Por André Coutinho*, exclusivo para o Finsiders
A história do dinheiro começa como uma commodity, valendo seu peso em metais, como, por exemplo, ouro, prata e cobre. Após isso, passou a ser representativo, a nota de dólar, que era um papel que representava uma certa quantidade de ouro. Dentro desse processo, surgiu a moeda fiduciária — um modelo que não tem lastro algum em commodity sendo emitida por um governo; seu valor dependerá majoritariamente das decisões oficiais dos bancos centrais e da confiança que esses passam.
Com o avanço da tecnologia, o dinheiro também se transformou. Sua versão digital pode ser representativa, como um token que equivale a uma commodity; ou pode ser fiduciária, como um papel-moeda digital que representa um valor determinado e é lastreado por uma companhia ou governo.
Na cadeia do agronegócio, tokens baseados em commodities agrícolas como toneladas de fertilizantes, sacas de café ou de soja, por exemplo, começam a ser transacionados em pequena escala. No entanto, o dinheiro digital já está em uso mais amplamente no setor na forma de moedas ou programa de pontos.
Grandes empresas do agro, por exemplo, já premiam clientes com cashback em forma de pontos a vários anos, embora tipicamente ainda através de programas operados por empresas terceiras com pouco conhecimento das particularidades do agro. Tipicamente os programas existentes também eram bastante restritos, pois limitavam os participantes a trocarem seus pontos apenas por produtos e serviços da mesma empresa com quem geraram o cashback.
Recentemente, surgiram no agro programas baseados em moedas de coalizão, que representam valor para múltiplas empresas. Normalmente com maior expertise no setor, estes programas são pensados para gerar o máximo de valor para os produtores participantes, e permitem que estes aproveitem suas moedas em vários parceiros, trocando-as por produtos e serviços focados no agro.
Dinheiro digital dentro e fora da porteira
Independentemente do programa, todos têm dinâmica parecida: produtos e serviços geram moedas (ou pontuações e premiações) para os participantes. Seja para o produtor comprador, que pode ganhar um cashback, ou para o vendedor, que pode receber uma bonificação em moeda digital pela venda de determinado produto.
Esta dinâmica facilita a geração e troca dados, traz para as empresas envolvidas históricos dos produtos comprados, condições comerciais das transações e o perfil dos participantes. E isso é só a ponta do iceberg.
Se forem bem trabalhados, estes dados viram informação que abastece os motores dos times de marketing e inteligência de mercado, que por sua vez direcionam as próximas ações comerciais de forma mais embasada e assertiva. Tanto a indústria quanto a distribuição passam a entender melhor o potencial do mercado, segmentação dos clientes e tendências.
Em um setor em que um dos maiores desafios é exatamente em conectar toda a jornada do negócio, o dinheiro digital utilizado nos programas de incentivo e relacionamento não só aproxima os elos da cadeia e aumenta a eficiência e transparência na troca informações, mas favorece a criação de ofertas de valor crescente para os produtores, resultando em um ciclo virtuoso.
*André Coutinho é diretor comercial da Seedz, a moeda do agro.
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