Na agenda evolutiva dos meios de pagamentos, o Pix, as moedas digitais e a tokenização devem ser complementares, gerando benefícios tanto para empresas quanto para consumidores. Com o compartilhamento de dados no âmbito do Open Finance, as fintechs e instituições financeiras de maneira geral podem potencializar essa tendência.
O diagnóstico foi apresentado por especialistas e executivos durante painel no Payment View, evento que debate o impacto das novas tecnologias no segmento, com o apoio do Finsiders. A mediação foi do editor-chefe do portal, o jornalista Danylo Martins.
Para Carlos Eduardo Brandt, chefe da Gerência de Gestão e Operação do Pix do Banco Central (BC), o Pix já oferece diversas funcionalidades, mas ainda há o que ser explorado no meio instantâneo de pagamentos nas transações entre empresas.
“A gente tem a vontade de fazer muito no ecossistema, mas existe uma trilha de evolução muito baseada em blocos. Você teve a primeira parte do bloco com a inclusão de pessoas, possibilitando todos os pagamentos e os aplicativos prontos. O segundo bloco é o B2B. Está dentro do nosso radar e vemos grande valor nisso”, diz ele.
Consolidação dos meios de pagamentos
Considerado o ‘pai do Pix’, o executivo do BC diz que o meio instantâneo e o real digital se complementam. “O BC não está fazendo algo para se sobrepor ao que ele mesmo fez. Existe a visão de que em determinados casos, principalmente em soluções de serviços financeiros, o real digital vai ocupar o espaço para esses produtos”, afirma.
Na opinião de Carlos Benitez, CEO da BMP, havia uma expectativa de adesão rápida do Pix, diferentemente do Open Finance. Quase três anos desde o lançamento, o Pix conta com mais de 153 milhões de usuários. Já o Open Finance, que chegou ao mercado em fevereiro de 2021, superou recentemente 30 milhões de consentimentos.
Ele entende que as diferentes ‘features’ colocadas à disposição pelas empresas do segmento financeiro, a exemplo de milhas, cashback, conta digital e investimentos, representam um ‘arcabouço de relacionamento’ com o consumidor. “Com as criptomoedas e, possivelmente, o real digital, possivelmente haverá uma consolidação desses modelos”, diz.
Real digital e educação financeira
No âmbito do real digital, cujo piloto acaba de ser iniciado, Pedro Begotti, chief innovation officer (CIO) do Banco ABC Brasil, acredita que, ao contrário do Pix, o consumidor comum não precisa, necessariamente, entender os detalhes do funcionamento.
“Não precisamos fazer um esforço tão grande para dizer que o real digital precisa chegar na casa das pessoas. Talvez elas nem precisem saber o que é o real digital. Desde que a solução chegue no aplicativo que elas estão utilizando”, afirma Pedro.
Para Carlos Brandt, do BC, há de fato um desafio colocado, do ponto de vista da educação financeira, para que o real digital possa avançar. Ele explica que, quando o Pix foi estruturado, as equipes do órgão regulador se dividiram em diferentes frentes de trabalho.
“A dificuldade não era a especificação técnica ou o QR Code, mas em como trabalhar a comunicação”, afirma. “Você precisa incluir as pessoas e a gente sabe que esse processo inicial vai gerar fricção. Mas não dá para esperar 5 anos educando o usuário, para depois fazer a implementação. As pessoas precisam experimentar e, aí sim, se deparar com as dificuldades.”
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