pagar menos por ele. Em contrapartida, maus históricos no mercado serão taxados por maiores prêmios de risco e ficarão com menos ofertas de crédito.
Espera-se, ainda, que os tradicionais cadastros de negativação percam força nas análises de crédito. Esses dados representam uma fotografia da situação cadastral de uma pessoa no exato momento da consulta, ignorando se, anteriormente, essa pessoa foi uma boa ou má pagadora.
No Open Finance, a tal “fotografia cadastral” é substituída por um filme, onde credores poderão ver com mais exatidão se uma possível negativação na atualidade representa uma situação momentânea de um historicamente bom pagador, ou se trata de um mau pagador contumaz, e esses deverão ter o justo tratamento diferenciado.
Mas além do crédito, outros muitos serviços financeiros deverão surgir com base na mineração desses dados: aplicativos de educação e disciplina financeira, suporte para decisões de compra e melhores formas de pagamento, a possibilidade de se relacionar com múltiplas instituições e produtos financeiros dentro de um mesmo aplicativo etc. Isso não é ouro, mas para quem quer fazer uso racional do dinheiro que ganha, pode valer tanto quanto.
Leia também: PicPay cria hub de Open Finance e vai lançar iniciação de pagamentos
No Brasil, os primeiros passos para o Open Finance foram dados no começo de 2021 e, rapidamente, o país já se tornou, em números absolutos, a maior base de consentimento de compartilhamento de dados financeiros do mundo, com mais de 7,5 milhões de permissões, de acordo com dados com Banco Central (BC), ficando à frente inclusive de países mais maduros na implantação do sistema, como Reino Unido e Austrália.
É sempre bom lembrar que o que forma o custo efetivo total de uma operação de crédito não é exclusivamente a mais que comentada Selic, a taxa básica de juros. A carga tributária elevada, a indisponibilidade de informações e a insegurança jurídica gerada pela proteção a devedores persistentes também fazem com que consumidores paguem mais por suas operações de crédito.
O Open Finance representa um ainda nascente, mas importante passo para a promoção do acesso mais justo ao crédito de forma mais educativa e sustentável que os populares subsídios emergenciais. Que venham os próximos passos. Em tempo: muitas oportunidades se abrirão para profissionais especialistas na captura, processamento e análise de dados. Vale a pena ficar de olho no iminente crescimento desse mercado.
*Elber Laranja é sócio-fundador da Antecipa Fácil, fintech com foco em antecipação de recebíveis.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo autor do texto.
Leia também:
Crédito concedido por fintechs cresce 62,8% ao ano, indica Serasa
Artigo: Open Finance e evolução da indústria de dados financeiros
Em cinco anos, Open Banking pode injetar R$ 94 bi em crédito PF no Brasil
Os números do Open Finance no Brasil na primeira metade do ano