A QI Tech, fintech que oferece uma plataforma com diversos produtos e serviços bancários no modelo ‘as a service’, se prepara para mudar de patamar com a criação da própria Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM). No último dia 27 de dezembro, o Banco Central (BC) autorizou o funcionamento da QI DTVM. Faltam apenas as homologações pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pela Anbima para que a instituição entre em operação.
A expectativa é que o negócio comece a rodar, de fato, em março, conta o CEO e fundador da QI, Pedro Mac Dowell, em conversa com o Finsiders. “Já desenvolvemos toda a estrutura de tecnologia. É uma DTVM 10.0, tecnológica, com back-office de robôs, construída com o conceito de microsserviços, e que vai operar 24/7 [24 horas por dia, 7 dias por semana]”, diz. Será, inclusive, a primeira fintech de crédito — a QI Tech atua como Sociedade de Crédito Direto (SCD) — a obter a licença de distribuidora.
Com o novo business, a QI espera aumentar sua receita em cerca de 15%, revela Pedro. Segundo ele, a expectativa é chegar ao final de 2023 com R$ 10 bilhões em ativos sob administração. A empresa encerrou o ano passado com um balanço de R$ 5,8 bilhões em operações de crédito emitidas, contra um volume de R$ 4,5 bilhões em 2021. Mensalmente, emite cerca de R$ 600 milhões em crédito para diversos setores da economia.
Criada no início de 2018 e primeira SCD aprovada pelo Banco Central, a QI Tech desenvolveu uma plataforma com diversos produtos e serviços bancários, como conta escrow, emissão de dívida, emissão de boletos, análise de crédito, trava de recebíveis, entre outros. No portfólio, a QI Tech tem 200 clientes — entre eles, Vivo, Unidas, QuintoAndar e Enjoei — e espera chegar a 300 neste ano.
Ok, mas o que muda, na prática?
Como DTVM, a QI vai completar o ciclo do que chama de “one-stop-shop” do crédito. Isso porque hoje ela oferece serviços que vão desde onboarding, KYC/PLD (siglas em inglês para “conheça seu cliente” e “prevenção à lavagem de dinheiro”) e emissão de Cédulas de Crédito Bancário (CCBs) até formalização de garantia e régua de relacionamento. Faltava chegar na outra ponta, os investidores de fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), por exemplo.
“Provemos infraestrutura para quem quer montar crédito e serviços financeiros. No final, tem os investidores que compram os créditos originados pelas fintechs. Esses investidores estão normalmente debaixo de uma DTVM, e essas que existem hoje no mercado usam os mesmos softwares, construídos há 30 anos, desenvolvidas em plataforma monolito”, explica o CEO. A proposta da QI DTVM, portanto, é transformar um negócio tradicional e analógico em uma operação digital e em grande parte automatizada.
A distribuidora nasce com três linhas de negócios. A primeira é administração e custódia de fundos, com foco em carteiras de renda fixa, especialmente FIDCs. “Somos uma DTVM de infraestrutura, não de produtos. Não teremos fundos de participação, fundos de ações”, diz Pedro. Essa vertical será lançada assim que as homologações saírem, informa Marcelo Bentivoglio, sócio responsável pela estratégia da companhia. “Já temos relacionamento com cerca de 60 fundos, e eles pedem que consigamos oferecer serviço de administração.”
Nessa arena, a QI DTVM vai competir com players como a fintech Vórtx, além de nomes tradicionais, por exemplo, Oliveira Trust, BRL Trust e Singulare. “Hoje não existem fundos que façam desembolsos de crédito 24 por 7. Nós nascemos com poder de liquidação 24 por 7, e processamento de carteira assim que sair o CDI, em tempo real”, aponta Pedro.
Plataforma para agentes autônomos e BNPL ‘cross-border’
A segunda vertical de atuação da QI DTVM será uma infraestrutura ‘as a service’, voltada para agentes autônomos de investimento (AAIs). Nesse caso, a fintech vai oferecer uma plataforma white-label, em que aparece a marca do parceiro para o cliente final. “Daremos toda a estrutura, tecnologia e prateleira de fundos, com a cobrança de um ‘fee’ fixo”, explica Pedro. Ao final de 2022, o mercado brasileiro tinha 23,3 mil agentes autônomos, a maior parte (95%) pessoas físicas, segundo dados da CVM.
Marcelo afirma que o produto ‘as a service’ para agentes de investimento será consequência da construção da plataforma, que desde o início foi pensada como uma solução modular, em microsserviços. “Nossa roda é mais leve, eficiente e moderna”, diz ele, citando que já há conversas com potenciais clientes. “Estamos rodando em teste o espelhamento de uma carteira de um cliente e, quando estiver tudo OK com a DTVM, poderemos plugar”, exemplifica.
A terceira unidade de negócios, com previsão de começar a rodar no segundo semestre, é uma mesa de câmbio ‘high frequency’, que permitirá à fintech oferecer uma modalidade inédita de ‘buy now, pay later’ (BNPL) cross-border. Ou seja, um cliente brasileiro em viagem poderá comprar parcelado em lojas nos EUA. “É um crediário em reais que permitirá fazer o pagamento em dólar, ‘real time’ via QR Code”, diz Pedro.
A QI Tech ficará responsável, como já faz atualmente para diversos clientes, pela emissão das CCBs, enquanto a QI DTVM terá o papel de realizar o câmbio. Para esse tipo de operação, a fintech fará parcerias com empresas e instituições financeiras que queiram disponibilizar o produto para os consumidores finais. O funding virá dos parceiros. “Nós oferecemos a tecnologia. Não vamos assumir o risco [do crédito]”, observa o CEO.
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